Diálogo noturno de um homem vil no SESC Ipiranga

Por Paulo Varella - março 9, 2018
117 0
Pinterest LinkedIn

DIÁLOGO NOTURNO COM UM HOMEM VIL apresenta dois personagens – Escritor e Carrasco. Assassino e vítima travam um diálogo dentro da noite. O que parecia ser apenas mais um ato brutal, torna-se uma profunda reflexão sobre a vida, a morte, a violência, o poder e a liberdade. Com Aílton Graça e Celso Frateschi, a montagem, que estreia dia 16 de março, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro do Sesc Ipiranga, tem direção de Roberto Lage para o texto de Friedrich Durrenmatt.

O texto, que volta aos palcos após 30 anos, foi encenado no então Teatro do Bixiga por Roberto Lage, com Chico Solano e pelo próprio Celso Frateschi (vencedor do Prêmio Shell Teatro de melhor ator por sua atuação como o Escritor). Na montagem atual decidiu-se por não se aceitar o óbvio e  Aílton Graça interpretará o Escritor e Celso Frateschi fará o papel do Carrasco. “No racismo de nossa sociedade, nas nossas primeiras conversas com as pessoas sobre o projeto o contrário era tido como certo”, conta o diretor.

Para Celso Frateschi o encontro insólito de um escritor e um carrasco, já é revelador de uma situação de exceção. “O ofício do primeiro traduz o exercício da liberdade, o do segundo a eliminação mais radical da liberdade de viver. Um, luta contra o sistema, o outro, é o eixo silencioso em redor do qual a terrível roda do sistema se move. Um é um artista da vida, o outro um burocrata da morte”, explica o ator.

Do encontro entre escritor e carrasco se desenvolve DIÁLOGO NOTURNO COM UM HOMEM VIL sem se deixar levar por nenhum tipo de maniqueísmo. O diálogo deixa de lado qualquer ideologismo e caminha para uma dimensão do próprio entendimento do sentido dessas nossas vidas. Os personagens, surpreendentemente, encaram essa jornada de entendimento que só a proximidade da morte proporciona.

Nova leitura

Roberto Lage diz não lembrar muito da montagem de 1988 e que se debruçou sobre a discussão que o texto escrito em 1952 propõe. “Reler o texto em momento tão diferente do nosso país, revela a potência do teatro de Dürrenmatt capaz de iluminar aspectos do humano em épocas tão distintas”, diz ele.

A ideia de remontar DIÁLOGO NOTURNO COM UM HOMEM VIL veio, além do diálogo com a atualidade, pela oportunidade de acrescentar outras questões pertinentes, como o racismo. “A partir do momento que coloco o Aílton Graça como um intelectual africano calado pelo Estado, já possibilito outras leituras para o texto”, acredita Lage.

O ator Aílton Graça conta que já fazia muito tempo que queria ser dirigido por Roberto Lage e atuar ao lado de Celso Frateschi era um sonho antigo. “Sempre pensávamos em algo para o teatro em que pudéssemos atuar junto. Quando li o texto fiquei encantado”. Para seu personagem, o ator buscou inspirações em personalidades como Mandela e Malcom X e também do catador de lixo Rafael Braga, condenado a cinco anos de prisão por portar uma garrafa de desinfetante nos protestos de 2013.

Espaço atemporal

A cenografia de Sylvia Moreira cria um espaço íntimo, que é brutalmente invadido pelo carrasco, com uma diversidade de caminhos em uma clara referência às escadas de Escher, que assim como os figurinos, não se fixam em nenhuma época determinada.

A iluminação e a trilha sonora seguem a mesma proposta de se atingir a “menor grandeza” dos elementos utilizados para se potencializar a contundência poética.

Sobre o autor

Friedrich Dürrenmatt nasceu dia 5 de janeiro de 1921 na Suiça, na cidade de Knolfinger. Filho de um pastor protestante passou a maior parte de sua infância pintando e desenhando. Apesar de não ter obtido sucesso profissional como pintor, ele continuou desenhando e ilustrando as suas peças durante toda a sua trajetória. Em 1941 mudou-se para Zurique onde estudou teologia, filosofia, literatura alemã e ciências naturais. Com o tempo revelou-se como escritor e por algum tempo escreveu mais por necessidade do que por vontade, criando desde romances policiais até sketches para shows de cabaré. Porém, foi por intermédio do radioteatro, que naquela época eram eventos tradicionais da cultura alemã, que conseguiu os primeiros avanços em direção à dramaturgia.

A estreia de Dürrenmatt nos palcos com Está escrito (Es Steht Geschriebén), que tratava sobre os anabatistas, obteve uma péssima acolhida pelo público. A peça ridicularizava uma comunidade alemã que se tornava anabatista, tratando sobre a falência do poder e da experiência comunitária. Quando questionado se a peça fazia alusão ao fracasso da experiência socialista na Suíça, Dürrenmatt deixou clara sua posição ideológica ao se definir como um “protestante que protesta”. Dürrenmatt não era um otimista em relação ao gênero humano e se colocava a serviço de todas as desmistificações. Em seus textos ficava claro que não havia nenhum ilusão em relação os homens que sempre haviam de sucumbir ao poder, ao dinheiro, às instituições, independente da bandeira que carregassem. Dürrenmatt atacava com vigor os mitos históricos, o socialismo, o capitalismo, a concepção de herói, pois não acreditava numa vocação transgressora do homem. Para ele a liberdade só poderia ser encontrada através da arte.

Para imprimir essa visão amarga sobre a existência do homem, Dürrenmatt optou pela ironia, o humor agressivo, apostando numa relação híbrida entre comédia e tragédia, uma “comédia-grotesca”. Considerado por muitos como um dos mais brilhantes discípulos de Bertolt Brecht por atacar de forma corrosiva o comportamento humano e pela produção teatral anti-ilusionista, Dürrenmatt diferencia-se ao não defender qualquer ação redentora para os homens. Entre suas principais obras estão Rômulo, o Grande (Romulus der Grosse) de 1949, O Casamento do Senhor Mississípi (Die Ehe des Herr Mississipi) de 1952, Diálogo Noturno com um ser desprezado (Nächtliches Gespräch mit einem verachteten Mensch) de 1952, Um Anjo Vem à Babilônia (Ein Engel Kommt nach Babylon) de 1953, Os Físicos (Die Physiker) de 1962 e A Visita da Velha Senhora (Der Besuch der Alten Dame), que o consagrou mundialmente.

Estreia dia 16 de março, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro do Sesc Ipiranga.

Autor – Friedrich Durrenmatt.

Direção –Roberto Lage.

Elenco – Aílton Graça, Celso Frateschi

Cenário e Figurino – Sylvia Moreira. Assistente de Direção – Rodrigo Ramos. Iluminação – Roberto Lage. Fotos – João Caldas. Projeto Gráfico – Pedro Becker. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Administração – Mauricio Inafre.

Produção – Ágora Teatro. Duração – 60 minutos.

Recomendado para maiores de 14 anos.

Temporada – Até 22 de abril – sexta-feira e sábado às 21 horas e domingo às 18 horas.

Ingressos – R$ 30,00 (inteira); R$ 15,00 (estudante, servidor da escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 9,00 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).

 

SESC IPIRANGA – Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga. Telefone – (11) 3340-2000. Acesso para deficientes físicos. Bilheteria – De terça a sexta das 12 às 21 horas, sábado das 10 às 21h30 e domingo e feriado das 10 às 18 horas (ingressos à venda em todas as unidades do SESC). Capacidade do Teatro – 200 lugares. Não há estacionamento. www.sescsp.org.br.

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

Comentários

Please enter your comment!
Please enter your name here