Arte Indígena

Jaider Esbell: biografia, principais obras e legado

Jaider Esbell (1979–2021) foi um artista, curador e escritor indígena do povo Makuxi, nascido em Normandia, no estado de Roraima. Reconhecido por seu papel fundamental na inserção da arte indígena no circuito contemporâneo brasileiro e internacional, Esbell se tornou um dos principais nomes da arte decolonial, desafiando as fronteiras entre arte contemporânea e tradição ancestral. Sua obra, profundamente conectada à cosmologia Makuxi, mescla pintura, performance, instalação e literatura, trazendo narrativas que questionam a colonialidade, o apagamento histórico e a relação entre humanidade e natureza.

Biografia e trajetória

Autodidata, Jaider Esbell iniciou sua carreira artística no início dos anos 2000, mas foi a partir de 2010 que ganhou maior visibilidade, com exposições e projetos que uniam arte e ativismo.

Jaider Esbell com Povo Macuxi. Foto: Wikipedia

Seu trabalho expressa o pensamento indígena como potência estética e política, promovendo o diálogo entre mundos e apontando para a necessidade de novas formas de coexistência. Além de artista, Esbell foi também articulador cultural, criando espaços e projetos para valorizar e dar visibilidade à produção artística indígena.

Principais obras

“A Guerra dos Kanaimés” (2016) – Série de pinturas e ilustrações inspiradas nos mitos Makuxi, em especial os Kanaimés, figuras protetoras e guerreiras do povo indígena.

“Makuxi – O tempo da terra” (2017) – Obra que integra pintura e narrativa sobre as cosmovisões indígenas, abordando o equilíbrio entre homem e natureza.

“Ruku” (2019) – Instalação que reflete sobre ancestralidade, território e espiritualidade, apresentada em exposições de arte indígena contemporânea.

Obras da série apresentada na 34ª Bienal de São Paulo (2021) – Pinturas monumentais e instalações que levaram a cosmologia Makuxi ao centro do debate da arte contemporânea.

Instalação “Entidades” 2021, por Jaider Esbell, na 34 Bienal de São Paulo. Foto: Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo

“Carta aos Terranos” (2020) – Performance e projeto multimídia que mistura manifesto político e reflexão estética sobre a relação entre humanidade e planeta.

Principais exposições e prêmios

Jaider Esbell participou de algumas das exposições mais importantes da arte contemporânea brasileira e internacional. Entre os destaques estão a 34ª Bienal de São Paulo (2021), onde teve papel de curador convidado e artista, ampliando a presença da arte indígena no evento, além de mostras no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Instituto Tomie Ohtake e Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). No cenário internacional, seu trabalho foi exibido em instituições e festivais na França, Alemanha e Canadá, ajudando a projetar a arte indígena em um contexto global.

Esbell também foi finalista do Prêmio PIPA em 2016 e 2018, um dos mais relevantes da arte contemporânea brasileira. Além disso, recebeu o Prêmio Funarte de Arte Negra (2013) e o Prêmio Ponto de Cultura (2012), reforçando seu papel como um dos principais nomes do movimento decolonial e da valorização da cosmologia indígena na arte.

Relevância e arte decolonial

A produção de Jaider Esbell é um marco no movimento decolonial dentro da arte brasileira. Ele questionava os paradigmas eurocêntricos que dominam o sistema de arte e valorizava a cosmologia e os saberes indígenas como formas de conhecimento e resistência. Esbell compreendia a arte como um campo expandido, em que espiritualidade, memória e território se entrelaçam. Sua obra não apenas confronta os efeitos do colonialismo, mas propõe alternativas estéticas e éticas para um mundo mais equilibrado.

Cenário internacional

A relevância de Esbell ultrapassou fronteiras, sendo reconhecida em instituições e exposições fora do Brasil. Seu trabalho ecoa temas universais, como a relação entre natureza e cultura, a preservação da memória coletiva e a luta por justiça histórica. Ao levar o pensamento indígena para circuitos globais, ele se tornou um dos principais porta-vozes da emergência das culturas originárias no campo da arte contemporânea.

Ascensão da arte indígena

Esbell acreditava na importância de colocar a arte indígena em diálogo com a produção contemporânea sem perder sua essência. Foi um dos principais articuladores da inserção de artistas indígenas em grandes exposições, contribuindo para um movimento que hoje ganha força no Brasil e no mundo. Sua atuação ajudou a consolidar um espaço de protagonismo para criadores indígenas, transformando a percepção sobre o lugar desses artistas na história da arte.

Legado, acervo e representação

O acervo de Jaider Esbell é atualmente representado pela Galeria Almeida & Dale, que cuida da difusão de suas obras no mercado de arte e em instituições culturais, atuando em estreita parceria com a família do artista. Além disso, a Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, criada pelo próprio artista em Boa Vista (Roraima), desempenha um papel fundamental na preservação e na valorização de sua trajetória, promovendo ações educativas, exposições e projetos voltados ao fortalecimento da arte indígena contemporânea. Juntas, essas instituições garantem a continuidade do pensamento e da produção artística de Esbell, reforçando sua relevância no cenário nacional e internacional.

Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, inaugurada em 2013 por Jaider Esbell, é um um espaço importante de articulação da cena cultural de Boa Vista, Roraima. Foto: Divulgação

Seu legado vai além de sua obra. Ele abriu caminhos para novas gerações de artistas indígenas e consolidou um debate sobre o lugar da ancestralidade na arte contemporânea. Faleceu em novembro de 2021, deixando uma produção intensa e profundamente ligada às lutas e saberes do seu povo

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Thais de Albuquerque

Thais de Albuquerque é Relações Públicas, artista visual e criadora de conteúdo. Atua há mais de 15 anos em marketing e criação de identidade visual para empresas, projetos e instituições. Em seu Instagram, desenvolve conteúdos autorais ligados a curiosidades sobre o mundo das artes.

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