5 exposições no MIS

Por Paulo Varella - abril 17, 2018
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Além de individuais de Walter Carvalho e José Oiticica Filho, mostra traz a inédita na América Latina ‘Malkovich, Malkovich, Malkovich: homenagem aos mestres da fotografia’, do norte-americano Sandro Miller; ‘Era preciso esperar para saber’, do Acervo MIS, e ‘Be Aware’ da fotógrafa Olga Gaia, selecionada pelo programa Nova Fotografia 2018

Anualmente, o Museu da Imagem e do Som – instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo – dedica um espaço na agenda de programação para exposições exclusivamente de fotografias com obras de artistas nacionais e internacionais. Este ano, a mostra Maio Fotografia no MIS 2018 fica em cartaz de 21 de abril a 17 de junho, quando todos os espaços expositivos do Museu serão tomados por obras de artistas singulares e fundamentais na história da fotografia. A abertura, a partir das 14h do dia 21 de abril, tem entrada gratuita e traz programação paralela.

A fotografia sempre foi uma mídia propícia à resistência, porque ela mesma teve que se impor até ser reconhecida como linguagem artística. O MIS inaugurou sua atual sede, em 1975, com uma exposição de fotografias e, hoje, possui em seu acervo mais de 150 mil fotos. Na edição de 2018, as exposições apontam para o potencial de resistência e transformação que cada fotografia traz em si. Seja a resistência ao esquecimento de artistas que moldaram a história da fotografia, como vemos nas fotos de Sandro Miller (Malkovich, Malkovich, Malkovich: homenagem aos mestres da fotografia), seja aquela que está em cada ato artístico que ecoa na esfera política. Figura chave da fotografia moderna brasileira, o também cientista e anarquista José Oiticica Filho, traz para o Museu suas experimentações e inovações no campo da fotografia na exposição intitulada JOF; Walter Carvalho monta uma retrospectiva, Retraço, que não deixa esquecer que vários ecos do passado estão bastante presentes nos tempos que estamos vivendo; Ronaldo Entler, curador da exposição Acervo MIS: Era preciso esperar para saber, ensina que a abertura de um acervo exige uma disposição para a crítica, para a desestabilização, para um discreto e intenso gesto revolucionário; e Olga Gaia (Be Aware), selecionada pelo programa Nova Fotografia, cria, a partir de suas imagens, uma teoria da conspiração para sinalizar que algo está acontecendo neste mundo e devemos prestar atenção.

Além das exposições, o Maio Fotografia 2018 conta com uma extensa programação paralela. Entre as atividades estão cursos de fotografia, encontros com os fotógrafos Walter Carvalho e Sandro Miller, visita guiada com os curadores da exposição de José Oiticica Filho (Carlo Cirenza e César Oiticica) e com Ronaldo Entler, uma edição da Foto Feira Cavalete e a Maratona Infantil especial Maio Fotografia.

Abaixo mais informações sobre cada uma das exposições do Maio Fotografia no MIS 2018.

JOF, de José Oiticica Filho

José Oiticica Filho (1906-1964) contribuiu para a inovação da fotografia brasileira nos anos 1950 e início dos 1960 do século XX.  Ao lado de Geraldo de Barros e outros expoentes da fotografia modernista brasileira, na década de 1950, tirou a fotografia do pictorialismo que ainda reinava entre os trabalhos fotográficos brasileiros.

Filho de José Oiticica (político, escritor e tradutor) e pai dos artistas plásticos César e Hélio Oiticica, Oiticica Filho aproximou-se da fotografia através de sua principal atividade: entomólogo pesquisador do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Suas primeiras imagens são registros precisos e científicos de mariposas. Bolsista da Fundação Guggenheim, trabalhou durante dois anos no Museu Nacional de Washington (EUA), entre 1948 e 1950. No Rio de Janeiro, integrou o Foto-Club Brasileiro e, em São Paulo, o Foto Cine Clube Bandeirante. Publicou diversos estudos sobre entomologia, realizou dezenas de exposições individuais, participou de numerosas coletivas e conquistou mais de 40 prêmios no Brasil e no exterior.

Sua vasta produção pode ser vista nesta exposição, que apresenta uma seleção de 167 fotografias feitas entre 1942 e 1964: microfotografias científicas realizadas durante seu trabalho como entomologista, a forte atuação nos movimentos cineclubistas, a quebra com o pictorialismo, os experimentos com a abstração, as composições geométricas, as recriações fotográficas a partir de manipulação de negativos.

JOF, que conta com curadoria é de Carlo Cirenza e César Oiticica,  será apresentada no primeiro andar do MIS.

RETRAÇO, de Walter Carvalho

As fotografias que compõem esta exposição apresentam um amplo panorama da produção de Walter Carvalho. São cerca de 80 imagens produzidas ao longo de quase cinquenta anos, que constituem, mais que ensaios temáticos, narrativas abertas a partir de suas continuidades e contrastes. O título da exposição, Retraço, evoca retrato e, também, resquícios, que são traços da permanência de algo que iniciou sua existência lá atrás e permanece vivo como metáfora ou alegoria daquilo que foi captado pelo olhar do fotógrafo.

Retraço conta com obras da série JAИUS, que ocupa o Espaço Redondo do museu, imagens de seu trabalho no sertão nordestino, além de imagens onde o fotógrafo encontra, em diferentes localizações geográficas, formas que se reiteram em nossa memória. Em sua retrospectiva no MIS, Walter Carvalho presenteia o público com imagens inéditas, algumas delas produzidas em suporte colorido, até então nunca utilizado pelo autor.

A curadoria é de Cristiane Almeida e Talita Virgínia, da equipe de Programação do MIS.

Sobre Walter Carvalho

Walter Carvalho (João Pessoa, PB, 1947) é fotógrafo e cineasta brasileiro. Herdeiro do Cinema Novo, formou-se em design gráfico pela Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro (ESDI). Desde 1972, desenvolve intensa atividade como profissional da imagem: em fotografia, no cinema e na TV. No cinema, foi responsável pela direção de fotografia de Lavoura arcaica, Abril despedaçado, Madame Satã, Central do Brasil e Amarelo manga. Seu percurso duplo de fotógrafo e cineasta se reflete em seu trabalho autoral, tentando captar momentos e criando “instantes continuados” por toda sua obra. Conta com diversas publicações, como Contrastes simultâneos (Cosac Naify), e exposições individuais e coletivas no currículo. Sua obra integra coleções como as do Museu de Arte do Rio (MAR), Maison Européenne de la Photographie (MEP), Coleção Pirelli / MASP e Instituto Moreira Salles. Integra a Photographers Encyclopaedia International, 1839 to present.

MALKOVICH, MALKOVICH, MALKOVICH: HOMENAGEM AOS MESTRES DA FOTOGRAFIA, de Sandro Miller

A exposição, que conta com curadoria de Anne Morin, já passou por diversos países como EUA, Rússia, China, Espanha, Hungria e Noruega. São Paulo é a primeira cidade da América Latina a recebê-la.

Sandro Miller conheceu John Malkovich no final da década de 1990, enquanto trabalhava no Steppenwolf Theatre, em Chicago (EUA). Mais de 16 anos depois, Sandro e John ainda trabalham juntos, e essa colaboração pode ser vista no projeto Malkovich, Malkovich, Malkovich: homenagem aos mestres da fotografia [Malkovich, Malkovich, Malkovich: Homage to Photographic Masters] a partir do dia 21 de abril no MIS.

Em 2013, Sandro decidiu fazer um projeto em homenagem aos homens e mulheres cujas fotografias ajudaram a moldar sua carreira. Depois de selecionar trinta e cinco imagens para recriar, Sandro entrou em contato com Malkovich, que imediatamente concordou em participar. Malkovich, Malkovich, Malkovich homenageia as fotografias que impactaram Sandro. As peças incluem a mítica fotografia de Che Guevara feita por Alberto Koda; a Green Marylin, um dos inúmeros retratos de Marylin Monroe feito por Andy Warhol; a imagem de Dorothea Lange de uma mãe migrante e a foto icônica de Annie Leibovitz de John Lennon e Yoko Ono na cama, entre muitas outras.

A exposição é composta por 61 imagens e ocupa o segundo andar do MIS.

Sobre Sandro Miller

Sandro Miller nasceu em 1958 em Illinois (EUA). Seu trabalho editorial foi apresentado em diversas publicações como Communication Arts, ESPN Magazine, Eyemazing, Forbes, GQ, Graphis, Newsweek, New York Magazine, The New Yorker, Esquireiro Russo e Time. No Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions em 2011, Sandro recebeu o prêmio Saatchi & Saatchi Best New Director Award (Melhor Novo Diretor) pelo seu curta Butterflies com John Malkovich. Em 2015, Sandro foi homenageado com o Prêmio Internacional do Fotógrafo do Ano pela Fundação Lucie pela série Malkovich, Malkovich, Malkovich: homenagem aos mestres da fotografia.

ACERVO MIS: ERA PRECISO ESPERAR PRA SABER

“O que proponho nessa exposição é pensar alguns fatores que colocam em risco a memória pretendida por um arquivo”, diz Ronaldo Entler, curador da exposição. “Dentre essas ‘formas de perda’ estão a censura e os vícios de interpretação, as intempéries e a deterioração material, os descaminhos da obra que impedem recuperar seu histórico, e mesmo o excesso de informação que dificulta a ativação do olhar”, complementa. Na exposição, são apresentadas imagens que são tanto efeito ou sintoma desses processos, quanto obras que colocam esses fenômenos em discussão.

O objetivo não é produzir necessariamente um discurso dramático e pessimista em torno disso. “Tomo esse risco como algo inerente ao universo das imagens e das coleções. Por um lado, as imagens tem certa vocação para vagar em certa errância, por outro, elas são persistentes: em sua itinerância, sua hibernação, seu esforço de sobrevivência, elas se transformam, renovam seus sentidos e dialogam com outros tempos para além daquele de sua produção”, explica o curador. Elas ressurgem – para usar uma expressão de Freud – com uma espécie de “retorno do recalcado” justamente no momento de uma urgência. Daí também a ideia de “era preciso esperar para saber”: algumas imagens parecem frágeis diante daquilo que as ameaça, mas são perseverantes e se alimentam desse risco e dessa espera.

Partindo de obras e documentos que integram o acervo do MIS, esta exposição se distribui em diversos espaços do museu e se organiza em quatro recortes: antes, mais adiante; sujeito, personagem; mostrar, ofuscar; perda, transfiguração. Essas são noções-chave da pesquisa histórica que, nas latências do arquivo, são confrontadas com seus avessos.

NOVA FOTOGRAFIA 2018: BE AWARE, de Olga Gaia

O projeto Be Aware é a segunda série do Nova Fotografia 2018. O projeto, criado em 2012, seleciona por meio de convocatória seis fotógrafos para realizar a primeira exposição individual no MIS. “Be aware é uma teoria da conspiração em forma de alarme que sinaliza que algo está acontecendo no mundo e devemos prestar atenção”, explica a fotógrafa.

A autora deste projeto se apresenta como Olga Gaia, nome que adotou para se proteger da rede de poder que há tempos vem investigando e denunciando. Apesar de todo o mistério que a rodeia, sabemos que Olga nasceu em Londres, em 1963, foi casada com um mafioso, já fez parte do programa de proteção a testemunhas e produz arte com o único intuito de denunciar os feitos daquilo que ela acredita ser uma agência que controla o mundo através dos meios de comunicação

Programação paralela

Além das exposições o Maio Fotografia 2018 conta com uma extensa programação paralela.

  • 04 |Abertura: Ciclo de conversas

15h| Conversa com Walter Carvalho
Local: Auditório MIS (172 lugares)

17h |Conversa com Ronaldo Entler (curador da exposição Acervo MIS: Era preciso esperar para saber)
Local: Auditório MIS (172 lugares)

Google Cultural Institute: Lambe-lambe: os fotógrafos de rua na São Paulo dos anos 70

Na data o MIS lança a exposição virtual Lambe-lambe: os fotógrafos de rua na São Paulo dos anos 70. Exposta no Maio Fotografia 2015, a mostra estará disponível pela plataforma Google Cultural Institute. A exposição resgata uma das primeiras coleções do Acervo do MIS. Elaborada por dois estudantes, a mostra é composta pela documentação dos fotógrafos de rua em atividade no início da década de 1970 e registra um ofício, naquela época, em vias de extinção e que hoje faz parte da memória de São Paulo. Mais informações, clique aqui.

  • 04 | MOBGRAPHIA

Às 19h, acontece o Festival mObgraphia 2018 – Premiação, onde serão anunciados os cinco finalistas e o vencedor das categorias abertas (arte em mobgrafia, documental, paisagem, preto e branco, retrato e street), além dos três finalistas e o vencedor da categoria Ensaio, com o tema Água. A exposição com os finalistas e os vencedores das categorias do Festival promovido pela mObgraphia Cultura Visual fica em cartaz no Museu ao longo de todo o Maio Fotografia no MIS 2018.  Saiba mais em: mobgraphia.com

  • 05 e 06.05 | Foto Feira Cavalete

Horário: Sábado das 12h às 20h e domingo das 11h às 19h
Local: Área externa

A Foto Feira Cavalete, organizada pela DOC Galeria|Escritório de Fotografia, é um evento para amantes da fotografia, que reúne fotógrafos, galerias, editoras,  selos independentes, artistas visuais e produtores. O objetivo é oferecer todo e qualquer objeto fotográfico: impressões, publicações, fotolivros, fotozines, livros de artistas, caixas de fotografias, fotos soltas e também roupas.
Este ano a DOC inaugura o Sebo Fotográfico. Lá estarão, fotos, máquinas antigas, filmes, livros e outros artigos relacionados à fotografia. Todos podem participar deixando seus produtos em consignação. Para incluir objetos no Sebo é necessário apresentar o material até dia 2 de maio na DOC Galeria.

A Feira Cavalete terá 50 barracas com mais de 150 autores.
Mais informações, [email protected]

  • 05 | 1FOTO1HISTÓRIA

Horário: 16h

Local: Auditório LabMIS

A série 1FOTO1HISTÓRIA é um projeto da Atraves.tv e da DOC Galeria. Na data 10 fotógrafos convidados contam em 5 minutos a história de uma foto que impactou as suas vidas. Os profissionais selecionados são Tuane Fernandes, Yan Boechat, Drago, Cris Veit, João Wainer, Bruno Bernardi, Rogério Assis, Alexandre Orion, João Machado e Erico Hiller. Este projeto nasceu há um ano quando a Doc Galeria levou ao Auditório do MIS dez fotógrafos para apresentarem no palco um de seus trabalhos. Este projeto batizado 10FOTÓGRAFOS10HISTÓRIAS inspirou o formato do 1FOTO1HISTÓRIA que será apresentado no Maio Fotografia 2018.

  • 5 |Ciclo de conversas

15h | Conversa com Sandro Miller
Local: Auditório MIS (172 lugares)

  • 05 |Maratona Infantil especial Maio Fotografia

Cursos de fotografia

O MIS está com inscrições abertas para cinco cursos de fotografia: Uma história social da fotografia (03 de maio a 28 de junho), Fotografia contemporânea (02 a 30 de maio), Fotografia de rua (03 de maio a 21 de junho), Fotografia para câmeras compactas e smartphones (14 a 28 de maio) e Fotografia de paisagens (4 a 18 de junho). Os alunos inscritos nestes cursos ganham um ingresso e participam de visita guiada pelo professor à exposição Maio Fotografia no MIS 2018.

Sobre o Maio Fotografia no MIS

Criado em 2012, o projeto Maio Fotografia no MIS dedica cerca de dois meses por ano à fotografia, com todos os espaços do Museu tomados por exposições, seminários e oficinas. Em suas seis edições figuraram importantes artistas, nacionais e internacionais, como André Kertész, Andy Warhol, Carlos Eber, Chico Albuquerque Claudio Edinger, Gregory Crewdson, Josef Koudelka, Martin Parr, Mauricio Lima, Valdir Cruz, Vivian Maier e Willy Ronnis.

serviço

MAIO FOTOGRAFIA NO MIS 2018
Abertura
21 de abril (sábado), às 14h (entrada gratuita)
Data
22 de abril a 17 de junho de 2018
Horário terças a sábados, das 12h às 21h; domingos e feriados, das 11h às 20h
Local Espaço Redondo, Espaço Expositivo 1º andar, Espaço Expositivo 2º andar, Nicho e Foyer do Auditório MIS. 
Ingresso
R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia)

Museu da Imagem e do Som – MIS
Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo | (11) 2117 4777 | www.mis-sp.org.br
Estacionamento conveniado: R$ 18
Acesso e elevador para cadeirantes. Ar condicionado.

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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