Depois de Anselm Kiefer, Richard Serra, Christian Boltanski, Anish Kapoor, Daniel Buren e Ilya e Emilia Kabakov, Huang Yong Ping é o artista convidado à ocupar a nave central do Grand Palais, em Paris, na Monumenta desse ano. O evento foi iniciado em 2007 com o objetivo de apresentar o trabalho de um artista contemporâneo de renome mundial em grande escala. Eles dispõem de um espaço de 13.500 m2 e 35 metros de altura para criarem suas obras. A princípio pensada como uma manifestação anual, a Monumenta assume hoje um formato bienal por duas razões. Primeiramente por motivos financeiros e, em segundo lugar, para que a Bienal de arte contemporânea de Lyon, que acontece nos anos ímpares, dispusesse de toda a atenção, adquirindo desse modo um caráter nacional – explicou a ex-ministra da cultura Aurélie Filippetti. Huang Yong Ping teve, assim, dois anos para preparar o seu projeto entitulado Empires.
Huang Yong Ping
Foi na ocasião da exposição Magiciens de la terre (Magos da terra) em 1989, no Centre Pompidou, que o artista Huang Yong Ping (1954-) veio à Paris expor seu trabalho e decidiu deixar a China para instalar-se de vez na Europa. Dez anos mais tarde, ele dividia o pavilhão francês da 48a Bienal de Veneza com o artista Jean-Pierre Bertrand. Fundador do movimento “Xiamen dada”, Huang Yong Ping é uma figura maior da arte contemporânea chinesa. Em uma de suas obras mais emblemáticas, A Historia da pintura chinesa e a Historia da Arte Moderna ocidental lavadas na máquina durante dois minutos (1987), o artista colocou o livro de Wang Bomin (escrito em 1965 e publicado em 1982) e de Herbert Read (sua versão chinesa foi lançada em 1979) por dois minutos numa máquina de lavar e, em seguida, apresentou o resultado do processo sobre um vidro quebrado apoiado sobre uma caixa de madeira. Huang Yong Ping “lava” a historia da arte e torna o que eram duas culturas diferentes em uma massa de papel ilegível, nos impossibilitando de distinguir onde começa um livro e onde termina outro.
Empires
Fazendo eco a sua obra Serpent d’océan (Serpente do oceano) realizada em Saint-Brevin-les-Pins, para sua instalação Empires Huang Yong Ping constrói o esqueleto de uma serpente de 250 metros de comprimento, que percorre as oito montanhas levantadas por containers sobrepostos. Bem ao meio da obra, o artista suspendeu entre duas dessas ilhas de containers um bicórneo de grandes proporções. Pensada para ser uma obra espetacular e ao mesmo tempo acessível, cada elemento da instalação traz suas devidas referências- mesmo o artista afirmando a possibilidade de uma interpretação aberta que possa fugir da problemática proposta.
Com a serpente, Huang Yong Ping coloca em jogo imaginários da arte ocidental e da arte oriental dentro da mesma figura. Uma reflexão constante em seu trabalho é o diálogo e o conflito entre a cultura ocidental e a cultura oriental, tendo como intenção contestar uma certa ordem já estabelecida. Os containers coloridos e estampados com as marcas de diversas companhias funcionam como o sinônimo da mundialização e fazem também alusão a crise migratória. Como explica o curador da exposição, Jean de Loisy, os containers são « os mensageiros da fortuna e o refúgio dos infortunados ». Finalmente, o bicórneo, construído a partir do scan 3D do chapéu que Napoleão Bonaparte vestiu na batalha de Eylau, e considerado por muitos como um elemento desnecessário a instalação, é colocado aqui como um símbolo de guerra e como a vontade de alguns de construir seu próprio império. Em Empires, Huang Yong Ping cria uma paisagem simbólica do nosso atual contexto econômico e coloca a mundialização no centro da discussão, como um possível novo império – único e singular.
Programação paralela
No dia 19 de maio a programação da Monumenta previa a apresentação de um parcours acrobático feito pelos aprendizes yamakasis e acrobatas da Academia Fratellini (uma reputada escola de circo inaugurada em 2003 e dedicada a criação, formação e produção de espetáculos na área). Segundo a descrição do programa, os aprendizes iriam se « deslocar » entre os containers da instalação e andar sobre os « picos dos impérios das sociedades moderna ». Organizar uma programação paralela e em relação a uma exposição com o intuito de ampliar o potencial do que esta sendo exposto ao criar um novo diálogo é uma prática comum de muitas instituições, e que deve ser incentivada. Contudo, a prestação dos acrobatas da Academia Fratellini parecia não se integrar, desafiar « sem medo e sem asas » e nem se impor a instalação de Huang Yong Ping. Se tratando de uma « obra de arte », os aprendizes talvez não estivessem no ambiente mais propício à suas práticas. Além disso, o som produzido pelas suas mãos batendo contra os containers e ressonando no espaço expositivo, e o contraste entre seus corpos e os containers tornaram as acrobacias quase que desnecessárias.
Além de uma mesa redonda, uma conversa com críticos e curadores e um concerto de encerramento, dia 9 de junho é a vez das Performances dansées (Performances dançadas) ocuparem Empires. A apresentação faz parte do projeto Dancing Museums, patrocinado pela União Européia, e que une de 2015 a 2017 oito museus e cinco organizações de danças da Europa com o objetivo de desenvolver novos métodos de aproximação entre o público e a arte. Quem sabe dessa vez não seja só os artistas que vejam Empires através de uma outra perspectiva.
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