Curiosidades

Os 10 Maiores Escândalos do Mundo da Arte


Neste artigo, reunimos os 10 maiores escândalos da história recente da arte — casos que abalaram museus, colecionadores, artistas e o próprio mercado. De fraudes milionárias a disputas de propriedade, passando por falsificações, abusos de poder e controvérsias sobre autoria, cada episódio expõe os bastidores complexos de um sistema muitas vezes envolto em glamour, mas permeado por conflitos silenciosos.

1. A Polêmica Autenticidade do Salvator Mundi

Em 2017, o mundo da arte foi abalado pela venda do Salvator Mundi, uma pintura atribuída a Leonardo da Vinci, que alcançou a cifra recorde de US$ 450,3 milhões em um leilão da Christie’s em Nova York. A obra, retratando Cristo como Salvador do Mundo, havia sido redescoberta em 2005, muito danificada, e passou por uma extensa restauração. Inicialmente vendida por apenas US$ 1.175, ela foi atribuída a Leonardo da Vinci em 2011 por um grupo de especialistas, o que impulsionou seu valor e importância. A obra acabou sendo comprada, segundo se descobriu depois, pelo príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, por meio de intermediários.

No entanto, desde então, o Salvator Mundi tem sido alvo de intensos debates. Alguns estudiosos renomados, incluindo especialistas do Louvre, expressaram dúvidas sobre a autenticidade total da obra como uma criação de Leonardo. Há indícios de que pode ter sido feita em parte ou inteiramente por seus assistentes. Além disso, a pintura desapareceu da vista pública após a venda e nunca foi exibida no Louvre em sua grande retrospectiva sobre Leonardo em 2019, o que só aumentou as suspeitas. A história do Salvator Mundi é hoje vista como um símbolo do colapso entre o valor artístico e o valor de mercado.

2. O Escândalo da Galeria Knoedler

A Galeria Knoedler, fundada em 1846 em Nova York, era uma das mais prestigiadas instituições de arte dos Estados Unidos — até seu colapso repentino em 2011, envolvida em um dos maiores escândalos de falsificação do mercado de arte contemporâneo. Durante quase duas décadas, a galeria vendeu mais de 60 obras supostamente de artistas como Mark Rothko, Jackson Pollock, Robert Motherwell e outros nomes do expressionismo abstrato, movimentando cerca de US$ 80 milhões. As obras foram adquiridas de uma única fornecedora, Glafira Rosales, que alegava representar um misterioso colecionador mexicano. Nenhuma dessas obras possuía procedência documentada confiável.

Investigações posteriores revelaram que as pinturas eram na verdade falsificações produzidas por um artista chinês em um pequeno estúdio no Queens, Nova York. Glafira Rosales acabou sendo presa e condenada, mas o escândalo abalou profundamente a credibilidade do sistema de validação do mercado de arte. Diversos colecionadores, incluindo figuras importantes do mercado e museus, moveram processos contra a galeria e sua ex-diretora, Ann Freedman, por negligência e fraude. Embora Freedman tenha negado saber que as obras eram falsas, sua conduta ao ignorar sinais claros de alerta foi amplamente criticada. Este caso marcou uma virada nas exigências de due diligence na compra de obras de arte.

Glafira Rosales

3. A Controvérsia dos Mármores de Elgin

Os Mármores de Elgin, também conhecidos como Esculturas do Partenon, são um conjunto de esculturas gregas antigas removidas do Partenon e de outras estruturas da Acrópole de Atenas no início do século XIX por Thomas Bruce, o 7º Conde de Elgin. Na época, a Grécia estava sob domínio do Império Otomano, e Elgin alegou ter obtido permissão das autoridades otomanas para extrair as peças. No entanto, a legalidade dessa remoção tem sido amplamente contestada. Documentos originais que comprovariam a autorização, conhecidos como “firman”, não foram encontrados nos arquivos otomanos, e apenas uma cópia em italiano sem o selo do sultão foi apresentada. 

Elgin marbles

Desde então, os mármores estão em exibição no Museu Britânico, em Londres, o que tem gerado uma disputa diplomática de longa data entre o Reino Unido e a Grécia. O governo grego tem solicitado repetidamente a devolução das esculturas, argumentando que elas foram retiradas ilegalmente e que sua presença fora de contexto cultural em Londres compromete sua integridade histórica. Em contrapartida, o Museu Britânico e o governo britânico sustentam que as esculturas foram adquiridas legalmente e que sua exibição em Londres permite que um público mais amplo aprecie essas obras-primas da antiguidade. Recentemente, surgiram discussões sobre a possibilidade de um acordo de empréstimo das esculturas para a Grécia, mas o governo grego rejeita essa ideia, pois implicaria o reconhecimento da propriedade britânica sobre os mármores. 

4. Os Roubos de O Grito de Munch

A icônica pintura O Grito, de Edvard Munch, foi alvo de dois roubos notórios na Noruega.

Roubo de 1994:

Em 12 de fevereiro de 1994, coincidentemente no dia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Lillehammer, dois ladrões invadiram a Galeria Nacional de Oslo e roubaram a versão de 1893 de O Grito. A ação foi rápida, durando apenas 50 segundos. Os criminosos deixaram um bilhete sarcástico: “Obrigado pela péssima segurança”. Após uma investigação que contou com a colaboração da polícia britânica e do Getty Museum, a pintura foi recuperada em maio do mesmo ano. Quatro homens foram condenados pelo roubo, incluindo Pål Enger, um ex-jogador de futebol e notório ladrão de arte norueguês. 

Pal Enger

Roubo de 2004:

Em 22 de agosto de 2004, uma versão de 1910 de O Grito e a pintura Madonna, também de Munch, foram roubadas do Museu Munch em Oslo por dois homens armados e mascarados durante o horário de funcionamento. O roubo ocorreu à luz do dia, diante de visitantes e funcionários atônitos. Os ladrões foram fotografados por um transeunte enquanto fugiam. As obras foram recuperadas em agosto de 2006, após uma operação policial. Ambas as pinturas sofreram danos, especialmente O Grito, que apresentou deterioração devido à umidade. Apesar dos esforços de restauração, algumas marcas permanecem visíveis. 

Esses incidentes destacam a vulnerabilidade de obras de arte mesmo em instituições renomadas e reforçam a necessidade de medidas de segurança mais rigorosas.

5. A Morte de Ana Mendieta

Ana Mendieta, artista cubano-americana conhecida por seu trabalho inovador em land art e performance, morreu tragicamente em 8 de setembro de 1985, aos 36 anos, após cair do 34º andar de seu apartamento em Greenwich Village, Nova York. Na época, ela era casada há oito meses com o escultor minimalista Carl Andre. Testemunhas relataram ter ouvido uma discussão acalorada entre o casal pouco antes da queda, e vizinhos afirmaram ter escutado Mendieta gritar “não” antes de sua morte. Andre foi encontrado com arranhões no rosto e nos braços, e em sua ligação para o serviço de emergência, declarou que haviam tido uma discussão sobre suas respectivas carreiras artísticas. Ele afirmou que Mendieta se jogou pela janela, mas não havia testemunhas oculares para confirmar essa versão. 

Fotografias de Ana Mendieta são exibidas na Galleria Nazionale D’Arte Moderna durante a abertura da exposição “Donna”, em 18 de fevereiro de 2010, em Roma, Itália. Por Franco Origlia/Getty Images.

Em 1988, após um julgamento sem júri, Andre foi absolvido da acusação de homicídio em segundo grau, com o juiz citando falta de provas conclusivas. A decisão gerou indignação na comunidade artística, especialmente entre feministas, que questionaram o tratamento do caso e a ausência de justiça para Mendieta. Desde então, protestos têm ocorrido em exposições de Andre, com manifestantes questionando a celebração de sua obra diante das circunstâncias não esclarecidas da morte de Mendieta. O caso continua sendo um ponto de discussão sobre violência doméstica e a separação entre a arte e o artista.

Carl Andre

6. A Fraude de Inigo Philbrick

Inigo Philbrick, um jovem e promissor negociante de arte, tornou-se protagonista de um dos maiores escândalos do mercado de arte contemporânea. Entre 2016 e 2019, Philbrick operou um esquema fraudulento estimado em US$ 86 milhões, vendendo múltiplas participações na mesma obra de arte para diferentes investidores, totalizando mais de 100% de propriedade em alguns casos. Além disso, utilizava obras como garantia para empréstimos sem o conhecimento dos co-proprietários e falsificava documentos para inflar os valores das peças. Suas práticas enganosas foram facilitadas pela falta de transparência e regulamentação no mercado de arte, onde transações multimilionárias frequentemente ocorrem com pouca supervisão. 

Inigo Philbrick

Em 2019, diante de processos judiciais e dívidas crescentes, Philbrick fugiu dos Estados Unidos, passando por países como Austrália e Japão, até se estabelecer em Vanuatu, no Pacífico Sul. Em junho de 2020, foi preso pelas autoridades locais a pedido do FBI e extraditado para os EUA. Em novembro de 2021, declarou-se culpado de fraude eletrônica e, em maio de 2022, foi condenado a sete anos de prisão, além de dois anos de liberdade supervisionada e a restituição de US$ 86 milhões. Após cumprir parte da pena, foi libertado em 2024 e atualmente cumpre prisão domiciliar. Sua história está sendo adaptada para uma série da HBO, baseada no livro “All That Glitters”, escrito por seu ex-amigo e sócio Orlando Whitfield. 

7. A Prisão de Ai Weiwei

Em 3 de abril de 2011, o renomado artista e ativista chinês Ai Weiwei foi detido pelas autoridades chinesas no Aeroporto Internacional de Pequim enquanto se preparava para embarcar em um voo para Hong Kong. Simultaneamente, seu estúdio foi invadido por cerca de 50 policiais, que confiscaram computadores, discos rígidos e documentos. Além de Ai, sua esposa, Lu Qing, e vários membros de sua equipe também foram detidos. Inicialmente, as autoridades alegaram que Ai estava sob investigação por “crimes econômicos”, especificamente evasão fiscal relacionada à sua empresa, a Beijing Fake Cultural Development Ltd. 

Durante 81 dias, Ai Weiwei permaneceu detido em local desconhecido, sem acesso a advogados ou contato com sua família. Relatos indicam que ele foi mantido em confinamento solitário, sob constante vigilância, o que lhe causou considerável sofrimento psicológico. Em 22 de junho de 2011, Ai foi libertado sob fiança, com a condição de não deixar Pequim por um ano. Posteriormente, em novembro, as autoridades chinesas emitiram uma multa de 15 milhões de yuans (aproximadamente US$ 2,4 milhões) por suposta evasão fiscal. Ai negou as acusações e afirmou que sua detenção foi motivada por suas críticas ao governo chinês. 

ai weiwei

A prisão de Ai Weiwei gerou ampla condenação internacional, com organizações de direitos humanos e instituições artísticas exigindo sua libertação. O caso destacou as restrições à liberdade de expressão na China e a repressão a dissidentes políticos. Apesar das adversidades, Ai continuou sua produção artística e ativismo, tornando-se um símbolo global da luta pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos.

8. A Controvérsia de Direitos Autorais de Richard Prince

O artista americano Richard Prince, conhecido por sua abordagem de apropriação na arte, esteve no centro de uma polêmica significativa envolvendo direitos autorais. Em sua série “New Portraits”, exibida em 2014 na Gagosian Gallery, Prince utilizou capturas de tela de postagens do Instagram de diversos usuários, incluindo celebridades e pessoas comuns, adicionando comentários próprios e imprimindo-as em grandes telas. Essas obras foram vendidas por valores que chegavam a US$ 100.000 cada.

Dois fotógrafos, Donald Graham e Eric McNatt, processaram Prince por violação de direitos autorais, alegando que suas fotografias foram usadas sem permissão. Graham argumentou que sua imagem “Rastafarian Smoking a Joint” foi reproduzida sem autorização, enquanto McNatt afirmou que seu retrato da musicista Kim Gordon foi utilizado indevidamente. Em janeiro de 2024, um juiz federal determinou que Prince e as galerias envolvidas deveriam pagar mais de US$ 650.000 em indenizações aos fotógrafos, destacando que o uso das imagens não se qualificava como “uso justo” sob a lei de direitos autorais dos EUA .

Richard Prince

Este caso reacendeu debates sobre os limites entre apropriação artística e violação de direitos autorais, especialmente na era digital, onde a disseminação de imagens é rápida e ampla. Enquanto alguns defendem a prática de Prince como uma forma legítima de expressão artística, outros veem como uma exploração injusta do trabalho de outros criadores.

9. A Epidemia de Falsificações de Modigliani

Amedeo Modigliani, renomado artista italiano do início do século XX, é amplamente reconhecido por seus retratos de pescoços alongados e expressões melancólicas. Infelizmente, essa singularidade também o tornou um dos artistas mais frequentemente falsificados no mundo da arte. A combinação de sua morte prematura, a escassez de obras autênticas e os altos valores alcançados em leilões criaram um ambiente propício para a proliferação de falsificações. Estima-se que uma parte significativa das obras atribuídas a Modigliani sejam, na verdade, falsificações. O caso mais emblemático ocorreu em 2017, durante uma exposição no Palazzo Ducale em Gênova, Itália, onde 20 das 21 pinturas exibidas foram identificadas como falsas por especialistas. 

Esta pintura, supostamente de Amedeo Modigliani, foi apreendida na exposição em Gênova e comprovadamente falsa. Cortesia do Palazzo Ducale de Gênova.

A descoberta dessas falsificações gerou grande indignação no público e na comunidade artística. A exposição, que atraiu mais de 100.000 visitantes, foi encerrada três dias antes do previsto. As investigações revelaram que os organizadores da mostra, incluindo o curador Rudy Chiappini e o marchand Joseph Guttmann, estavam sob suspeita de envolvimento na exibição das obras falsas. Além disso, a falta de um catálogo raisonné definitivo e confiável das obras de Modigliani dificulta a autenticação e contribui para a disseminação de falsificações. Este escândalo destacou a necessidade urgente de maior rigor na verificação da autenticidade de obras de arte e reforçou os desafios enfrentados por museus, colecionadores e especialistas na preservação da integridade do legado artístico de Modigliani. 

O major Antonio Coppola posa para uma sessão de retratos no Departamento de Proteção do Patrimônio Cultural dos Carabinieri, em Trastevere. Ao fundo, dois bustos falsos de Modigliani e a pintura falsa “Mulher de Olhos Azuis”, em 31 de maio de 2013, em Roma, Itália. O Comando Carabinieri per la Tutela del Patrimonio Culturale, mais conhecido como Esquadrão de Arte Carabinieri, é o braço dos Carabinieri italianos responsável pelo combate a crimes contra a arte e as antiguidades. (Foto de Franco Origlia/Getty Images)

10. O Movimento #MeToo no Mundo da Arte

O movimento #MeToo, que ganhou força em 2017 ao expor casos de assédio e abuso sexual em diversas indústrias, também teve um impacto significativo no mundo da arte. Diversos artistas, curadores e instituições foram confrontados com alegações de má conduta, levando a uma reavaliação das dinâmicas de poder e da cultura de silêncio que permeava o setor.

Um caso emblemático é o do artista Chuck Close, conhecido por seus retratos hiper-realistas. Em 2017, várias mulheres o acusaram de comportamento inapropriado durante sessões de fotografia. As alegações levaram ao cancelamento de exposições e à remoção de suas obras de algumas instituições. Close faleceu em 2021, e seu legado continua sendo objeto de debate.

Chuck Close

Outro exemplo é o de Jens Hoffmann, curador de renome internacional, que foi suspenso de suas funções no Jewish Museum em Nova York após múltiplas acusações de assédio sexual por membros da equipe. As alegações resultaram em sua demissão e no encerramento de parcerias com outras instituições culturais.

Jens Hoffmann

Além disso, o movimento #MeToo levou a uma reflexão mais ampla sobre a separação entre a obra e o artista. Museus e galerias passaram a reconsiderar a exibição de obras de artistas acusados de má conduta, questionando se é possível apreciar a arte independentemente do comportamento de seu criador.

Esses casos evidenciam a necessidade de mudanças estruturais no mundo da arte, promovendo ambientes mais seguros e inclusivos para todos os envolvidos.

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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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