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Flora Assumpção: a vencedora do Prêmio Arte|Ref

A artista Flora Assumpção foi selecionada como vencedora da primeira edição do prêmio Arte|Ref de Arte Contemporânea. Na seguinte entrevista com a artista ela conta um pouco de sua trajetória, produção e sua relação com a arte. Artista graduada em artes visuais no Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP, com especialização em gravura. Iniciou sua produção em artes por meio do desenho e da pintura. Desde 2002 se interessa pela extensão da escala do desenho para o espaço arquitetônico e experimenta diversos materiais, técnicas e linguagens. Mantém reflexão e prática direcionadas à pesquisa em desenho e em ocupação de superfícies bidimensionais e objetos e, paralelamente, desenvolve projetos de instalações para arquiteturas específicas e de instalações para espaços expositivos, explorando a relação do desenho com escalas arquitetônicas para a criação de ambientes ficcionais com a intenção de provocar experiências imersivas de caráter poético.

Veja o trabalho premiado:

 

Piscina I, 2012

Pequena biografia:

Sou de família paulista, mas sou mineira, nasci e cresci em Minas Gerais, numa cidade sem nenhuma atividade ou circuito de arte contemporânea e então o que conheci de artes antes da faculdade foi com meus pais. Estudei artes plásticas na USP e desde a graduação tenho mostrado meus trabalhos e intervenções de arte em diversas exposições em salões e galerias.

Fale um pouco sobre o seu trabalho (técnicas usadas, material):

Comecei minha prática em artes visuais através do desenho e da pintura, seguindo para gravura (xilo e metal, principalmente), depois experimentei instalações e intervenções e, por fim, videos e objetos tridimensionais. Considero que a escolha dos materiais e técnicas depende da ideia da obra, mas que técnica é conhecimento intelectual tanto quanto o conceito da obra e que estes são interligados, invariavelmente.

Quais as maiores influências para a criação de suas obras? (movimentos, artistas, música, viagens, assuntos, temas, poética)

Várias da literatura, como Jorge Luis Borges, Dostoievski, Guimarães Rosa, um conto do Eça de Queiroz chamado ‘O Mandarim’, Orham Pamuk acho genial com o ‘Meu Nome é Vermelho’ e me inspira muito, J.M. Coetzee, etc.

Adoro os filmes do Hayao Miyazaki, tanto pela qualidade gráfica como pela poética do enredo. Gosto de desenho e ilustração, como Escher, Moebius, e outros.

Música é essencial, muito presente na minha vida. Gosto de vários estilos e sempre prefiro as mais densas, pesadas e tristes (mas eu não me entristeço ouvindo-as)… Gosto de Lhasa de Sela, Lila Downs, Madredeus, Bethânia, Elis e Ney. Gosto de música erudita e clássica, mas sem ser grande conhecedora, adoro os Concertos de Brandenburgo de Bach. Mas também adoro um bom rock, como Led Zeppelin e vários antigos e alguns mais recentes. Gosto de alguns pops, algum world music, samba, músicas regionais etc…

Em música e artes visuais, penso muito numa frase do Iberê Camargo: “Nunca toquei a vida com a ponta dos dedos”. Identifico-me profundamente com isto. Acho que não compreendo músicas ou artes visuais levianas, descompromissadas.

Viajar é condição extremamente conectada à poética de minha obra, necessito ver naturezas diferentes, conforme suas localizações no globo terrestre. Ainda preciso dedicar tempo para conhecer muito mais lugares do que os que conheci.

Quando e como começou o seu interesse pela arte?

Quando criança já tinha giz de cera na mão desde os 3 anos, meus pais dão a muita abertura pra isso. Meu pai desenhava muito bem, estudei em escola de pedagogia Waldorf, então fiz todo tipo de experiências manuais: desenho, aquarela, modelagem etc. Acho que nunca parei de desenhar na infância e na adolescência quando tive de escolher uma profissão (época do vestibular), optei por arte, mesmo que só alguns anos depois eu tenha entendido um pouco melhor o que significa ser artista hoje.

Quais artistas na sua opinião estão se destacando no cenário nacional e/ou internacional atualmente?

Bom, os artistas que se destacam sãos os que estão aparecendo no circuito e no mercado, mas não necessariamente são os que de fato têm trabalhos bons, relevantes. Existe muito modismo neste meio e muitas obras são copiadas levianamente. O interesse que motiva a criação de uma obra de arte tem de ser genuíno. Tudo que é copiado perde força conceitual e poética, perde beleza e causa a sensação de descuido no fazer, que é a sensação nítida de que o próprio artista não sabe tão bem o que está fazendo. Isso é muito perigoso e resulta em auto-sabotagem: torna a arte feita hoje, que é a contemporânea, de muito mais difícil compreensão para o público leigo e até para os profissionais do meio artístico. Vira uma ‘bola de neve’ e a arte fica mais e mais elitista.

Gosto de alguns dentre nomes mais consolidados e os considero relevantes, tais como Anish Kapoor, Regina Silveira, Liliana Porter, Takashi Kuribayashi, Leandro Erlich, Marco Buti, Sandra Cinto, Ana Tavares, Carlos Amorales, Kate MccGwire, Richard Serra, entre outros. Mas tem muita gente mais jovem no cenário artístico fazendo trabalhos muito bons.

Como você definiria a arte contemporânea?

Acho que a definição de arte contemporânea não pode ser muito diversa da definição de arte. A diferença apenas está na sua existência mais recente. Claro que isso implica em novas tecnologias e contextos mundiais, mas, para mim, arte ainda continua sendo uma modalidade específica do fazer humano, como diz o Argan. Se for mais diferente do que isso, é algo diverso de arte. Este é mais um dos perigos nebulosos em que as pessoas envolvidas com artes têm mergulhado. Não podemos nos esquecer de que muitas supostas novidades de categorias artísticas e conceitos da dita arte contemporânea não passam de desconhecimento nosso do que eram as obras e modalidades de arte do passado e de como as pessoas se relacionavam com a arte do passado. Por exemplo, ‘arte e vida’, ‘arte e política’, ‘arte e ciência’ etc são questões supostamente atribuídas às artes contemporâneas, mas que existem há séculos.  A maneira contemporânea de vivenciar arte, política e ciência é que é diferente, mas a relação sempre existiu, a arte do passado nada tinha de alienada das sociedades em que foram criadas.

Conheça todos os trabalhos da artista acessando o site.  

Piscina II, 2012

Serpentes de Ouro II

Serpentes de prata – 2008/2010 – Impressão digital

Serpentes de Marfim

O mar do tempo perdido , 2007/2008 – Ponta seca. Gravura em metal s/papel

dos Corrimões,  2008 – Gravura em metal s/ papel

Fóssil Prata II, 2012 – Resina e metal

Fóssil Negro I, 2012 – Resina e metal

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