Dossiê

Ricardo Siri e a unificação entre arte e vida


Ricardo Siri (Rio de Janeiro, 1974) é um artista sonoro e visual que transita entre escultura, música, instalação, fotografia e vídeo.

Artista múltiplo, dono de uma estética com elementos que vão do surrealismo ao neoconcretismo e arte imersiva, sua obra une arte e vida, onde sons e objetos são carregados de conceito, forma, experiência e sonoridade.

Percussionista formado na Los Angeles Music Academy (EUA), em 2007 adentrou o universo das artes visuais, incorporando na sua poética elementos de sua experiência musical combinados a materiais orgânicos e do cotidiano.


Entrevista com o Arteref

Quando perguntado sobre suas inspirações para mergulhar no universo da arte:

“Vivo no mundo da arte desde sempre. Vejo arte em tudo. A música caiu no meu colo na infância e ainda adolescente percebi que poderia viver de arte.

Namorei e casei com a artista Deborah Engel, que frequentou ainda nos anos 2000 a EAV, escola de artes visuais do Parque Lage. Nos casamos e montamos uma casa / ateliê /estúdio onde passamos o dia pensando e produzindo arte 24h por dia.

AntiNinho, 2020. Arames farpados. Edição única. 25 x 25 x 30 cm.

Conheci muita gente e as possibilidades artísticas aumentavam. Minha música foi ficando mais performática e o palco havia ficado pequeno.
Comecei a explorar outros meios.

É daí que vem minha inspiração. Desde o disco ultrassom que é sobre o nascimento da minha filha Clara, às exposições que falam sobre natureza, instrumentos e vida”.

Por fim, quanto aos seus objetivos, Siri opta por se ater ao presente. “Prefiro estar vivendo o presente e ser pleno no momento. Acho que assim consigo ser amigo do tempo. Se tiver um objetivo para mirar e acertar, é ser feliz”, conclui o artista.


Análise de obras

Aglomerados, 2020

Caixa de madeira, olho mágico e fotografia
Edição de 3 + 2PA

Na série “Aglomerados”, Ricardo disponibiliza 4 caixas de abelha que visam traçar um paralelo entre a nossa sociedade a sociedade das abelhas.

Criador de abelhas em seu Ateliê, Siri aponta que a individualidade das abelhas é colocada de lado. Na verdade, tem-se um conjunto de indivíduos que forma um certo organismo e esse organismo busca um objetivo.

Dentro de cada caixa, o artista inseriu uma fotografia que retratava algum tipo de aglomeração: culto religioso, evento esportivo, reunião política e protestos civis. Através de um tratamento digital, Siri distorceu as fotos “apagando” as individualidades nas multidões. Seu foco está no coletivo.

Para ter acesso a essas imagens distorcidas, o artista colocou no orifício por onde as abelhas entram nas caixas, um olho mágico. O olho mágico, portanto, é um convite ao expectador para um novo olhar, uma descoberta, um olhar magico, de esperança coletiva.


Casulo 01, 2020

Dimensões: 27 x 22 x 32 cm
Edição única

A partir de objetos domésticos apanhados no quintal de seu ateliê, em Santa Tereza (Rio de Janeiro), Siri moldou uma escultura de materiais orgânicos, como penas de galinha e galhos, sob uma estrutura de barro e cera de abelha.

Ele construiu, assim, Casulo 01, um objeto mítico, entre um elmo e uma máscara, numa expressividade latente que tira da arte o elemento meramente contemplativo, para se inserir ativamente nos discursos de enfrentamento da contemporaneidade.


Ninho 02

Exposição individual, “Habitáveis”.
Centro Hélio Oiticica, RJ.

Nessa instalação, composta por uma sequência de ninhos habitáveis feitos de galhos, folhagens e barro, Siri realiza performances sonoras.

Essa série “Ninhos”, atualiza os pressupostos do movimento neoconcreto, como instaurados por Helio Oiticica e Lygia Clark: situar a obra de arte em um novo contexto de espaço e tempo, inserindo-a no mundo e estabelecendo uma relação física com o espectador.

Entretanto, a obra de Ricardo faz o contrário. Ela insere o “mundo” no espaço de arte, em que o espectador se abriga em uma experiência multissensorial.

Com os ninhos, o artista propõe o retorno a um estado de natureza em que a arte, a partir de elementos orgânicos e sensoriais, despe-se da linguagem e mantém com o público uma relação primordial.


Exposição individual: Organismo, 2020

Siri provoca com seu trabalho uma relação imediata com o espectador / ouvinte através de uma linguagem comum e do acolhimento proporcionado pelas obras, como no caso das imersões sonoras e dos habitáveis e ninhos.

Seu projeto une arte e vida: é a partir de sua casa / ateliê que se depara com elementos e materiais que farão parte do seu processo produtivo, como vimos nas obras acima.

E a partir disso, produz obras que, para além da matéria estabelecem uma conexão “cósmica” com o universo e o público.

Acesse virtualmente a exposição


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