Quem é o artista? Márcio Pannunzio
O que vai ter na exposição? Gravuras em relevo, gravuras calcográficas, monotipias, desenhos e digigrafias.
Quantas obras serão expostas? 70
Até quando? 17 de novembro
A Caixa Cultural apresenta a individual “Márcio Pannunzio – Xilogravuras” exibindo imagens criadas empregando a pouco conhecida e praticada técnica da xilografia de topo; técnica essa, que cobra do artista grande concentração e virtuosismo. As pequenas xilos de Pannunzio agregam valor renovado à linguagem contemporânea da gravura brasileira ao incorporarem temáticas incômodas e impactantes exploradas em formatos preciosistas, delicados e repletos de detalhes, exigindo do observador, uma postura atenta e paciente.
Na xilografia de topo a matriz é obtida a partir do corte transversal da árvore, fatiada em discos. Deles são extraídos tacos sem trincas. A gravação é feita com goivas e buril – instrumento comum à joalheria. Devido à densidade das fibras, consegue-se gravar com linhas muito finas e texturas complexas, impossíveis de serem reproduzidas na madeira de fio.
Pannunzio elabora cenários intrincados e labirínticos, minuciosos e de urdidura parecida ao dos bordados. Hipnotizam o primeiro olhar pelo magnetismo de suas tramas emaranhadas e ao serem mais bem vislumbrados, revelam ao expectador, panoramas cáusticos, exalando erotismo e violência.
O artista opera com polaridades antagônicas: o tamanho mínimo de suas xilos de topo comporta o máximo de informação visual; a imagem pesada é impressa em um papel fragilíssimo, quase translúcido; a beleza de seu traço meticuloso camufla situações dantescas.
As calcografias, bem como as gravuras em relevo que se valem do linóleo como matriz, apresentam também composições tão detalhadas quanto os das xilos de topo; porém, em uma escala maior.
Já as monotipias e desenhos nos mostram uma grafia veloz e segura a serviço da construção de imagens de grande crueza e energia; são despojados dos ornamentos e filigranas usualmente utilizados nas gravuras em relevo e calcográficas. Extraem sua força da linha vigorosa e concisa.
As digigrafias são gravuras criadas usando as novas tecnologias de manipulação da imagem e impressão em impressoras profissionais a jato de tinta em papéis artísticos. A matriz virtual criada pelo artista toma como ponto de partida um desenho a bico de pena, posteriormente diminuído e contrastado em programas de edição de imagem.
Contrariando os preceitos ortodoxos de molduramento que pregam a maior neutralidade possível, o próprio artista emoldura seus trabalhos empregando como perfis, madeiras descartadas pelos estaleiros de Ilhabela, São Sebastião e Caraguatatuba. A singularidade das madeiras escolhidas enseja uma apresentação inusual; essas molduras estabelecem, com as imagens que abraçam, um diálogo onde a marcante diferença entre a riqueza de cores e texturas dos perfis decapados pela ação do tempo e das intempéries contrasta com a sisudez monástica das gravuras, digigrafias e desenhos. Moldura e imagem terminam por compor um novo outro trabalho com o status de objeto. Alinhadas lado a lado constroem uma linha visual inusitada e criativa, longe da monotonia comum às montagens padronizadas.
A variedade das obras possibilitará ao visitante uma imersão nas principais técnicas de produção gráfica e no universo plástico complicado e perturbador de Márcio Pannunzio.
Sua escolha da gravura como técnica preferencial de criação artística se fundamentou na virtude primeira desse fazer: o seu caráter democrático, avesso às maquinações de mercado que elitizam e transmutam aquilo que tocam em produtos de consumo privilegiado. De fácil transporte e exibição, sua histórica trajetória contestatória e polemizante seduziu Márcio Pannunzio. Pesou ainda, sua natureza circunspecta, monacal, a exigir de quem a elege, dedicação continuada e afinco sempre renovado para o domínio da sua fatura.
A arte de Pannunzio, a par de sua feição estética burilada com rigor, precisão e requinte em três décadas de destacada atuação profissional, é eminentemente crítica. Nas palavras do crítico e curador Paulo Klein: “os jogos de poder, o assédio, a promiscuidade e a banalização sexual são motes recorrentes no fabulário de Pannunzio. Em seus labirintos, que refletem a banda podre dos meandros sociais, parece não haver lugar para vacilo, piedade ou para atos gentis, muito menos doçuras ao pé do ouvido. Suas imagens corrosivas desnudam o homem contemporâneo de forma crua e impiedosa.”
Pensamento semelhante compartilha Henrique Marques-Samyn, poeta e ensaísta: “trata-se, portanto, de uma arte sobretudo crítica, que põe abaixo os inúmeros sedativos que permeiam o nosso dia-a-dia, revelando os horrores que subjazem a tudo o que embevece e maravilha os olhos entorpecidos. Na arte de Márcio Pannunzio, não há espaço para falsas promessas.”
O catálogo da exposição será lançado no mesmo local no dia 17 de novembro às 11h.
sobre o artista
Márcio Pannunzio, que reside em Ilhabela desde 1989, é um dos gravadores brasileiros de presença mais constante em mostras internacionais de gravura; participou de mais de uma centena ao longo de três décadas. Ganhou prêmios doze vezes: na XYLON 12 – International Triennial Exhibition of Artistic Relief Printing ( Suíça ), na Biennale Internationale d’Estampe Contemporaine de Trois-Rivières, Première Édition ( Canadá ), no 3º Concurso Internacional de Minigrabado “Ciudad de Ourense” ( Espanha ), na BIMPE V – The Fifth International Biennial Miniature Print Exhibition ( Canadá ), na 1st International Small Engraving Salon Inter – Grabado 2005 ( Uruguai ), na 2ª e na 3ª Muestra Internacional de Miniprint de Rosário 2005 ( Argentina ), na III Bienal Argentina de Gráfica Latinoamericana, na 5ª Bienal Nacional de Grabado em Relieve – 1ª Iberoamericana XYLON Argentina, na The 3rd International Mini Print Biennial Cluj-Napoca ( Romênia ), na Itart 2001 – 3rd Mini Graphic World Wide Show ( Itália ), na 3rd International Biennial Racibórz 2000 Poland ( Polônia ) e na 11ª Bienal de San Juan Del Grabado Latinoamericano y Del Caribe ( Porto Rico ) . No Brasil foi premiado em trinta e sete ocasiões; entre elas: no 10º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no 50º Salão Paranaense, na 10ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, no 3º Salão Victor Meirelles, no 2º Salão SESC de Gravura, no 26º Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional – Contemporâneo, no 7º e no 3º Salão UNAMA de Pequenos Formatos, na VIII e na VII Bienal do Recôncavo, na II Bienal da Gravura, na 4ª e na 2ª Bienal de Gravura de Santo André, na 5ª e na 3ª Bienal Nacional de Gravura Olho Latino. Foi bolsista da Fundação Vitae em 2002 e figurou entre os vencedores dos editais ProAc de Artes Visuais de 2008, 2010 e 2011. Realizou vinte e seis individuais, cinco delas no exterior.
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