Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, dando sequência aos eventos comemorativos de seu Jubileu de Ouro a ser completado em Junho de 2020, exibe “A outra África”, uma das ações que celebram o aniversário de São Paulo, sob curadoria de Renato Araújo da Silva, com 303 obras entre terracotas, urnas funerárias, máscaras. estatuetas. armas, joias, instrumentos musicais, objetos do cotidiano, bustos e arte da corte de Benin, que representam 29 etnias africanas. Esse conjunto é um recorte da Coleção Ivani e Jorge Yunes.
Na exposição são apresentados centenas de objetos da cultura artística africana, de diferentes etnias, os quais possibilitam um rápido olhar sobre a cultura material de uma outra África, que, “ao mesmo tempo que é uma África que se remete ao mundo tradicional, antigo, trata-se de uma África que readaptou do seu próprio modo a sua prática artística no mundo contemporâneo, fazendo do trabalho do artista popular uma homenagem aos seus, aos nossos ancestrais” conceitua o curador Renato Araújo da Silva.
O mundo Ocidental, com seu conceito dúbio sobre o diferente, criou sua própria definição, um tanto folclórica, sobre realidade e sociedades Africanas, permeada de clichês. A verdade a ser alcançada, está mais próxima, e não tão ambivalentes e contraditórias quanto o foram no passado, mas uma África mais acessível se acolhida em sua rica diversidade.
“A cultura afro ou negra é vasta, rica, e transcende fronteiras. Por muito tempo, e ainda hoje, mesmo com os avanços conquistados, é mister que a discussão ocorra e continue ocorrendo”, declara Beatriz Yunes Guarita, Diretora Presidente da Coleção Ivani e Jorge Yunes.
O gesto do escultor, a carícia na argila modelada e transformada em terracota, o som dos instrumentos, a máscara dançada ou o movimento das mãos dos trabalhadores da arte popular africana, serve de gatilho às nossas sensações a níveis elevados de excitação permitindo que nos posicionemos em uníssono aos mesmos interesses pelos mistérios da vida.
“As nossas distâncias assim se diminuem. E aquele que outrora podia ter sido considerado um provável inimigo ou um desconhecido qualquer pode se tornar agora um íntimo amigo. A arte pode nos transformar!”, conclui o curador.
As peças da coleção foram agrupadas de acordo com alguns conceitos e/ou padrões, para melhor entendimento: Terracotas, Máscaras, Estatuetas, Joias, Armas, Instrumentos Musicais, Objetos do Cotidiano, itens destas técnicas e/ou materiais mostram um retrato visual de uma história além mar.
Como destaque máximo entre a seleção exposta, valiosas peças de Arte Afro-Cristã e Arte Sacra Etíope, onde pode-se apreciar um exemplar da Cruz Processional Etíope, em tempera sobre bronze, exemplar raro em coleções não europeias
São muitas as outras Áfricas dentro do que ela realmente é e as que podemos comportar em nossas cabeças e corações dessa imensidão do que ela de fato seja – esta que, de tudo o que sabemos hoje, certamente é a nossa Mãe África!
Mas a transformação de nossa percepção da África como secundária, como mero “objeto do desejo” para uma atitude mais positiva do “sujeito do seu próprio conhecimento” não se dá de fora para dentro, mas ao contrário, a partir da voz de sua própria originalidade a África se mostrará para o mundo e essa mostra tenta revelar um pouco deste universo africano outro que quer ser visto por inteiro.