36ª Bienal de São Paulo. Foto: Thais de Albuquerque
A 36ª Bienal de São Paulo abriu as portas ao público com o título “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, inspirado em um poema de Conceição Evaristo. O evento, que vai de 6 de setembro de 2025 a 11 de janeiro de 2026, reúne mais de 400 obras de 120 artistas vindos de cerca de 30 países, compondo um dos recortes mais plurais e politizados dos últimos anos.
A curadoria é liderada pelo camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, acompanhado pela marroquina Alya Sebti, pela suíça Anna Roberta Goetz e pelos brasileiros Thiago de Paula Souza e Keyna Eleison. Juntos, eles propõem uma exposição dividida em seis capítulos, que exploram relações entre humanidade, território, ancestralidade, resistência e beleza.
Diante de tanta diversidade, destaquei seis obras que merecem atenção especial, uma de cada capítulo.
Capítulo 1 – Frequências de chegadas e pertencimentos
A mostra começa com um convite a olhar para o chão que pisamos. O termo “humano” vem de “húmus”, terra fértil — e é nesse elo que se constrói a ideia de pertencimento. Obras feitas com pedras, raízes e pigmentos naturais exploram a ligação íntima entre corpo, solo e memória, ampliando o entendimento de comunidade para incluir rios, plantas e animais. É um chamado à escuta e ao reconhecimento mútuo.
Destaque para Ìrókó: A árvore cósmica, de Nádia Taquary, uma instalação feita de miçangas, rodeada por cinco esculturas das Ìyámis, entidades femininas das religiões afro-brasileiras. A obra fala de tempo, ancestralidade e poder feminino.
Capítulo 2 – Gramáticas de insurgências
Este núcleo reúne práticas artísticas que respondem à desumanização com diferentes formas de resistência. Arquivos coloniais são revisitados, narrativas silenciadas são reerguidas e novas linguagens de luta surgem em esculturas, vídeos, instalações e obras sonoras. É um espaço onde a arte ecoa como canto de insurgência.
O destaque é Suchitra Mattai, que resgata memórias de migrações forçadas da Índia e da China para o Caribe ao bordar tecidos antigos. Sua obra têxtil transforma retalhos em gestos de resistência e cura coletiva.
Capítulo 3 – Sobre ritmos espaciais e narrações
Aqui, o foco está nas marcas que deslocamentos e migrações imprimem nos territórios e nas pessoas. Mapas, filmes e fotografias registram desde rotas de travessias forçadas até mudanças sutis na arquitetura das cidades. Esculturas e instalações redesenham espaços de passagem, enquanto trabalhos de som e luz recriam atmosferas de lugares em constante mutação.
O destaque é Terra viva, de Marlene Almeida, que combina solos e pigmentos naturais em pinturas expandidas que tratam a terra como organismo vivo, pulsante e cheio de memória. Uma obra íntima e grandiosa, na qual muitos visitantes passam longos minutos imersos.
Capítulo 4 – Fluxos de cuidado e cosmologias plurais
As obras deste capítulo rompem com visões coloniais e patriarcais de cuidado para propor outras formas de relação com o mundo. Instalações misturam ervas, água e objetos rituais; performances e encontros coletivos evocam saberes indígenas, africanos e asiáticos. O que emerge é uma celebração da interdependência entre culturas e ecossistemas.
O coletivo Vilanismo é o destaque, com uma instalação que transforma o ateliê em espaço de afeto, luta e criação. O grupo questiona estereótipos e propõe novas formas de masculinidade negra, sempre atravessadas pela coletividade, pelo amor e pela resistência.
Capítulo 5 – Cadências de transformação
A mudança aparece aqui não como exceção, mas como estado permanente. Obras cinéticas, trabalhos que se alteram ao longo do tempo e reinterpretações de tradições culturais tratam a transformação como potência criativa. Algumas peças se modificam ao longo dos meses da Bienal, convidando o público a acompanhar processos vivos em andamento.
O destaque é Antônio Társis, que apresenta grandes painéis feitos de caixas de fósforo. A materialidade frágil, combinada a sons e batidas, cria uma metáfora sobre repetição, destruição e renascimento.
Capítulo 6 – A intratável beleza do mundo
O percurso se encerra exaltando a beleza como gesto político e de resistência. Pinturas feitas com pigmentos de terra, fotografias fragmentadas de paisagens e esculturas produzidas a partir de materiais reaproveitados revelam que o belo não está apenas no acabamento perfeito, mas também no que persiste, resiste e sobrevive.
O artista baiano Alberto Pitta é o destaque, referência no carnaval de Salvador, que ocupa a Bienal com tecidos vibrantes que atravessam espiritualidade, memória e comunidade. Sua obra conecta os ritos do candomblé às ruas do carnaval, reafirmando a força do visual afro-brasileiro no campo da arte contemporânea.
Visitar a Bienal é um mergulho na arte contemporânea mundial: um espaço de reflexão, encontro e aprendizado, onde a diversidade de vozes e perspectivas se transforma em experiência sensível. Uma oportunidade imperdível para se deixar atravessar pela potência das imagens, sons e gestos do nosso tempo.
36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática
De 6 de setembro de 2025 a 11 de janeiro de 2026
Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera – São Paulo (SP)
Entrada gratuita
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