O Museu de Arte Moderna de São Paulo promove o curso online Caminhos da Arte Indígena Contemporânea para o público participar via plataforma de videoconferência.
Serão seis encontros entre os meses de outubro e novembro para abordar conceitos relativos à arte indígena contemporânea no Brasil, com análise sobre as implicações e as potências dos termos “arte”, “indígena” e “contemporânea”, inseridas no contexto de encontro entre arte indígena e o sistema da prática ocidental.
Ao longo das aulas, os participantes poderão debater as narrativas e as trajetórias de artistas indígenas, bem como suas urgências enquanto participantes indissociáveis de suas comunidades de origem e as relações que mantêm com o sistema da arte ocidental.
Para conferir base teórica e prática ao curso, o professor Jaider Esbell, do povo macuxi, artista multimídia e curador independente, e a professora Paula Berbert, antropóloga e articuladora de projetos culturais, ministram as aulas e apresentam seus percursos conjuntos no sistema da arte indígena contemporânea e suas ações a partir da Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea, localizada em Boa Vista – RR.
O curso possui duração de cerca de um mês, no entanto, também é possível adquirir as aulas avulsas. A programação tem início no dia 14 de outubro, com aula aberta sobre conceitos e sistemas na arte indígena contemporânea.
Confira a programação completa:
Programa
Aula 1 aberta. Arte Indígena Contemporânea: conceitos e sistemas
Este encontro será pautado pela seguinte pergunta: por que Arte Indígena Contemporânea e não Arte Contemporânea Indígena? Buscaremos refletir sobre a anterioridade e a autonomia do sistema da arte indígena, bem como os diálogos em curso com o sistema da arte ocidental e suas instituições no contexto do encontro entre mundos.
Aula 2. Artivismos e demandas políticas na Arte Indígena Contemporânea
Neste encontro será abordado a característica essencialmente artivista da Arte Indígena Contemporânea, sua relação indissociável com as lutas em defesa dos direitos indígenas e socioambientais. Buscaremos refletir ainda sobre a relação de compromisso e autonomia entre as iniciativas de artistas indígenas e os movimentos políticos indígenas. Será tratado também das diferentes formas de apropriação mobilizadas no contexto de encontros entre mundos, bem como suas implicações éticas e cosmopolíticas.
Aula 3. A cena de Roraima: ações dxs netxs de Makunaimî
O terceiro encontro visa uma reflexão sobre as camadas ocultas do fenômeno Makunaimî enquanto ent.identidade matriz de artistas indígenas de Roraima. Apresentaremos a história das articulações de artistas, com ênfase nas ações e no acervo da Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea (Boa Vista – RR).
Aula 4. Caminhos de um dxs netxs de Makunaimî, Jaider Esbell
Nesse encontro apresentaremos a trajetória e o portfólio de Jaider Esbell como uma proposta de imersão no conjunto de sua obra, destacando a importância da narrativa escrita e performática em seu trabalho.
Aula 5. Alianças afetivas, txaísmo
Este encontro será guiado pela experiência de trabalho conjunto e autoria partilhada entre Jaider Esbell e Paula Berbert. Refletiremos sobre as potências e tensões na relação entre as práticas e saberes indígenas e a antropologia e como se desdobram nos contextos da arte indígena contemporânea. Abordaremos ainda as reflexões do artista sobre a ideia de txaísmo, relacionando com as formulações de Ailton Krenak sobre as alianças afetivas.
Aula 6. AIC e o sistemão
No último encontro nos guiaremos pelas seguintes questões: quais são as contribuições da Arte Indígena Contemporânea para o sistema da arte ocidental? No trânsito entre mundos faz diferença a presença do indivíduo artista ou a obra basta? Para pensar sobre isso apresentaremos trabalhos de artistas, curadoras e curadores indígenas na cena brasileira, bem como projetos em curso da AIC em algumas instituições de arte ocidental no país.
Jaider Esbell, do povo macuxi, é artista multimídia e curador independente. Sua cosmologia e história originárias compõem a poética de seu trabalho, em que a reflexão sobre as narrativas míticas e a vida na Amazônia caribenha ocupam um lugar central.
Atua como escritor e ensaísta desde 2009. No ano seguinte, inicia sua produção autoral de pinturas e desenhos, que circulam por exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Articula iniciativas junto a artistas indígenas a partir de sua galeria de arte indígena contemporânea na cidade de Boa Vista, organizando atividades de arte-educação em comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e urbanas periféricas.
Definindo suas proposições artísticas como artivismo, suas pesquisas combinam discussões interseccionais entre arte, ancestralidade, espiritualidade, história, memória, política e meio ambiente, em que se destacam suas recentes elaborações sobre o txaísmo – modo de tecer relações de afinidades nos circuitos interculturais das artes contemporâneas pautadas pelo protagonismo indígena.
Paula Berbert é antropóloga e articuladora de projetos culturais. É doutoranda no Programa de Pós-graduação em Antropologia da USP, onde realiza pesquisa sobre arte indígena contemporânea.
Atua nos campos da curadoria e mediação intercultural, articulando iniciativas de artistas e cineastas indígenas aos sistemas ocidentais de arte e de cinema. Tem experiência em comunidades pedagógicas formais e não-formais, especialmente nos temas da arte-educação, dos direitos humanos e socioambientais, questões indígenas, feministas e decoloniais. É mestre em Antropologia (2017,UFMG) e especialista em Estudos e Práticas Curatoriais (2019, FAAP).