Chantal Akerman nasceu em Bruxelas, 6 de Junho de 1950 foi uma diretora belga. Ela também foi uma artista, atriz, roteirista, produtora e professora de cinema com uma grande influência no cinema feminista e Avant-Garde. Seu filme mais conhecido é Jeanne Dielman (1975).
Sua primeira influência foi o filme Pierrot le fou, de Jean-Luc Godard. Após assisti-lo, aos 15 anos, decide se tornar cineasta. Seu primeiro filme, Saute ma ville, estreia em 1971 no festival de curta-metragem de Oberhausen. No mesmo ano, muda-se para Nova York, onde permanece por um ano.
Ao voltar para a Europa, faz seu primeiro longa-metragem, Hotel Monterey (1972), e os curtas experimentais La Chambre 1 (1972) e La Chambre 2 (1972). Através desses filmes, seu trabalho começa a criar o estilo que vai aderir até o fim de sua carreira, com sequências longas e repetição de tarefas ordinárias. Apesar de lésbica, não se considera como uma cineasta queer, tendo seu único filme com referência ao tema Je, tu, il, elle (1974). Faz seu próximo filme, Jeanne Dielman(1975), com apenas 25 anos, o qual é considerado uma obra-prima do cinema femininista.
Akerman fez parte da segunda onda do feminismo, e seus trabalhos refletiam sobre a presença feminina no cinema, tanto atrás das câmeras quanto na frente. Ela acreditava que a visão feminista estava mais em como os filmes eram feitos do que as histórias que eram contadas nos filmes; a visão feminina sobre a mulher não retratava uma presença ordinária, o trabalho de câmera feminino mostrava a mulher vista pelos olhos de outra mulher.
Também foi influenciada por filósofos como Gilles Deleuze e Felix Guattari e suas literaturas menores. As três características da literatura menor são a desterritorialização da língua, a ligação do indivíduo no imediato político, o agenciamento coletivo de enunciação.
Essa literatura menor nos filmes de Akerman aparece frequentemente em forma de cartas, músicas ou piadas. As cartas que freqüentemente cruzam sua obra falam de sua busca por ressonâncias entre sua própria história pessoal e outros problemas e deslocamentos atuais. Uma das mais pungentes dessas cartas é lida em uma reunião improvisada em torno de uma tabela em Do outro Lado (2002).
Depois de conhecer alguns mexicanos que foram abandonados no meio de sua tentativa de atravessar a fronteira, Akerman os convida para uma refeição. Em agradecimento, eles lêem uma carta assinada coletivamente à câmera.
Apesar de ser constantemente relacionada às características de uma cineasta mulher, judia e lésbica, Akerman reduz esses rótulos pessoais e se distancia de um cinema essencialmente feminista. Ela vê o cinema como um “campo gerador de liberdade dos limites da identidade”, e é contra a expressão “cinema feminista” porque “quando as pessoas dizem que há uma linguagem de cinema feminista, é como dizer só existe uma maneira para as mulheres se expressarem”.
Chantal morreu em 2015 em Paris, na França. Seu último filme se chama No home movie e é dedicado a sua mãe Natalia Akerman, sobrevivente de Auschwitz que morreu em 2014. Na verdade, toda a obra de Chantal é dedicada a sua mãe. Foi ela quem incentivou Chantal a estudar cinema e seguir esse caminho.
Descendente de uma família polonesa judaica, Chantal se da Bélgica para Nova York (EUA) e, em 1974, voltou para Bruxelas. Dirigiu quase 50 filmes, de documentários até comédias. Foi indicada ao prêmio do Festival de Berlim em 1989, com Histórias da América, e ao Festival de Veneza em 1991, com Noite e dia.
Seu longa mais comercial, ou seja, bem bem bem distante do seu experimentalismo é Um divã em Nova York, de 1996, com Juliette Binoche e William Hurt no elenco.
Chantal Akerman – Tempo Expandido é uma mostra inédita, que conta com a curadoria de Evangelina Seiler e tem sua montagem supervisionada por Claire Atherton, uma das colaboradoras mais próximas de Akerman. O objetivo é aproximar o público brasileiro da estética, do estilo e sobretudo da visão particular da artista sobre o universo feminino. Beto Amaral, da Cisma, idealizou a exposição em 2014, em parceria com a galeria Marian Goodman. Daniela Thomas e Felipe Tassara assinam a expografia da mostra.
– Há um ano que estou completamente dedicada ao universo de Chantal Akerman – entusiasma-se Evangelina Seiler. – Estou muito feliz por ter sido convidada para essa curadoria tão especial. Nosso grande objetivo é fazer com que a obra mais que singular de Chantal Akerman chegue ao maior número possível de pessoas. É muito importante que cada vez mais gente conheça a magnitude e a importância do trabalho dessa grande diretora – frisa.
– Faz quatro anos que tento viabilizar esse projeto. O Oi Futuro foi o primeiro a acreditar nele. Neste momento em que estamos em transe com as questões identitárias no Brasil, não há cineasta mais atual do que Chantal Akerman, que problematiza e questiona a noção de identidade em sua vasta obra. – explica Beto Amaral.
– Além de ser uma das cineastas mais influentes e originais da história do cinema mundial, Chantal Akerman foi uma pioneira no olhar para o feminino, valorizando as questões de gênero durante toda a sua carreira e inovando não só na forma como também no conteúdo.
A jovem que aos 18 anos largou a escola de cinema para fazer seu primeiro curta e que, aos 25, estarreceu a Semana dos Realizadores em Cannes, em 1975, com a exibição de seu mais aclamado longa, Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, Bruxelles, sempre soube intimamente o que queria fazer para a tela grande.
No entanto, seu encontro real com o cinema se daria na adolescência e por puro acaso: o título do filme Pierrot Le Fou, de Jean-Luc Godard, visto no cartaz, atraiu sua atenção. Resolveu entrar no cinema e, após a sessão, entre encantada e decidida, disse: – É exatamente isso que eu quero fazer na vida.
Filha de imigrantes judeus poloneses, vítimas do Holocausto (a mãe, Natalia, foi a única de sua família a sobreviver ao campo de concentração de Auschwitz), Chantal carregou sempre consigo a marca de um sofrimento presente, porém selado pelo silêncio, já que a mãe – a referência mais determinante em sua vida e carreira até o último filme – jamais falou sobre o assunto.
Quando menina, Chantal conviveu com as tradições e os rituais judaicos até o falecimento do avô – e recordava que aqueles rituais lhe traziam uma certa paz e boas lembranças. A observação do cotidiano das tias maternas e paternas fez com que desenvolvesse uma compreensão muito particular das tarefas diárias de uma casa, como fazer a comida, pôr a mesa, lavar, passar… tudo que as mulheres faziam com o mesmo esmero e incansavelmente, vezes sem conta.
Essa faina tipicamente feminina trazia em si um ritmo que Chantal acabou por incorporar às imagens que mais tarde criaria.
– Minha mãe não gostava muito que eu brincasse na rua, então eu olhava muito pela janela – declarou, em uma entrevista ao programa Parlons Cinéma, da TV francesa. – Eu me lembro de mim assim, muitas vezes sozinha, olhando pela janela.
O dia-a-dia de uma casa e a visão da janela são elementos muito presentes em sua filmografia, marcada por quadros parados, longas tomadas e pelo movimento de ir e vir – carros, ônibus, trens – observado a uma certa distância.
A câmera de Chantal Akerman funciona como um ponto de observação, um convite ao espectador para que descubra, por si mesmo, tudo que a cena revela. Não há indução, os diálogos são esparsos. A câmera parada pode representar uma janela para dentro – de personagens e de ambientes – ou uma janela para fora, no caso do contato com o movimento do mundo.
O tempo, na obra de Chantal Akerman, é essencial para a percepção da narrativa. – Quando alguém diz: “vi um filme ótimo, nem senti o tempo passar!”, desconfio que essa pessoa está sendo ‘roubada’ de algo muito precioso – revela. – Em meus filmes, quero que a pessoa sinta o tempo passar e tudo que essa passagem traz consigo – dizia.
Seu cinema é feito de quadros aparentemente estáticos, mas que revelam toda a intensidade da narrativa, e de tomadas longas, sem cortes rápidos.
Se o personagem sai da cena, a câmera não o acompanha. E a cena fala por si. O momento do corte acontece na hora que tem de acontecer. Essa dinâmica lenta e estratificada cria uma força dramática muito grande, que arrebata o espectador.
É um mergulho no escuro que acaba por revelar uma clareza impressionante. Como observa Claire Atherton, sua colaboradora por 35 anos na sala de montagem, “cada filme, cada instalação era como se fosse a primeira vez.
Não tínhamos regras, medos ou barreiras. A cada vez retornávamos a uma nova aventura sensorial e intelectual. Nossas trocas eram muito simples; falávamos pouco, como se palavras em excesso pudessem vir a destruir alguma coisa.
Costumávamos dizer “é bonito” ou “é forte”. Gostávamos de certas palavras e Chantal dizia que tínhamos de ser drásticas, sem fazer concessões.”
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