Arte

Pantone anuncia a Cor do Ano de 2026 e divide opiniões

Pantone anuncia sua Cor do Ano de 2026 e, como acontece a cada ciclo, movimenta o circuito global de arte, design, moda e arquitetura. Mais do que uma escolha cromática, a Cor do Ano funciona como um termômetro cultural que sintetiza sensibilidades, tensões e expectativas coletivas. A cada anúncio, profissionais observam não apenas a tonalidade selecionada, mas o que ela revela sobre o momento histórico em que estamos.

Em 2026, pela primeira vez, a Pantone elegeu um branco como cor do ano: PANTONE 11-4201 Cloud Dancer — uma escolha que abriu debates intensos no mundo criativo.

Por que a Cor do Ano importa?

A Pantone opera como o principal sistema internacional de padronização cromática. Cada cor possui um código específico que garante consistência visual em qualquer lugar do mundo — de embalagens a livros, de produtos a identidades visuais.

Essa precisão técnica permitiu que a marca se tornasse também uma força cultural. A Cor do Ano é selecionada por uma equipe que monitora movimentos de estética, comportamento, tecnologia, política e clima social de forma global. A tonalidade escolhida costuma influenciar coleções, colaborações, campanhas e linguagem visual.

Nos anos recentes, o padrão seguiu um arco emocional reconhecível:

2023 — Viva Magenta: vibrante e expansiva.
2024 — Peach Fuzz: suave e afetiva.
2025 — Mocha Mousse: introspectiva e quente.

A sequência parecia apontar para um olhar sensível sobre as necessidades emocionais contemporâneas — até o branco entrar em cena.

O Cloud Dancer e seu significado oficial

De acordo com a Pantone, Cloud Dancer é um branco “arejado”, “calmo”, um convite à serenidade em meio ao excesso de estímulos do cotidiano. O discurso oficial apresenta a cor como símbolo de foco, descanso, renovação e liberdade criativa — uma pausa visual necessária.

Tecnicamente, trata-se de um branco suave, levemente quente, diferente do branco absoluto digital. Ainda assim: é branco. E esse detalhe se tornou o estopim para discussões mais profundas.

A crítica cultural: nenhum branco é neutro

A escolha reacendeu debates sobre o simbolismo do branco na história da arte e da cultura visual. Embora o branco ocupe lugar importante no imaginário artístico — do suprematismo de Malevich ao minimalismo de Robert Ryman — sua simbologia está longe de ser inocente.

Em matéria recente, o portal Artnet destacou que, em um momento de tensões políticas e sociais, a escolha de um branco absoluto pode ser interpretada de forma ambígua. O texto lembra que o branco carrega significados que vão muito além da estética: ele pode representar pureza, silêncio, apagamento, vazio, neutralidade — ou supremacia.

O paradoxo de 2026

A discussão se intensifica quando se considera o contexto atual:

No campo artístico, há uma forte ampliação de narrativas plurais:
ascensão de artistas do sul global, movimentos decoloniais ganhando visibilidade, múltiplas etnicidades ocupando espaços antes restritos, revisões históricas profundas. Trata-se de uma transformação estrutural, não de uma tendência decorativa.

No campo político, observa-se simultaneamente a ascensão de discursos nacionalistas e racialmente excludentes em diversos países, reacendendo pautas que reforçam hegemonias brancas.

Inserida nesse cenário, a eleição de um branco como Cor do Ano inevitavelmente adquire camadas simbólicas — e gera tensionamentos entre estética e política.

Interpretações possíveis

A leitura mais generosa sugere que o Cloud Dancer representa um ponto de partida, uma superfície vazia para novas narrativas visuais e criativas. Uma pausa necessária antes de outro ciclo cultural.

Outra interpretação — mais crítica — considera que a escolha pode soar desconectada do momento de diversidade e revisão histórica vivido nas artes, ou ainda inadvertidamente alinhada a discursos que reforçam apagamentos simbólicos.

Ambas as leituras coexistem, e é justamente essa ambiguidade que torna o debate relevante.

Conclusão

A escolha do Cloud Dancer para 2026 evidencia como uma cor pode mobilizar leituras políticas, históricas e sociais. O branco, longe de ser neutro, se torna um espelho das contradições contemporâneas: enquanto o mundo criativo avança em diversidade, partes da esfera política global caminham na direção oposta.

A Cor do Ano, portanto, deixa de ser apenas um indicativo estético para se tornar um convite — ou provocação — à reflexão sobre o que significa “começar do zero” em um momento tão carregado de disputas simbólicas.

Leia também – Diversidade na arte contemporânea: como ela evoluiu nos últimos 50 anos?

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Thais de Albuquerque

Thais de Albuquerque é Relações Públicas, artista visual e criadora de conteúdo. Atua há mais de 15 anos em marketing e criação de identidade visual para empresas, projetos e instituições. Em seu Instagram, desenvolve conteúdos autorais ligados a curiosidades sobre o mundo das artes.

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