Gala, na língua e cultura francesa, significa também o show de talentos de final de ano dos colégios. E no espetáculo que estreou em 2015 em Paris, o “mais descolado” dos coreógrafos conceituais – como chamou o guardian – coloca minorias para brilhar. O trabalho é considerado “site specific” uma vez que o elenco muda de cidade para cidade, sempre com profissionais locais. Todos devem ser considerados minoria: o cadeirante, o velho hippie, o transexual, o deficiente cognitivo, o gordo, a criança, a velha dona de casa…
Em Londres o espetáculo ocupou o palco do famoso que teve uma programação intensa de dança na semana passada, parte do festival Dance Umbrella.
Ao entrarmos no teatro as cortinas de veludo vermelho estão fechadas e ficamos um bom tempo a admirar o mistério que elas vão revelar. De primeira elas revelam uma tela que projeta um slideshow, estilo ppt, estilo quinta série, bem cru, sem nada de especial de fotografias de diversos palcos, teatros, plateias, palquinhos, etc. O artista expõe por aproximadamente 15 minutos as dimensões que o formato tomou nos dias de hoje. Vemos fotos desde ruínas dos antigos teatros gregos até shows de entretenimento estilo Disney World, passando por igrejas, teatros alternativos e por ai vai…
Terminando o ppt uma singela placa escrita a mão é disposta no palco com chão de linóleo branco e cortinas pretas ao redor instruindo o espectador o que irá acontecer. A primeira parte é intitulada Balé. Os aproximadamente 30 intérpretes entram e fazem uma pirueta, ou tentam fazer uma pirueta e saem. De forma nua e crua expõe o seu corpo as ditas regras de uma dança que já não condiz com o mundo contemporâneo, todos eles, a maioria sem técnica, cumpre a tarefa mostrando para o que veio, para mostrar quem são, nada além. Depois do balé todo dançam valsa no mesmo estilo verdadeiro e carismático arrancando risos da plateia que talvez se enxergue nas “falhas” dos dançarinos.
Jerome então dá 3 minutos para que eles se aqueçam com improvisação libre e logo arremata o sarcasmo, ao estilo engessado da dança clássica pedindo, que cada um dos performers faça o gesto de agradecimento, como se o espetáculo estivesse acabado. Um por um. Ironicamente a plateia aplaude todos, como se tivesse obrigada a participar de tal gesto, como se o gesto tivesse que ser completado por suas palmas, caso contrário, seria inexistente.
Então o espetáculo chega em seu ápice onde alguns integrantes da dita “companhia” mostram solos que criaram com musicas que gostam e são seguidos em coro por todos os outros. É emocionante, arrepiante, delirante, engraçado, imperfeito, objetivo. A bagunça e a sensação de “casa de loucos” é onde a verdade de cada corpo se junta ao corpo do outro e cria uma atmosfera de respeito. Uma vez que eu concordo em me expor a partir da criação do corpo do outro algo muito sério está em jogo, é nessa seriedade que a ideia se desloca para a plateia e coloca em jogo os valores daqueles que assistem ao espetáculo. Não por menos o slideshow revela as infraestruturas para colocar os seus valores em cheque.
Gala será apresentado em São Paulo, acesse para mais informações: SESC Bom Retiro
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