Mestre Didi, ou Deoscóredes Maximiliano dos Santos, nasceu em Salvador-BA em 2 de dezembro de 1917 e faleceu em 2013 na mesma cidade. Foi um renomado artista, reconhecido por seu trabalho como mestre de capoeira, escritor, escultor, pintor, líder e sacerdote do candomblé.
No universo da arte brasileira, poucos artistas conseguiram capturar a essência da cultura afro-brasileira com tanta profundidade e beleza quanto Mestre Didi. Sua vida e trajetória representam a paixão pela arte e a dedicação à preservação das tradições afro-brasileiras.
Seu pai, o Alagbá Arsenio dos Santos, pertencia à “elite” dos alfaiates da Bahia. Mudou-se para o Rio de Janeiro na época em que houve uma grande migração de baianos para a então capital do Brasil.
Sua mãe, Maria Bibiana do Espírito Santo, mais conhecida como “Mãe Senhora” era descendente da tradicional família Asipa, originária de Oió e Queto, importantes cidades do Império de Oió.
Sua trisavó, Sra. Marcelina da Silva, Oba Tossi, foi uma das fundadoras da primeira casa de tradição nagô de candomblé na Bahia, o Ilê Axé Airá Intilê, depois Ilê Iá Nassô.
Ainda em 1925, aos oito anos, Deoscóredes foi iniciado no culto aos ancestrais (Egungun) da tradição iorubá na Ilha de Itaparica-BA. Tornou-se conhecido como “Mestre Didi”, herdeiro da grande tradição do reinado de Ketu. Em 1975, Didi recebeu a mais alta hierarquia sacerdotal Alapini no culto aos Ancestrais Egun. Em 1980 fundou a Sociedade Religiosa e Cultural Ilê Asipá, do culto aos ancestrais Egun em Salvador.
Suas obras são marcadas por uma profunda entrega espiritual e uma conexão íntima com suas raízes culturais e religiosas.
Sua habilidade única de incorporar elementos da religiosidade de matriz africana em suas esculturas e pinturas refletem sua profunda conexão espiritual e sua busca pela expressão da identidade afro-brasileira.
O artista usava materiais como madeira, metal, barro e tecido em suas esculturas, criando peças que combinavam técnicas tradicionais com sua própria visão artística. Materiais naturais como búzios, sementes, couro, nervuras e folhas de palmeira, também faziam parte de suas obras.
Seus trabalhos incorporavam símbolos, mitos e rituais do candomblé e da umbanda, transcendendo o campo estético e tornando-se uma expressão sagrada de fé e devoção.
“Os Orixá do Panteão da Terra são os que nos alimentam e nos ajudam a manter a vida. Os meus trabalhos estão inspirados na natureza, na Mãe Terra-Lama, representada pela Orixá Nanã, patrona da agritultura”. Mestre Didi.
Foi em 1964 que Mestre Didi realizou a primeira de suas várias exposições individuais realizadas tanto no Brasil quanto no exterior, incluindo, em 2009, “Mestre Didi: o escultor do sagrado – homenagem aos 90 anos”, no Museu Afro Brasil (São Paulo).
São mais de 30 exposições coletivas, entre as quais “Os herdeiros da noite” (Pinacoteca do Estado de São Paulo/Centro de Cultura de Belo Horizonte-MG, 1995); “Mostra do Redescobrimento” (São Paulo, 2000) e “Negras memórias, memórias de negros” (Galeria de Arte SEIS-FIESP-SP, 2001/Museu Histórico Nacional-RJ, 2001/Palácio das Artes, Belo Horizonte/MG, 2003).
Além disso, recebeu dezenas de homenagens e prêmios importantes como a Medalha Thomé de Souza/Câmara Municipal (Salvador/BA), recebida em 1995; a condecoração de Honra ao Mérito Cultural, grau de Comendador, Ministério da Cultura, em 1996; título de Dr. Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia, em 1999, entre outros.
Para o curador Emanoel Araújo, o artista Mestre Didi e “suas obras são como uma união de antiga sabedoria, a expressão viva da continuidade e da permanência histórica da criação de uma nova estética que une o presente ao passado, o antigo ao contemporâneo, a abstração à figuração, formas compostas ora como totens, ora como entrelaçadas curvas (…) suas esculturas, em sua interioridade, são uma relação entre o homem e o sacerdote que detém o espírito íntimo das coisas e de como elas se entrelaçam entre a sabedoria do sagrado e do profano”.
Além de sua contribuição fundamental na arte brasileira, Mestre Didi publicou seu primeiro dicionário de Iorubá-português em 1946, que levou à criação do departamento de estudo da língua Iorubá na Universidade Federal da Bahia em 1960.
Em 1961, publicou a coletânea de contos populares ancestrais africanos intitulada Contos Negros da Bahia, livro com ilustrações de Carybé.
Ao longo da década, publicou diversos outros livros sobre a cultura iorubá, cinco dos quais em parceria com a antropóloga Juana Elbein dos Santos, sua esposa e companheira em todas as suas viagens pelo exterior, aos países da África, Europa e Américas, de grande importância pelos intercâmbios e experiências adquiridas.
Mestre Didi foi um ícone da arte afro-brasileira, cujo trabalho continua a inspirar e encantar pessoas ao redor do mundo. Que sua jornada nos ensine a valorizar e respeitar a riqueza da diversidade cultural que nos cerca.
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