Renata Egreja (1984) atualmente mora em Ubatuba, litoral norte de SP. Nascida em São Paulo, a família logo voltou para Ipaussu, no interior de São Paulo, Brasil. A artista relata que cresceu em uma fazenda, no meio rural.
Seu primeiro contato com a arte contemporânea se deu aos 21 anos, como Renata veio de uma cidade interiorana lá a ideia de ser artista era muito incabível. Nascida em uma família tradicional e conservadora, ela veio para São Paulo estudar Marketing (ESPM), e através da publicidade descobriu a existência e a possibilidade de estudar arte, ser artista, e fazer disso uma profissão.
Lá na minha terra quando a gente fala de cultura ela está muito alinhada com cultura agrária, então pra mim foi uma grande descoberta que existiam trabalhadores da cultura, e que isso era um lugar de construção social, que as pessoas podiam mudar a realidade, fazer questionamentos e transformar sentimentos através da arte
Entrando na FAAP e se iniciando no curso de Artes Plásticas, Egreja teve contato com uma professora chamada Dora Longo Bahia, artista plástica, que a ajudou e a orientou a tentar uma bolsa e ir estudar em Paris, na Ecole dês Beaux Arts, onde terminou seus estudos e também concluiu o mestrado em 2010.
Inserida em uma realidade completamente diferente da que estava acostumada a viver, ela teve seu primeiro contato com a história da arte (de maneira mais efetiva). A cor que lhe faltava na França, um país não solar e cético, Renata trouxe através da sua arte, herdando o amor pelas cores da sua raiz interiorana, usando tons vivos como forma de expressar a saudade que sentia do seu país de origem e se sentir mais próxima de casa.
Sendo assistente de carnavalesco durante dois anos em escolas de samba, Renata descobriu a exuberância do carnaval e junto a isso as obras de artistas como Beatriz Milhazes, Tarsila do Amaral, Christina Canali, mulheres brasileiras que trazem um repertório de cores muito vastas, encontrando sua “família artística”, ou seja, seu lugar de interesse na arte, e tomando esse reconhecimento como ponto de partida, a artista foi consolidando sua carreira.
Ao ser questionada sobre qual caminho ela pretende seguir de agora em diante, a artista cita sua exposição “Certezas Transparentes”
Certezas Transparentes vem justamente de como fiquei atônita durante o primeiro e segundo turno das eleições, eu tive a certeza de que eu não tinha mais certeza, e acredito que a partir dai o meu trabalho começou a ganhar um viés mais politico. Acredito que hoje eu vejo meu trabalho em transformação, eu sinto que ele está mudando, e que daqui a alguns anos ele vai caminhar para um lugar bem diferente do que está no momento.
Renata termina sua resposta dizendo que sua exposição atual é uma exposição embrionária, onde várias de suas obras são quase que uma ponte para o que ela vai vir a criar. A artista prefere não estabelecer sua poética e estética efetiva no momento, ela está na investigação dessa questão, o que seria um lugar de dúvida mais do que de certeza.
A maternidade teve uma influência muito forte nas obras de Renata, após se tornar mãe a artista tomou mais conhecimento sobre o feminismo e começou transformar seu conhecimento em arte. A artista diz que começou a entender que muitas coisas em sua vida atravessava a questão de gênero quando se tornou mãe
“A maternidade, em todos os sentidos, me abriu os olhos. Antes disso eu entendia que alguns problemas existentes eram problemas, mas eu não sabia muito dizer o motivo, até eu perceber que eram simplesmente questões de gênero.”
A partir dessa percepção, Renata Egreja diz que seu contato mais forte com o movimento feminista foi através do feminismo materno, como tentar parir e não conseguir, a opção pelo parto domiciliar, e a forma com que a sociedade já aplicava rótulos a sua filha desde o seu nascimento
Eu tinha uma filha de um ano que já tinha treze bonecas, que só ganhava roupa rosa, até mesmo quando eu estava gravida algo que mais me questionavam era se eu teria menino ou menina, como se isso fosse totalmente determinante, e desde então essas coisas começaram a me assustar
Após todas essas questões, Renata também começou a perceber grandes sinais de machismo na arte ao escutar de muitos criticos e curadores que seu trabalho era decorativo e ornamental, como se fossem características negativas por ser questões mais atribuídas ao mundo feminino.
Eu sempre assumi que meu trabalho é ornamental e decorativo, sim, trago isso como conceito do meu trabalho. Quando cheguei na França esse tipo de coisa era muito natural, tanto que existia uma escola de artes decorativas, voltada para a Arte Nouveau, lá existe menos preconceito com relação a essas coisas, então a obra da Beatriz Milhazes foi muito significativa para o meu trabalho, pois ela também foi muito criticada pelo mesmo motivo.
Outubro
2019 | Certezas transparentes, Galeria Lume, São Paulo
2018 | Já que temos tempo, sejamos felizes, MAG, Goiânia
2017 | Projeto entre muros, SESC Piracicaba
2014 | Idilio, Zipper galeria, São Paulo
2013 | Anatã, India International Center, Nova Delhi, India.
2012 | Zipper Galeria, São Paulo
2011 | A Pintura É Uma Festa, Mas Não se Perca na Purpurina, Museu de Arte de Goiânia
2010 | Diplome National Superieure dês Beaux-Arts de Paris, Atelier D. Gauthier, Paris, França
2008 | A pintura peregrina, Atelier D. Gauthier, Paris, França
2019 | 51°Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, Pinacoteca Miguel Dutra, Piracicaba
2018 | Poéticas do feminino, MAC Sorocaba
2016 | Ellas, MAB Faap
2017 | Novas Aquisições, MAC Sorocaba
2013 | Residencia artistica, MAB Faap, São Paulo
2011 |Os Primeiros 10 Anos, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo
2010 | Programa de Exposições, Museu de Arte de Goiânia, Brasil
2009 | 40o Chapel Art Show, Chapel School, São Paulo
2008 | Salon D’Art Realites Nouvelles, Parc Floral, Paris, França
2007 | 38a Anual de Artes da FAAP, Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo
Em exposição feita em 2015, Renata criou uma pintura expandida, ou seja, uma pintura que sai do formato tradicional, emoldurado, acontece no espaço. O intuito de Renata é que as pessoas presentes na exposição tenha relação com a obra, interaja com ela e tenha um significado único para cada uma dessas pessoas.
A artista faz ligação com uma instalação que está presente em sua exposição, inaugurada hoje, na Galeria Lume. Consiste em pufes costurados e pintados pela própria artista em que os visitantes irão se deitar e interagir com a obra.
Essa pintura é uma obra otimista. Não deixa de ser uma bandeira de esperança perante as tragédias cotidianas, às vezes perante um expectador mais aflito pareça irônica. Duas grandes telas formam a pintura. Nelas dois seres dialogam em meio a um ambiente onírico e fantasioso.
Em que tempo eles estão? A pintura tem tempo?
A volatilidade da matéria e a elasticidade do tempo traduzidos em intenções de pintura são o carro chefe estético que proponho nessa obra.
A dualidade de sentimentos que o título evoca está muito presente no corpo dessa pintura. Que fala ao momento presente, onde sentimentos de impermanência, ilusão e alienação correm lado a lado com a urgência de deslocamento e mudança.
Essa obra já foi exposta em duas instituições, em 2016 fez parte da exposição que também levava o nome dessa pintura no Museu de arte de Goiânia MAG, e também foi selecionada para o 51 Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, sendo exposta de 11 de outubro a 16 de novembro de 2019 na Pinacoteca Municipal Miguel Dutra em Piracicaba.
“Essa série de aquarelas sobre papel é um trabalho recente que é fruto do meu engajamento com questões feministas”, diz Renata.
“Tornei-me mãe em 2015 e a partir dai comecei um processo de reflexão sobre o ser mulher na sociedade e o que isso representa. Me tornei doula e criei um grupo de estudos sobre arte feminista para mulheres chamado certezas transparentes. Nesse grupo debatíamos os diferentes tipos de feminismo, sua relação com gênero, classe e raça e tantas outras Intersecionalidades possíveis”, reforça a artista.
Essas pinturas surgiram da necessidade de comunicar o que sentia durante a tomada de consciência sobre direito das mulheres além de sua própria história de vida.
Elas estão presentes na exposição que acontece na Galeria Lume até 13 de novembro de 2019.
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obrigada Artref, ficou lindo!