Rosana Paulino apresenta um trabalho centrado em torno de questões sociais, étnicas e de gênero, concentrando-se em particular nas mulheres negras da sociedade brasileira e nos vários tipos de violência sofridos por esta população devido ao racismo e ao legado duradouro da escravatura. Paulino explora o impacto da memória nas construções psicossociais, introduzindo diferentes referências que intersectam a história pessoal da artista com a história fenomenológica do Brasil, tal como foi construída no passado e ainda persiste até hoje.
A pesquisa e a produção de Paulino são fundamentais para a arte brasileira, por sua prática de reconstrução de imagens, memórias, histórias e mitologias.
Nascida em 1967 em São Paulo, cidade onde vive e trabalha, Rosana é bacharel e doutora em Artes Plásticas pela ECA / USP, além de ter especialização em gravura pelo London Print Studio, de Londres. Representada pela Galeria Mendes Wood DM, a obra de Paulino está presente em importantes coleções institucionais brasileiras como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu AfroBrasil, além das internacionais University of New Mexico Art Museum, Museu de Artes de Buenos Aires, The Frank Museum of Art e Otterbein University.
Em 1994, a instalação “Parede da Memória” gerou visibilidade à artista. Uma grande composição formada por diversas fotos de seus familiares foram impressas sobre tecido, retocadas com aquarela, preenchidas de algodão e molduradas com bordado manual, remetendo aos patuás. A obra provoca reflexões sobre os rostos, identidades e histórias perdidas de tantas pessoas negras anônimas na sociedade.
Em 1997, a série “Bastidores” traz, novamente, impressões de rostos de pessoas negras aplicadas sobre bastidores, o suporte utilizado para a técnica de bordado, que por sua vez empresa sua função ao papel objetificado das mulheres negras na sociedade. Aqui, as linhas da costura aparecem não como um acabamento, mas sim como uma composição essencial da obra, que mostra os rostos das mulheres grosseiramente costurados em suas bocas, olhos e pescoços.
Em 2013, com a série “Assentamento” e em 2017 com “Atlântico Vermelho”, Rosana continua trazendo o corpo das mulheres negras, junto com outras cenas e elementos, para protagonizar a crítica à Diáspora Africana. A impressão de imagens sobre tecidos foram cortadas e costuradas – ou suturadas, como prefere a artista – de forma desencontrada, remetendo à forma como a identidade do povo negro foi desmontada durante os anos de escravidão.
Em 2018, as obras da série “Geometria à Brasileira”, questionam o olhar estrangeiro e científico dos viajantes que percorreram o Brasil durante o século XIX que excluem a sociedade brasileira e a escravidão. A artista aponta para um imaginário forjado de que vivemos numa democracia racial.
Ainda em 2018 a Pinacoteca do Estado de São Paulo realizou uma grande retrospectiva da artista, com curadoria de Valéria Piccoli e Pedro Nery. Foram mais de 130 obras produzidas entre 1993 e 2018. A mostra foi um sucesso e foi levada para o Museu de Arte do Rio no ano seguinte, atraindo grande público.
Em 2022, Rosana Paulino esteve entre os cinco artistas brasileiros a participar da 59ª Bienal de Veneza, com curadoria de Cecilia Alemani.
Também em 2022, Rosana Paulino recebeu o prêmio Konex Mercosur 2022 de Artes Visuais, concedidos às personalidades mais relevantes da região em atividade na última década. Os vencedores do Prêmio Konex Mercosur para as personalidades mais relevantes das Artes Visuais da região foram Alfredo Jaar (Chile), Rosana Paulino (Brasil) e Ana Tiscornia (Uruguai).
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