O legado de Jean-Michel Basquiat é definido tanto pela tragédia do gênio condenado quanto pelo seu trabalho. As pinturas e desenhos icônicos do artista haitiano-americano formaram uma parte importante da explosão artística da cidade de Nova Iorque no início dos anos 80. Lançaram-no para um mundo de fama e celebridade, de amizade com Debbie Harry, Andy Warhol, Madonna e David Bowie. Mas que vieram a um grande custo. Em 12 de agosto de 1988, com apenas 27 anos, ele foi encontrado morto em seu apartamento em Manhattan, depois de perder sua luta com o vício da heroína.
Notório e totalmente bruto, ele não fazia nenhuma tentativa de pintar “corretamente”, sabendo que, se fizesse isso, a demonstração da técnica criaria uma barreira à pura comunicação de seus pensamentos e sentimentos.
No início dos anos 80 Basquiat estava ganhando uma reputação significativa por suas pinturas. Eram uma mistura de palavras, figuras de desenho animado grosseiramente desenhadas e pinturas com tinta colorida. Foi bastante radical, pois na época a arte havia desaparecido por um beco intelectual sem saída, onde esculturas abstratas e minimalistas, desprovidas de humanidade, estavam muito em alta.
Referências à cultura popular e à cultura de rua transboradam em seu trabalho. A televisão, o hip hop e os gráficos rudimentares dos primeiros jogos de arcade, todos o inspiraram, e suas pinturas contêm vários símbolos, bem como uma coroa onipresente.
Suas pinturas – que muitas vezes defendiam os heróis negros – eram altamente carregadas e politizadas. Lamentava o fato de que, como negro, não conseguia nem mesmo pegar um táxi em Manhattan – e nunca foi tímido em comentar de forma explícita e incisiva sobre o violento racismo nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, frequentemente aludia à “alta arte”, que estava presente nos trabalhos de seus heróis modernistas Picasso, Pollock e Cy Twombly, Leonardo.
Mary Boone, cuja proeminente galeria no SoHo representou Basquiat por quatro anos, tem outra visão. Ela o chamava de um artista talentoso mas errático, muitas vezes distraído pelo glamour do mundo da arte, que se apoderou de seu trabalho no início dos anos 80. “Ele estava muito interessado no que as pessoas diziam sobre ele. Se o seu objetivo é fazer grandes pinturas, então você escuta uma voz interna, para si mesmo.” Ela disse que Basquiat “não conseguiu manter seu próprio centro”.
“A coleção de arte se tornou moda”, disse ela. “A arte se tornou especulativa. A coleção se tornou especulativa. E muitas das pessoas que se envolveram foram para fazer dinheiro.” Este é o clima em que Jean Michel foi introduzido na cena artística.
O artista pegou o hábito do uso de heroína nos anos 80, e aumentou seu uso depois que se tornou rico. Mary Boone disse que o uso de drogas o tornou um artista inconsistente e às vezes praticamente incapaz de trabalhar. Vários amigos e colegas de trabalho disseram que tanto concessionários como colecionadores particulares ofereciam drogas ao artista em troca de seu trabalho.
Mas então o pintor encontrou breve refúgio das pressões externas e de seu hábito com droga quando Warhol o adotou como amigo e protegido. Por um tempo os dois eram companheiros constantes, pintando juntos durante o dia e fazendo turnês em clubes de festas durante à noite. Apenas um amigo – Andy Warhol, o ídolo de Basquiat – parecia ter tido alguma influência. Warhol era como uma rédea para ele. O artista dissuadiu Basquiat de usar heroína e, com a morte de Warhol, essa rédea sobre o comportamento mercurial e o apetite por narcóticos de Basquiat foi removida.
Larry Gagosian, um negociante de Los Angeles que vendeu as obras de Basquiat, descreveu Warhol como uma espécie de “policial” que poderia acalmar a personalidade normalmente tempestuosa do artista.“Andy realmente gostava de Jean Michel”, disse, “e ele era muito, muito duro com ele, até mesmo sobre fumar maconha”.
Mas depois que uma exposição conjunta dos dois, na Galeria Tony Shafrazi, ter recebido críticas ruins em 1985, dizem que o relacionamento esfriou, em parte por medo de que ele estava sendo visto como mascote de Warhol.
“Acho que pela primeira vez, as pessoas começaram a acusá-lo de procurar publicidade”, disse Lee Jaffe, um amigo de Los Angeles de Basquiat. “Antes, parecia que tudo tinha acontecido – a publicidade, a fama e tudo – e agora parecia mais calculado”.
Muitos conhecidos dizem que a morte de Warhol em fevereiro de 1987 deixou Basquiat sem âncora. Nos últimos 18 meses de sua vida, ele produziu um grande número de pinturas, mas tornou-se recluso. Amigos dizem que seu uso de heroína aumentou.
Em 12 de agosto, ele morreu sozinho no apartamento que alugou na propriedade de Warhol. Desde sua morte, com apenas 27 anos, de uma overdose de heroína, Basquiat tornou-se uma espécie de figura mítica, considerado um gênio artístico rebelde, com um talento quase sobrenatural, que passou do graffiti nas ruas de Nova York para exibir em algumas das galerias mais procuradas do mundo.
E você? O que acha sobre a ascensão de Basquiat? Compartilhe sua opinião deixando um comentário!
Via: The New York Times, Quora, Another, The Guardian e BBC.
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O grande problema aqui é a própria definição de arte. Para a arrebatadora maioria é algo muito difícil de concretizar, que se lança com talento e técnicas forjadas pela experiência e esforço e cujo resultado seja aprazível. Seja música, pintura, escultura, letras, qualquer coisa.
Para outros, é uma forma de expressão que destaque o indivíduo de forma que sua essência se apresente ainda humana, mas ímpar.
Ainda há aqueles que querem se expressar e tirar o espectador da zona de conforto, criticando e provocando a sociedade.
Basquiat se encaixaria, por si só, entre as hipóteses 2 e 3. Em uma América violentamente racista, quis colocar o negro sob os holofotes, mas à sua própria maneira. Porém, sua mera manifestação racial, desprovida de qualquer técnica ou estética, jamais teria atingido tamanho sucesso se não fosse a new wave do Mecenato da época. O show midiático que cercou a vida do jovem de periferia, tendo seus rabiscos endossados pelos mais renomados críticos nova iorquinos o levou a ser amigo dos maiores curadores de arte da cidade e até mesmo a ser namorado de Madonna. Resuma-se: um garoto muito inteligente, da periferia, que é adotado pela alta classe nova iorquina, cai nas drogas e morre aos icônicos 27 anos como uma estrela de Rock. Seu legado passa hoje de exposição em exposição, com cifras cada vez mais inflacionadas.
E voltando ao conceito de arte, principalmente naquele em que o artista quer tirar a sociedade da zona de conforto, fica o questionamento: Até onde podemos valorizar uma obra em que um indivíduo apenas plugou um pingo de fezes em uma tela em branco em detrimento de pintores que passaram décadas forjando técnicas avançadas? Até onde permitir alguém pode matar um cachorro ao vivo em uma exposição sob a desculpa que faz parte de sua performance? Até onde permitir alguém deitar nu e ser tocado por crianças em uma bienal? Quão irracionais precisamos estar para pagar pra ver uma trupe teatral nua, em círculo de quatro, uns enfiando os dedos nos ânus dos outros? Foi errado ter proibido o Serbian Movie no Brasil? A centopéia humana pode ser considerado um filme de arte?
Acredito que Basquiat foi um herói à sua maneira, começando nos grafites e provocando a mídia com o que foi chamado depois de "projeto Samo". Sempre em situação de fragilidade, seja por viver em bairro violento ou seja por abusar de drogas, foi "fazendo o seu".
Mas aí ele morre, aí o contexto racial é preenchido por artistas bem mais talentosos em todas as mídias. Qual o valor de sua obra hoje? Rabiscos que, em sua maior parte, podem ser superados por crianças de cinco anos. Havia um certo valor antropológico, mas a ponto de atingir o patamar de obras mais caras?
Sapateiro, não vá além do sapato.
sim, mereceu.
Quando a mídia decide apostar em alguém pra ganhar dinheiro, faz desse alguém, ou talentoso, ou bonito, ou carismático, ou inteligente, mesmo ele não sendo.
Qual a parte que o senhor que crítica basquiat não entendeu que ele sabe desenhar pede para uma menina de 5 anos recriar Pegassus por ex
Quando um atleta compete drogado(dopado) ele é expulso. Na arte não seria igual? O que tem ali expresso na obra é seu interior verdadeiro? Não seria melhor mostrar-se puro, natural?