Categories: crimeCuriosidades

Picasso, Monet e Dali na Polícia Federal

Não, esse não é mais um texto sobre liberdade de expressão, mas trata de crimes com obras de arte.

Além das elevadas cifras apreendidas e das emblemáticas figuras públicas presas pela polícia federal, outro aspecto tem chamado a atenção nestes trabalhos policiais: são as obras de arte de alto valor que estão sendo localizadas nas empresas e residências de vários investigados. Apenas a título de exemplo, desde a 10ª fase da Operação Lava Jato, que ocorreu por volta de 2015 e recebeu o título de “Que país é esse?”, até o ano de 2017, já foram apreendidas aproximadamente 300 obras de arte utilizadas para lavar dinheiro proveniente de corrupção.

A lavagem de dinheiro, é apenas uma das modalidades criminosas que envolvem obras de arte. O roubo, a falsificação, o tráfico e até o sequestro são outras possibilidades nessa área. Apesar do tema só ter alcançado maior destaque recentemente, desde o ano de 2003 a Polícia Federal já atua no combate a crimes contra o patrimônio cultural por meio de unidades especializadas.

Nesse sentido é que a Polícia Federal estruturou uma Divisão de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, com sede em Brasília e atribuições de coordenação, ensino e difusão de técnicas de investigação para as 27 unidades regionais localizadas nas capitais dos estados, denominadas de Delegacias de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico. Essas unidades especializadas em investigações contra o patrimônio histórico e artístico nacional são formadas por equipes policiais com treinamento específico e continuado, a exemplo do que ocorre em diversos corporações policiais da Europa e Estados Unidos, no combate, entre outros, ao roubo de manuscritos raros de bibliotecas públicas, ao comércio ilícito de fósseis ou à exportação ilegal de imagens barrocas.

Além de agir em todo território nacional, a Polícia Federal tem alcançado também  internacionalmente.  Ações vêm sendo desenvolvidas em conjunto com a importante unidade de crimes contra obras de arte da Interpol, sediada em Lyon, França. Desde 1947, a INTERPOL desenvolve esforços consideráveis ​​para combater o tráfico de bens culturais em parceria com a UNESCO, a Organização Mundial de Alfândegas (OMA), o Escritório das Nações Unidas para o Crime e a Droga (UNODC) e o Conselho Internacional de Museus (ICOM). Há alguns anos, uma ação conjunta da Polícia Federal e da INTERPOL resultou na prisão de um cidadão francês, conhecido como um dos maiores estelionatários do mercado de arte mundial por ter aplicado golpes contra instituições financeiras norte-americanas mediante a obtenção de empréstimos bancários com obras de arte consignadas junto a afamadas galerias. Após o desfalque, o francês veio para o Brasil e aqui permaneceu escondido até ser preso pela Polícia Federal em trabalho conjunto com a Interpol. A prisão do francês, e a restituição das obras de arte com ele apreendidas, marcou o primeiro encontro de Picasso, Monet e Dalí com a Polícia Federal e a Interpol. O segundo ocorreu em 2006 quando uma quadrilha invadiu o Museu Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, e, após render um grupo de visitantes e uns poucos seguranças, roubou obras de Picasso, Monet e Dalí. Mais uma vez a Polícia Federal e Interpol foram acionadas.

Há algumas semanas, em Brasília, um evento promovido pela Polícia Federal, Ministério da Cultura, Itamaraty e Interpol voltou a discutir a importância da cooperação internacional para a proteção do nosso patrimônio cultural e a importância do Brasil para a repressão àqueles ilícitos na América do Sul. Nas conclusões da conferência, autoridades públicas nacionais e estrangeiras ressaltaram, mais uma vez, a indispensável necessidade de formação de redes institucionais para que o combate aos crimes contra o patrimônio cultural. Num mundo cada vez mais interconectado, autoridades policiais e culturais, além de mercado e sociedade civil concordaram que:

  1. a construção de uma base de dados de bens roubados,
  2. o fortalecimento de uma unidade policial especializada são providências fundamentais para aperfeiçoar a proteção de nosso patrimônio cultural.

TEXTO:

Marcílio Franca é doutor em Direito pela Universidade de Coimbra, com pós-doutorado no Instituto Universitário Europeu de Florença (Itália), e é coautor do livro “Direito da Arte” (Ed. Atlas).

Carlos André Gastão de Araujo é Delegado de Polícia Federal da divisão de repressão a crimes contra meio ambiente e patrimônio histórico e especialista em ciências criminais.

Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi bem sucedida.
Equipe Editorial

Os artigos assinados pela equipe editorial representam um conjunto de colaboradores que vão desde os editores da revista até os assessores de imprensa que sugeriram as pautas.

Recent Posts

12 curiosidades sobre Alfredo Volpi que vão ajudá-lo a entender o artista

Alfredo Volpi nasceu em Lucca na Itália 1896. Ele se mudou com os pais para…

1 hora ago

Curiosidades sobre Anita Malfatti e a Semana de Arte Moderna

Anita Malfatti nasceu filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti e de mãe norte-americana Eleonora Elizabeth "Betty" Krug, Anita…

1 hora ago

Rosana Paulino: biografia e trajetória

Rosana Paulino apresenta um trabalho centrado em torno de questões sociais, étnicas e de gênero,…

3 dias ago

O belo depois do moderno

Na arte, o belo é um saber inventado pelo artista para se defrontar com o…

3 dias ago

SPPARIS celebra 3 anos de moda e ativismo na Galeria Alma da Rua II

SPPARIS, grife de moda coletiva fundada pelo artista Nobru CZ e pela terapeuta ocupacional Dani…

3 dias ago

Galeria Andrea Rehder comemora 15 anos com exposição inédita de César Oiticica Filho

A galeria Andrea Rehder Arte Contemporânea - que completa 15 anos - apresentará, entre os…

3 dias ago