Brian Griffiths realiza exposição Taking Sides na Galeria Luisa Strina

Por Gabriel Magno - julho 15, 2019
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agosto 7, 2019 @ 10:00 am setembro 14, 2019 @ 7:00 pm

“Faço esculturas porque elas se abrigam no mundo conosco, como nós. São inanimadas e ainda assim nos definem. O ser e as coisas parecem sempre misturados. Sou atraído por como pensamos com as coisas e como as coisas pensam. No ateliê, negocio entre o que quero e o que as coisas precisam. Isso geralmente é uma sitcom. Considero a escultura um ato social, uma investigação social, um tipo de narrativa rebelde coletiva. Preocupo-me com a maneira como minha escultura difere de objetos em circulação geral como mercadorias e quais relações e valores essa diferença estabelece. Faço uma arte que é cheia de contradições, falibilidade e sentimentos – algo propositalmente cansado, como uma alternativa para o brilhante e recém-saído da caixa. Eu estou fazendo um lugar para nós, para o humano.” [Brian Griffiths, 2019]

Taking Sides, a quarta exposição individual do artista com a Galeria Luisa Strina, apresenta duas séries diferentes de trabalhos: No No to Knock-Knocks, versões de um personagem escultórico de Brian Griffiths, e AIR SIGNS, uma série de fotografias de Brian Griffiths e Frank Kent.

No No to Knock-Knocks é uma figura tragicômica: um macho caucasiano assemelhado a um boneco nu, que parece não saber que suas cordas – se alguma vez o seguraram – foram decisivamente cortadas. Careca, cego e com sua pintura cor-de-rosa e corpo de madeira mostrando sinais de desgaste, este pequeno performer interpreta o seu papel aos tropeços.

Em seu livro Puppet: An Essay on Uncanny Life (2011), Kenneth Gross escreve que “o boneco serve como um embaixador ou peregrino do mundo das coisas para os seres humanos”. É um objeto “que tem uma educação, que aprendeu a agir”. Os não-tão-fantoches de Griffiths são performers ambíguos, provocando tanto a risada como a simpatia. Objetos materiais, em vez de corpos vivos, eles estão fadados a subir ao palco, apesar da implausível rigidez de sua atuação, de se comunicar apenas por meio de sua própria matéria aborrecida.

Em Taking Sides, esse personagem aparece para se divertir, tirar uma soneca ou talvez fingir-se de morto; pontuando o espaço como uma história em quadrinhos rotineira. Esse impulso para desacelerar, para demorar-se, pode ser lastreada a tradições do absurdo, em particular à obra de Samuel Beckett, em que a ação tende a estacionar. Este pequeno personagem também tem um toque do artista de vaudeville nele – ele interpreta a comédia de pastelão com grande brio e consegue evocar charme e pathos pelo viés do fracasso.

As posturas da figura e as fixações rudimentares falam de seu potencial de improvisação em andamento; essas obras de arte admitem a perspectiva de sua própria reformulação. Seu tempo parece expansivo, sua situação, mutável; no entanto, esse arquétipo de “homem comum” está perdido e cego acerca de sua situação e dos problemas de tais ideias universais automáticas – e artificiais.

Brian Griffiths e Frank Kent compartilham um ateliê, eles dividem o estúdio exatamente no meio, eles tomam partido. Fizeram juntos obras fotográficas chamadas AIR SIGNS. Estas são uma série contínua de trabalhos esculturais que são apresentados como fotografias. É uma colaboração que apresenta objetos de seu estúdio e, ocasionalmente, da vida dos artistas.

AIR SIGNS valoriza a abordagem improvisada de arranjos formais e a celebração da vida e da arte. Objetos são exibidos, posicionados e colocados em ação dentro de um cubo de madeira. Essa estrutura constante achata as três dimensões e direciona o foco, cria um espaço para isolar e examinar as coisas do dia-a-dia. O palco de veludo torna-se uma superfície dramática e ostensiva que sustenta os objetos acompanhando a luz e a atividade de forma incontrolável.

Essas imagens oscilam satisfatoriamente entre documento e sonho, a razão e a intuição; silenciosa e insistentemente, sugerem imagens de pensamentos com formas estranhas, ou balões de texto. Esses quadros também estabelecem estrutura e ordem – enquanto objetos, ações e o próprio processo fotográfico, tentativas de romper. Tal como acontece com todas as molduras ou fronteiras – elas privilegiam e ignoram (tomando partido de novo) – apresentam um mundo e não o mundo, admitem que a realidade não é algo exterior, mas algo que compomos a cada momento, com uma constante interpretação de fato e ficção, objetiva e subjetiva.

As obras de AIR SIGNS estabelecem um diálogo histórico de arte com outras esculturas fotografadas, como Involuntary Sculptures, de Brassaï, as radiantes fotos de estúdio de Brancusi, fotografias de Peter Fischli & David Weiss de equilíbrio de objetos do cotidiano (Série Equilibrium), imagens de objetos cotidianos de Gabriel Orozco (como Cats and Watermelons, 1992), Marcel Broodthaers (como Daguerre’s Soup, 1974).

A prática de Griffiths sempre negociou as histórias e as linguagens da escultura e seu duplo, o objeto – ele utiliza a posição de que a escultura não pode mais significar algo específico, mas sim indicar uma objetividade polimorfa.

“Brancusi articulou o estúdio em torno de groupes mobiles (grupos móveis), por meio de categorias de escultura, bases e pedestais. Kent e eu criamos estratégias de agrupamento mais relaxadas e abertas, em que as abordagens podem ser reconfiguradas diariamente. Isso resulta em imagens mudando de atitude, do literal e óbvio ao magicamente obscuro; na fotografia Power, History and Comfort (2019) todas as cadeiras do nosso estúdio são agrupadas. Por este arranjo simples o trabalho passa a falar de diferentes espaços, atividades (trabalho e lazer) e períodos do design; em Germany to Spain, England back to Germany (2019), uma série de objetos verdes está alinhada e o título mapeia absurdamente as origens dos objetos; em European Magic (2019), uma bicicleta voa pelo estúdio iluminado pelo anoitecer”, analisa Brian.

Sobre os artistas

Nascido em 1968, em Stratford-upon-Avon, Inglaterra, Griffiths vive e trabalha em Londres, Inglaterra. Mostras individuais recentes incluem: Vilma Gold, Londres (2016); BALTIC Centre for Contemporary Art, Gateshead (2015); Tramway, Glasgow (2014); Galeria Luisa Strina, São Paulo (2012). Exposições coletivas recentes incluem: Voyage, Berjamin & Gomide, São Paulo (2017); Nuit Américaine, Office Baroque, Bruxelas (2014); Folk Devil, David Zwirner, Nova York (2013); British Art Show 7: In the Days of the Comet, Hayward Gallery, Londres e itinerância (2010-11); Rude Britannia: British Comic Art, Tate Britain, Londres (2010).

Nascido em 1982 em Londres, UK, Frank Kent vive e trabalha em Londres. Frank Kent estudou na Royal Academy Schools, Londres, e Nottingham Trent University. Exposições anteriores e obras comissionadas incluem: New Works, mostra individual na Fold Gallery, Londres, 2017; Green backrests for lectures and other events, projeto para a Royal Academy Schools, Londres, 2015; Site & Situ, residência de três meses na Surface Gallery, Nottingham, UK, 2011; Visual Delusions, exposição individual na galeria Bend In The River, Gainsborough, UK, 2011.

24 anos, ama arte, fez seis anos de teatro, é tecnólogo em canto popular, jornalista e futuro professor de história. Seus hobbys são cozinhar, ler e ouvir música.

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