Cláudio Caropreso (1975), é formado em Arquitetura e Urbanismo no ano de 2000 pela Universidade do Vale do Paraíba. No mesmo ano inicia sua pesquisa com xilogravura no Ateliê Livre de Gravura da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, em São José dos Campos – SP.
Em 2006, Cláudio Caropreso faz o livro de artista “Clandestino”, com Francisco Maringelli, obra hoje pertencente ao acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 2007 concluiu pela Universidade de Brasília a especialização em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas.
Em 2008, também com Francisco Maringelli, é contemplado pelo PROAC e monta a exposição “Entre o Fio da Navalha e o Meio Fio da Calçada”. Em 2011 com curadoria de Luis Armando Bagolin, na Galeria Gravura Brasileira, faz a individual “Caropreso Procura-se”.
Em 2016 com curadoria de Luis Armando Bagolin e em parceria de Francisco Maringelli, na Hemeroteca da Biblioteca Mário de Andrade, faz a mostra “Gravura na Ponta da Faca”. Hoje o artista é representado pela galeria Gravura Brasileira.
Ao ser questionado sobre suas inspirações e a sua pesquisa voltada para artes visuais, Cláudio comenta que iniciou fazendo colagem: “Fui parar em um ateliê de gravura por acaso. Faço colagem desde adolescente, quando entrei na faculdade de arquitetura e urbanismo essas colagens, que até então eram uma brincadeira, passaram a ser a semente do que hoje posso chamar de pesquisa. ”
Posteriormente, no decorrer da conversa, o artista ressalta seu interesse por música e como ela é influente no seu trabalho mesmo antes de a arte visual ser uma questão em sua carreira: “Sempre me interessei muito por música, só fui ter referencias de artes visuais depois de ter me tornado artista visual, música sempre será uma inspiração para meu trabalho. Os temas que me inspiram são a cidade, a música, o formato de cartaz e a apropriação. A cidade e a música me servem como repertório na construção das imagens. O cartaz como espaço e a apropriação como desenho.”
“Durante muito tempo desenhei me apropriando de recortes de jornal e revistas, hoje me aproprio de obras de artistas por envolvimento.” acrescenta o artista.
Em resposta a “Qual foi seu primeiro contato com as artes visuais?” Caropreso refresca uma lembrança de infância: “Posso dizer que meu primeiro contato com as artes visuais foram aos treze anos, quando comprei o vinil “O Blesq Blom” dos Titãs, a capa do vinil, assinada por Arnaldo Antunes serviu de estopim para que eu entendesse o sentido das colagens que fazia.” e cita em seguida que a sua admiração por artistas não se restringe somente ao círculo da gravura, ela se estende para músicos e pintores, porém, não deixa de trazer como uma inspiração seu amigo gravador e xilógrafo Francisco Maringelli.
Deixamos para o final um grande questionamento sobre o título de suas obras, trazendo para conversa especificamente a obra kentridge 3, Cláudio Caropreso logo ressalta: “Antes de qualquer coisa, minhas obras não têm título, “kentridge 3” é somente o nome do arquivo dela em meu computador, só dou nome as obras quando digitalizo, é forma de poder localizá las na minha hd. Essa obra é uma livre apropriação de William Kentridge, uma colagem, onde me apropriei de um desenho de Kentridge e da tipografia de um coletivo de artistas russo chamado Ostengruppe. A obra faz parte de uma série em que trabalhei só com apropriações de Kentridge e do Onstengruppe. Como disse, a princípio a apropriação se dá pelo envolvimento pela obra dos artistas, depois é a simples questão do prazer de desenhar e reproduzir imagem. A colagem que deu origem a essa obra encontra-se abaixo.”
Para fechar de fato a entrevista, Cláudio fala brevemente sobre uma de suas exposições: “O papel da linguagem escrita nas minhas obras são o de compor desenho. Só fiz uma série na minha carreira onde a palavra escrita não tinham a função de compor desenho, a exposição “Palavras são Iguais sendo Diferentes”, de 2012 na Gravura Brasileira.”
2005
2004
2003
As obras de Caropreso tem várias camadas, como as partes de sua matriz perdida, que nos chegam a momentos sucessivos. O primeiro impacto são suas cores cítricas, contrastantes. Formam uma narrativa em si, um comentário para sua matéria gravada, não simples acessório de estilo. Se eventualmente um azul se revela mais reflexivo em obra seguinte surge o amarelo vivo, choque. As imagens formam o segundo corpo de narrativa, panfletárias, fortes, sem concessão à mentira da perspectiva renascentista.
Caropreso fala da multiplicidade da contemporaneidade em seus rostos sinuosos de traços marcantes. O entendimento destas cabe ao observador, pois, Caropreso não lança mão de estrutura fácil, é preciso decifrá-lo e terminar a obra na mente de quem a vê. O terceiro corpo narrativo vem de suas escritas, nova camada de informação gráfica, menos que narrativa, mas também necessária pontuação de suas imagens. Léxicos que antes de mais nada são signos. Nos informam dos momentos privados de Caropreso que por afetos lança mão destes, embora pronto às denúncias que revelam sua inconformidade.
Canibalizando imagens as tornas além de qualquer reconhecimento essencialmente, vitalmente suas. De alguma forma profundamente particular e imediatamente reconhecível as vitaliza, as eletrifica. A obra de Caropreso é eletricidade traduzida em arte. – Zizi Baptista, novembro 2013
“Caropreso liberta-se das convenções que cercam a prática artística assim chamada contemporânea, porque denuncia a vagueza de suas referências, estripando a matriz perdida deixando depois a definição de nesgas de cor ou de rasuras sobre o branco.” – Luís Armando Bagolin, março 2011.
“Caropreso sabe, por meio de sua obra gráfica, da dupla operação do signo, que inscreve ou escreve e ao mesmo tempo figura, permanecendo dúbia a relação que este estabelece com o vente: é nada quanto ao olhar do passante, de fora, como a ver de soslaio um cartaz qualquer, mera representação igual a tantas, porém, sendo diferente, misturado à atmosfera ferrugionosa e cinzenta da cidade, também sempre igual em toda parte.” – Luiz Armando Bagolin, março de 2012
“Na leitura de Caropreso, o sono do homem não combina com nossa sociabilidade fragmentadora. As muitas curvas e a unidade precisam ganhar quinas, vincos, ser fracionadas para dar verossimilhança ao retrato. A goiva rasgando a madeira, mais que a tesoura que cria o retalho da colagem, emula os cortes na carne de nossa subjetividade. Os vermelhos, constantes nas gravuras, são o sangue que jorra da cesura. E o suporte dessa subjetividade esquartejada são palavras unidas ao acaso, ausência de sentido, puro ruído.” – Tarcila Lucena, maio de 2017
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