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Théo Gosselin: o coração e os olhos da juventude

Théo, o fotógrafo responsável pelas fotografias que postamos em Arte no Mundo durante essa semana, nos disponibilizou uma entrevista realizada no final do ano passado, para que postássemos aqui no Arte|Ref. Nos emails trocados com o francês pudemos perceber o quanto ele faz parte do universo que ele mostra em suas fotografias, o quanto tudo que retrata realmente faz parte de sua vida.  Descontraído e aparentemente desapegado, nos confessou não gostar da maior parte das produções de arte contemporânea, por ter aversão a gente que fala mais do que faz. 

A entrevista a seguir é um mergulho dentro desse universo de viagens, paisagens, pessoas, da juventude marginal, das festas, da liberdade. Vale a pena conferir!

O início

A história começa em Havre, na Normandia. Conhecido pelo seu polo comercial e industrial (o segundo da França depois de Marseille), a cidade foi parcialmente destruída durante a segunda Guerra Mundial, lhe atribuindo um clima atípico de cidade moderna com tortas ruas. Uma arquitetura que inspira certamente Théo, e ele, aos 14 anos começa a se interessar pela imagem, filmando seus primeiros vídeos com sua banda de amigos. Matriculado em um colegial com ênfase em linguagem audiovisual, ele oscilava pela cultura do skate, da música punk, pensava nas garotas e cada vez mais na fotografia, uma linguagem mais fácil e imediata que o cinema.

Andando pelos terrenos baldios de antigos pólos industriais, ele descobriu um universo inesgotável de cenários e possibilidades visuais que aos poucos vai o tomando, no que ele classifica de um espaço de “carisma louco.” “Com o tempo, eu fui me aperfeiçoando e dando um toque mais artístico à coisa. Isso me permitiu criar memórias, simplesmente. “

Durante seu bacharelado, ele se inscreveu em um concurso, muito jovem, o Art Deco de Amiens, em Picardia. Uma experiência radical que lhe ingressou a um novo mundo de oportunidades e perspectivas sem precedentes. Jovens de toda a França, seus amigos o apresentaram e o iniciaram na paixão por viajar, uma paixão que não o deixa. Ele descobre Paris, telhados, todos esses lugares raramente visitados que ficam apenas esperando pela curiosidade do explorador urbano e/ou o entusiasmo da juventude para voltarem a serem descobertos.

“Eu comecei a viajar e nisso encontrei muita gente, o mundo. Em Havre, houve esse lance dos ambientes e paisagens esquecidas, não frequentadas, onde o tempo fez seu escritório da destruição, algo que desperta a curiosidade. Em Amiens, a paisagem era outra: aquela paisagem do norte, aos tijolos vermelhos que evocavam a Inglaterra, talvez até os países nórdicos. Isso nos dava a impressão de estarmos fora da França, que estamos viajando sem propriamente viajar.”

As épocas de viagem

No verão de 2012, Théo Gosselin organizou uma road trip aos Estados Unidos para um projeto intitulado “Presente Precioso”. “Parti com mais 3 amigos e três Nikons D800 em uma viagem de 3 meses pelos Estados Unidos. Alugamos uma mini-van e partimos em direção ao oeste”. As redes sociais, nas quais Théo foi descoberto graças ao seu blog e sua página no FB, os ajudaram a encontrar pessoas ao longo do caminho.

“Ao longo do trajeto, as pessoas nos procuravam para nos saídas, passeios, ou para oferecer hospedagem.  Humanamente, foi uma viagem incrível: os jovens, os velhos, os posseiros, os universitários, os hippies…” Seguiram viagem fotografando e filmando tudo o que encontravam e vivenciavam pelo caminho, o resultado é um filme que está atualmente em preparação: “Goodbye Horses”. “Nós filmamos um mês e depois fotografamos dois meses na costa oeste. No total, o filme representa 22 000 km de estradas percorridas!”

Sobre suas fotos, Théo nos explica que eles as deve às pessoas que ele encontra, aos momentos que ele vive. Todos podem tirar fotos iguais, mas esses momentos são unicamente de quem os captura. Ele criou ao seu redor um teatro ao qual ele capturou, como um antropólogo da juventude, a liberdade desabrochada, por vezes marginal, por vezes conectadas, dessa geração. Nada de encenação, nada de preparativos, somente os momentos oportunos para se registrar a instantaneidade da vida. Como Larry Clarke, uma de suas inspirações, ele mostra seu círculo íntimo, às vezes até passando o limite, aceita de bom grado a oportunidade, encontra e proíbe auto-censura.

Se olharmos com mais atenção, veremos que as fotos de Theo têm uma característica muito em especial, um elemento recorrente: o uso do luz do dia. “A maior tragédia da minha vida é de não conseguir levantar cedo o suficiente para ver o nascer do sol.  Eu amo essas luzes bonitas, o êxtase que pode proporcionar o simples fato de sentar na frente do sol. A minha luta na fotografia é fazer o sol tão bonito como vemos com nossos olhos.”

Uma concentração de energia, uma onda de emoções, e a irreverência. Théo capta tudo isso com seu estilo, com uma atitude permanente que se interessa por tudo, desde que seja com seus amigos. É a noção de compartilhar que ele pensa ser a chave fundamental de todo seu trabalho: “ minha contade é de contra histórias, de reencontrar, de dividir as fotos, as experiências”

“Eu tenho uma sorte enorme de poder fazer o que sinto vontade, o que tento fazer é compartilhar minha experiência para que compreendam que lutando podemos fazer o que quisermos. As pessoas me dizem obrigado, isso me faz querer viajar mais, me motiva.”

A técnica

Foi por acaso que Theo começou a fotografar e foi por acaso como começou: com uma câmera Nikon que herdou de seu tio.

Meu aparelho preferido é a Nikon D700, super encorpado, com um recorde que eu amo. Eu também adquiri a Nikon D800, mas ainda não fiz um tour com ela. É fundamental poder filmar com um aparelho, como pude perceber durante minha última viagem aos Estados Unidos. Nos dá a impressão de estar em um filme desde o playback à tela de controle! A possibilidade de fazer todos os ajustes que quiser e a qualidade da imagem realmente me impressionam ‘

Para aqueles que são da ótica, a escolha de Théo é relativamente simples: três lentes grande angula fixas: a 24mm f/2.8, a 35mm f/2 e a de 50mm f/1.4. Ele utiliza a abertura maxima de suas objetivas na maioria do tempo “ Minha preferida é a eternal 35mm f/2, eu não posso andar sem”

“Atualmente, eu utilizo bastante também a Nikon F2, de 1971, um aparelho já bastante usado pelo meu pai onde eu consigo colocar todas as objetivas que utilizo com a D700 ou a D800”. A fotografia analógica é uma nova etapa para Théo. Ao contrario da geração digital, ele aprecia a exposição adicional que é necessária quando se usa uma película como suporte de fotografias. “Isso demanda mais cuidado, mas se torna mais fácil com a prática. É uma sensação agradável pois temos a sensação de dominar o aparelho, como na música, quando tocamos sem ter mais que pensar em questão alguma”

Ao nível do tratamento da image, a receita é sempre a mesma: uma desaturação leve, um contraste dirigido e a nitidez aumentada ligeiramente para dar profundidade à imagem.

Os projetos

Théo trabalha e já trabalhou para diversas marcas pelo mundo, do consumo de massa ao consumo de luxo. Para ele, fora às questoes que se deve comprir segundo as exigências dos empregadores,  o que mais lhe importa é manter o clima de suas fotos. Durante uma sessão de fotos para uma marca de moda em um telhado em Paris, ele pediu que os assistentes deixassem os refletore e as luzes de estúdio para que ele trabalhasse a luz natural. As modelos que fotografa não são modelos, mas amigos.

“Eu aproveito para contribuir com meus amigos, é um ciclo virtuoso pois nos permite de nos divertir e ganhar dinheiro para se partir novamente em viagem! Todas as fotos que eu publico em meu blog são fotos de minha vida, de meus camaradas, das minhas namoradas, e de meus encontros. O Mercado pode até querer comprar minhas fotos já tiradas, mas quando eu as tiro nunca o faço com uma intenção commercial.”

Até o momento, Théo se vê tirando fotos pelo resto de sua vida. Um livro em edição limitada de 1000 exemplares é em preparação para o próximo verão como também seu longa “Goodbye Horses”, que é atualmente em montagem. Ele também está planejando uma próxima viagem, um período solitário na Austrália. Mais uma vez, as coisas acontecerão da maneira mais simples e com o mínimo de conforto: uma bicicleta, um aparelho fotográfico e onde dormir.

“Minhas fotos agradam pois elas dão a impressão de liberdade, um retorno à natureza, e talvez também porque mostra uma juventude fantasma. A fotografia nos permite imaginar muitas coisas, e deixo a possibilidade de tudo se imaginar enquanto se observa minhas fotografias”

“É talvez um pouco utópico mas eu penso sinceramente que é possível viver que nem vivo em todas as escalas: não é preciso ir aos Estados Unidos ou Austrália, o que é necessário é estar sempre rodeado de boas pessoas, de fazer sempre o que tiver vontade de fazer, de criar momentos, de inovar  e jamais deixar de ser curioso”

Se ainda quiser ver mais de suas belas fotos, entre em seu blog!

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