Werner Stipetić nasceu em Munique, na Alemanha. Ele adotou o nome artístico Herzog, que significa “duque” em alemão, um pouco mais tarde em sua vida. Seus pais eram croatas. O seu pai (junto com a mãe) abandonou-o cedo, ainda na infância, quando voltou de um campo de prisioneiros de guerra depois da Segunda Guerra Mundial. Sua família, então, se mudou para uma cidade na Áustria, após uma casa próxima a deles ter sido destruída durante um bombardeio no final da Segunda Guerra. Quando ele fez 12 anos, ele e sua família mudaram-se novamente para Munique, e compartilharam um apartamento com Klaus Kinski no bairro de Elisabethstraße in Munich-Schwabing. Sobre esse fato, Herzog declarou: “Eu sabia naquele momento que eu me tornaria um diretor de cinema e que eu iria dirigir Kinski.”
Neste mesmo ano Herzog foi aconselhado a cantar em frente a sua classe na escola e ele se recusou veementemente. E por isto ele quase foi expulso do colégio e até os 18 anos ele não ouviu música alguma, não tocou instrumento nenhum e muito menos estudou qualquer instrumento. Depois ele chegou a declarar que daria 10 anos de sua vida para ser capaz de tocar algum instrumento. Aos 14 anos ele se inspirou em um termo de uma enciclopédia sobre cinema, que ele diz que “continha tudo que ele precisava para começar” como cineasta – isto e a câmera 35mm que Herzog roubou da Munich Film School. Ele recebeu seu diploma pós-secundarista na Universidade de Munique e apesar de ter ganhado uma bolsa escolar para a Duquesne University in Pittsburgh, Pennsylvania, ele abandonou a faculdade em poucos dias e viajou até o México onde ele trabalhou em um rodeo.
No início dos anos 60, Herzog trabalhou como metalúrgico em uma fábrica de aço como forma de ajudar a financiar seu primeiro filme.
Um dos nomes mais importantes da história do cinema alemão e um dos cineastas mais originais e polêmicos de todos os tempos, Werner Herzog está no centro da retrospectiva da sétima edição da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental.
Considerado como o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado a temas socioambientais, o festival celebra a Semana Nacional do Meio Ambiente e o Dia Mundial do Meio Ambiente e acontece de 31 de maio a 13 de junho.
No total, estão reunidos 18 títulos dirigidos por Werner Herzog. Estão programados desde seu primeiro curta-metragem, “Hércules” (1962), até o recente “A Caverna dos Sonhos Esquecidos” (2010). Este último leva o espectador ao interior da Caverna Chauvet, no sul da França, local onde os mais antigos desenhos rupestres foram descobertos em 1994. A caverna reúne desenhos intocados e surpreendentemente realistas e a narração hipnótica do próprio cineasta é revestida de contemplações metafísicas. O longa foi eleito como melhor documentário do ano pelas associações de críticos de Nova York, Los Angeles e Washington DC, entre outros.
A seleção privilegia obras que focalizam o embate homem versos natureza, um dos temas caros ao diretor. Entre elas, “Encontros no Fim do Mundo” (2007), que mergulha na Antártica, um universo solitário, irracional, estéril e repetitivo repleto de mitos naturais e desejos antigos, e o controverso “Homem-Urso” (2005), sobre o trabalho de um jovem norte-americano que durante 13 anos acompanhou ursos pardos no Alasca, até ser morto por um deles.
Destaca-se ainda a série de produções interpretadas pelo ator Klaus Kinski (1926-1991), uma espécie de alter ego do cineasta: “Cobra Verde” (1987), que teve locações no litoral da Bahia, “Aguirre, a Cólera dos Deuses” (1972) e “Fitzcarraldo” (1982), os dois últimos filmados na Amazônia.
Segundo a crítica especializada, trata-se de uma filmografia dotado de uma poética extrema, feita de obsessões e temas recorrentes, nos quais o diretor alemão constrói sua peculiar visão pessoal do homem e da natureza.
informações e comentários sobre os filmes
“Hércules” (1962)
Inspirado nos 12 trabalhos de Hércules, o filme parte das imagens de um homem se exercitando numa academia.
“Medidas Contra Fanáticos” (1969)
Treinadores falam de seu trabalho com cavalos. Seus depoimentos são intercalados, através da montagem, pelas intervenções de um homem que diz proteger os cavalos dos fãs de corridas de cavalo.
“Fata Morgana” (1971)
Fata Morgana é o nome dado a um efeito ótico, uma espécie de miragem que se produz graças a uma inversão térmica. Neste filme, o efeito pode ser notado a partir de imagens do deserto do Saara. Narrado pela historiadora do cinema e crítica franco-alemã Lotte-Eisner (por quem Herzog sempre nutriu grande admiração), este documentário absolutamente conceitual está dividido em três partes, expressando uma espécie de crítica do cineasta à civilização: criação, paraíso e Idade do Ouro.
“Aguirre, a Cólera dos Deuses” (1972)
Inspirado nos escritos autobiográficos do Frei Gaspar de Carnaval, um padre dominicano espanhol. O filme mostra as aventuras de uma expedição espanhola, liderada pelo impiedoso e insano conquistador espanhol Don Lope de Aguirre, que, no século 16, nas florestas do Novo Mundo, busca El Dorado.
“Coração de Cristal” (1976)
Numa cidadezinha da Baviera do século 18, um velho artesão vidraceiro leva para o túmulo a receita do vidro-rubi, um objeto vermelho que tem relevante papel para a economia local. Um concurso é então organizado para premiar aquele que conseguir reproduzir a fórmula.
“La Soufrière” (1977)
Ao saber que o vulcão La Soufrière, na ilha de Guadalupe, está prestes a entrar em erupção, Herzog viaja com sua equipe em direção aos acontecimentos. Toda população já deixou o local, exceto um velho senhor, que se recusa a partir. Evidentemente, é sobre este personagem que se fixará a atenção de Herzog.
“Nosferatu, o Vampiro da Noite” (1979)
Nesta adaptação da obra de Bram Stocker – cuja referência ao clássico realizado por F.W. Murnau em 1922 é evidente –, Klaus Kinski encarna Nosferatu, o conde imortal. Obcecado pela jovem Lucy, o velho vampiro decide empreender uma viagem de sua terra natal, a Transylvania, até a Alemanha, onde mora sua amada. Junto com ele, chega também à cidadezinha a peste negra. Para Lucy, a relação entre os dois fatos é evidente, mas os homens da ciência, encarregados de avaliar o que se passa, resistem a acreditar nela.
“Fitzcarraldo” (1982)
Fitzcarraldo é um irlandês que mora na pequena cidade peruana de Iquitos, localizada às margens do rio Amazonas. Sonhador que possui um histórico de envolvimento em empreendimentos faraônicos malogrados, ele parte para a realização de um novo projeto. Este consiste em encontrar uma nova rota para escoamento da borracha produzida na região.
“Onde Sonham as Formigas Verdes” (1984)
No deserto australiano, um grupo de aborígenes tenta defender um território sagrado para seu povo: o lugar onde as formigas verdes sonham. O problema é que, por seus recursos naturais, a região é de grande interesse para uma empresa multinacional de exploração mineral.
“Cobra Verde” (1987)
Sobre o bandido brasileiro Francisco Manoel da Silva, conhecido como Cobra Verde. Desconhecendo seu passado, um latifundiário da Bahia o chama para trabalhar em suas terras. Ao engravidar uma das filhas do patrão, o homem acaba recebendo como retaliação a missão tida como suicida: assumir um antigo entreposto de escravos na África.
“Wodaabe, Pastores do Sol” (1989)
Um documentário sobre o tradicional povo Wodaabe, nômades do Saara, que vivem da criação de gado e de pequenas trocas comerciais. Uma especial atenção é dada por Herzog ao ritual da corte, por meio do qual as mulheres escolhem seus futuros companheiros.
“Lições da Escuridão” (1992)
Documentário observativo e reflexivo a partir do ambiente de desolação que se seguiu à Guerra do Golfo. Com sua voz tão característica sobre as imagens, Herzog passa pelo episódio do incêndio nos campos de petróleo do Kuwait, mostrando terras devastadas e inóspitas.
“Meu Melhor Inimigo” (1999)
Um testemunho de Werner Herzog sobre sua tumultuada e intensa relação com o ator Klaus Kinski, com quem realizou seus mais emblemáticos filmes, tais como “Aguirre, A Cólera dos Deuses” e “Fitzcarraldo”. O diretor conhecia a intempestiva personalidade do ator quando resolveu trabalhar com ele. O que se seguiram foram dezesseis anos de vigorosos embates.
“Asas da Esperança” (2000)
Dessa vez, Werner Herzog retorna à floresta amazônica acompanhado de Juliane Koepcke que, quando tinha 17 anos, foi a única sobrevivente de um acidente de avião ocorrido no Peru em 1971. A proposta do diretor é reviver com ela essa experiência insólita no coração da selva.
“O Diamante Branco” (2004)
Herzog retorna à Amazônia com uma missão definida: completar um desafio que, 12 anos antes, o cineasta inglês Dieter Plage havia tentado empreender, mas que acabou lhe custando a vida. A tarefa consistia em filmar áreas inacessíveis e recônditas da Amazônia a partir de um dirigível.
“O Homem-Urso” (2005)
O encontro com personagens excêntricos é um leitmotiv da obra de Werner Herzog. Neste filme, porém, ele leva essa fascinação ao limite ao decidir contar a história de Timothy Treadwell, especialista e amante de ursos. Os restos mortais de Timothy foram encontrados após uma de suas expedições ao Alasca, onde ele ia normalmente para estudar e interagir com esses animais. É a partir deste fato que Herzog decide partir, retraçando a trajetória do ambientalista.
“Encontros no Fim do Mundo” (2007)
Herzog vai até a Antártica para filmar o deserto de gelo onde está localizada a base americana de McMurdo. Lá vivem seres humanos absolutamente isolados da civilização. Eles são cientistas ou funcionários do local que experimentam, em seu dia-a-dia, o contato com maravilhosas e, ao mesmo tempo, opressoras paisagens, que invariavelmente acabam moldando seus humores. Assim, o olhar do cineasta não se esquivará de tentar capturar a melancolia e a beleza que eclodem desse encontro entre o homem e os ambientes mais extremos do planeta.
“A Caverna dos Sonhos Esquecidos” (2010)
Na caverna de Chauvet Pont D’Arc, sudoeste da França, está localizado um tesouro inestimável para a humanidade: cerca de 400 desenhos e pinturas rupestres datadas de 30 mil anos atrás. O local está vedado para acesso turístico a fim de que esse patrimônio seja devidamente preservado. A Herzog, no entanto, foi dada autorização para filmar esse testemunho de um povo há muito esquecido, mas cujas marcas de passagem por este planeta ainda permanecem vivas.
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