Arte brasileira

Lisson Gallery anuncia representação de Dalton Paula

A Lisson Gallery acaba de anunciar a representação do artista, pesquisador e educador brasileiro Dalton Paula (n. 1982). Conhecido por seu envolvimento profundo com as tradições afro-brasileiras, Paula dá protagonismo a figuras negras invisibilizadas, cujas contribuições à sociedade foram ignoradas. Por meio de sua prática em pintura, fotografia, vídeo, performance e instalação, ele ajuda a preservar e dar continuidade a corpos de saber e comunidades ocultadas ou esquecidas pelas historiografias oficiais. O artista apresentará um novo conjunto de obras em sua exposição inaugural na Lisson Gallery, com abertura marcada para setembro de 2025, em Nova York.

Lisson GalleryLisson Gallery
Obras de Dalton Paula

Essa expansão se dá em continuidade a relações fundamentais em sua trajetória, como a parceria de longa data com a Martins&Montero, galeria que representa o artista desde sua fundação, em 2014 como Sé Galeria em São Paulo, e o vínculo com a Cerrado Galeria de Arte, cuja presença em Goiânia e Brasília reforça os laços entre a prática de Dalton e os territórios que a atravessam. Juntas, essas colaborações desenham uma rede de cuidado e atenção que sustenta e potencializa a circulação do trabalho, sem dissociá-lo das origens e experiências que o constituem.

Obra de Dalton Paula

Assim como as personagens negras que retrata foram apagadas das narrativas e registros oficiais por suas ações de resistência à escravidão e outras formas de injustiça, Paula utiliza a pintura, junto a símbolos e tradições da fotografia de estúdio, para as incluir junto a historiografia oficial. Por meio de minuciosa pesquisa em arquivos e, quando necessário, com o auxílio da “fabulação crítica”, o artista busca restaurar vozes silenciadas e reinseri-las em seu devido lugar. Com frequência, confere a essas figuras vestimentas e reverência normalmente reservada a personagens de nobreza. Paula aplica cuidadosamente folhas de ouro nas cabeças de suas personagens, em alusão a importância do Ori — a cabeça física e espiritual nas religiões afro-brasileiras. Para o artista, pintar é um ato de reparação — uma forma de moldar como as futuras gerações compreenderão a história.

Paula também produziu vastas instalações e séries em cerâmica e tecido sobre os rastros deixados pelo trabalho humano nas explorações de tabaco, ouro e algodão no Brasil e no Sul Global. O artista traçou as rotas comerciais coloniais viajando por cidades-chave onde essas indústrias se estabeleceram durante o período colonial, recriando os caminhos então percorridos por essas mercadorias. Sua obra, ancorada em perspectivas pós-coloniais e entrelaçada a referências religiosas, saberes tradicionais e pesquisas históricas, continua a construir um discurso contemporâneo delicado sobre identidade, reparação histórica e justiça social.

Obra de Dalton Paula

Como evidência de sua prática transformadora, Paula fundou o Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes em 2020, um centro de transmissão de saberes localizado em Goiânia, Brasil. Este espaço bioconstruído funciona como escola de arte, residência, ateliê, jardim e cozinha, distribuídos em um complexo de 7.000 metros quadrados. São oferecidas aulas, oficinas, grupos de estudo e exibições de filmes que exploram a criatividade e o potencial do cerrado, o ecossistema que o cerca. Mais recentemente, Paula lançou o Jatobá Nascente, uma extensão autônoma do Sertão Negro. A iniciativa oferece a seis jovens artistas espaço compartilhado de ateliê e terrenos individuais para construírem suas casas. Inspirado nos modos de vida de quilombos e terreiros, Paula imagina uma comunidade negra em que arte, natureza e vida cotidiana possam coexistir.

Paula recebeu amplo reconhecimento, incluindo o Chanel Next Prize (2024), a Soros Arts Fellowship da Open Society Foundations (2023) e o Prêmio Marcantonio Vilaça (2019). Entre suas exposições individuais recentes estão: Museu de Arte de São Paulo (MASP) e Pinacoteca de São Paulo (2022–23). Entre as principais coletivas destacam-se: “Foreigners Everywhere”, Bienal de Veneza, Itália (2024); “Histórias Afro-Atlânticas”, itinerante a partir do MASP e Instituto Tomie Ohtake, Brasil (2018), passando pelo Museum of Fine Arts, Houston; National Gallery of Art, Washington, DC; LACMA; e Dallas Museum of Art, EUA (2021–24); “Composições para Tempos Insurgentes”, MAM Rio de Janeiro, Brasil (2021–22); “Fabulações Críticas”, MoMA, Nova York (2021–23); “Songs for Sabotage”, Trienal do New Museum, Nova York (2018); “O Triângulo do Atlântico”, 11ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2018); “Incerteza Viva”, 32ª Bienal de São Paulo (2016).

Dalton Paula

“Esta nova parceria com a Lisson Gallery abre um terreno fértil para que o trabalho viaje — para cruzar fronteiras, falar outras línguas e encontrar novos olhares. A Lisson torna-se não apenas uma representante, mas um canal para as histórias que pinto — histórias de memória, cura, ausência e invenção.

Artista Dalton Paula

Minhas pinturas emergem do desejo de reinscrever o que foi deixado de fora, de imaginar o que poderia ter sido registrado de outro modo. São atos de fabulação crítica — pedem para ser vistas, publicadas e colocadas em diálogo com muitos. Vejo também este momento como essencial para o crescimento do Sertão Negro — uma parte essencial da minha prática. Com o apoio da Lisson, espero aprofundar suas raízes e expandir seus ecos.”

Alex Logsdail, CEO da Lisson Gallery

“Desde que vi o trabalho de Dalton pela primeira vez em São Paulo, há cerca de dez anos, fiquei cativado. Ele tem uma habilidade inata de capturar a alma de um sujeito com uma imediaticidade que te paralisa. Visitar o Sertão Negro — estúdio e escola de arte nos arredores de Goiânia — foi revelador, ao entender sua missão maior de oferecer uma plataforma educacional e comunitária para uma região historicamente carente desse tipo de recurso. É uma honra apresentar o trabalho de Dalton em Nova York neste setembro e ajudar a expandir sua visão.”

Sobre a Lisson Gallery

A Lisson Gallery é uma das mais influentes e longevas galerias de arte contemporânea internacional do mundo. Atualmente, apoia e promove o trabalho de mais de 70 artistas internacionais em seus espaços em Londres, Nova York, Los Angeles, Xangai e Pequim. Fundada em 1967 por Nicholas Logsdail, a galeria foi pioneira nas carreiras de artistas fundamentais do Minimalismo e da Arte Conceitual, como Art & Language, Carl Andre, Daniel Buren, Donald Judd, John Latham, Sol LeWitt, Richard Long e Robert Ryman. Ainda hoje trabalha com muitos desses artistas e outros de sua geração, como Carmen Herrera, Olga de Amaral, Hélio Oiticica e Lee Ufan. Em sua segunda década, apresentou ao público escultores britânicos como Tony Cragg, Richard Deacon, Anish Kapoor, Shirazeh Houshiary e Julian Opie. Desde 2000, a galeria passou a representar artistas de destaque internacional como Marina Abramović, Ai Weiwei, John Akomfrah, Liu Xiaodong, Otobong Nkanga, Pedro Reyes, Sean Scully, Hiroshi Sugimoto e Wael Shawky. Também contribuiu para a projeção internacional de uma nova geração de artistas, incluindo Dana Awartani, Cory Arcangel, Garrett Bradley, Ryan Gander, Josh Kline, Hugh Hayden, Haroon Mirza, Laure Prouvost e Cheyney Thompson.

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