A Galeria de Arte André abre, no dia 24 de março, a exposição Monográficas 1 – Carlos Scliar, do artista gaúcho Carlos Scliar. Com curadoria de Mario Gioia, a exposição traz cerca de 30 obras, entre pinturas, colagens e serigrafias feitas ao longo de toda a sua carreira.
Com uma trajetória reconhecida pela crítica e por colecionadores e curadores, Carlos Scliar conta com uma extensa produção ao longo dos 60 anos de seu trabalho como artista. Durante esse período, expôs em cinco ocasiões diferentes na Galeria André, em 1979, 1983, 1985, 1989 e 1995. Na atual exposição, há obras de diversas fases de sua trajetória, e ainda desta última exposição, feita em 1995, que contou com texto de Olívio Tavares de Araújo.
“No caso deste début do programa Monográficas, sobressaem a vitalidade da colagem, a mobilidade do gênero natureza-morta, a silenciosa opacidade das urbes em construção e as pulsantes relações plástico-visuais, em especial de cor e forma”, escreve Mario Gioia em seu texto curatorial.
“Queremos solidificar num projeto de exposições o que a Galeria André tem de mais importante em sua história e valorizar artistas que hoje estão eclipsados”, conta. Mario é curador do projeto Monográficas, em que traz artistas que fizeram parte da trajetória da Galeria, hoje com 61 anos de história. No segundo semestre de 2020, é a vez de apresentar uma individual do italiano Enrico Bianco.
Scliar transitou com uma volumosa produção entre as cidades de Cabo Frio, no Rio de janeiro, e Ouro Preto, em Minas Gerais. Mesmo não tendo sua produção desenvolvida em meio aos grandes centros, suas obras eram vistas em coletivas e exposições em prestigiados museus, instituições e centros culturais. É o caso da grande exposição retrospectiva realizada no Museu de Arte Moderna carioca, em 1970, com curadoria do influente crítico de arte Roberto Pontual, expondo mais de 800 obras.
Em texto exclusivo e inédito feito para a publicação de 60 anos da Galeria André, completados em 2019, a historiadora de arte, crítica e curadora Maria Alice Milliet afirma, a respeito de Carlos Scliar, que “sua pintura ia de encontro ao gosto de certo público que admirava o apuro técnico e a visualidade sóbria e equilibrada de suas telas. Em plena maturidade, nada em seus quadros fazia lembrar o gravador preocupado com a questão social que ele havia sido. Na pintura seguiu as lições de Cézanne e do cubismo, nos temas – naturezas-mortas, paisagens, retratos – e técnicas, inclusive a colagem”.
O cronista Rubem Braga, que o conhecia de longa data, diz que “Scliar desiste de consertar o mundo com sua arte. O que faz hoje é um exercício de beleza, que encerra uma louvação à vida”. Já Oswald de Andrade preconizou : “esse menino é uma vocação verdadeira…”. Esta Monográficas 1 – Carlos Scliar é uma rara oportunidade de revisitar a obra deste grande artista que já tem seu nome cravado na arte brasileira.
A Fundação Iberê Camargo, um dos principais centros culturais do sul brasileiro, localizada em Porto Alegre, realiza, até dia 8 de março de 2020, uma exposição de 180 trabalhos do chamado Grupo de Bagé, do qual Carlos Scliar foi membro importante. A exposição Os quatro – Grupo de Bagé, tem curadoria de Carolina Grippa e Caroline Hädrich. Além de Scliar, estão representados Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti e Danúbio Gonçalves.
Filho de intelectuais e de ascendência judaica, Carlos Scliar nasceu em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, indo a São Paulo e Rio de Janeiro com 19 anos, onde teve contato com o pintor Cândido Portinari. Destacado desenhista, gravurista, pintor, ilustrador, cenógrafo, roteirista e designer gráfico brasileiro, participou constantemente de exposições no Brasil e em todos os centros artísticos mundiais, acumulando êxito em todos eles. Ativista social engajou-se em vários movimentos, como o 1º Congresso da Juventude Democrática, na Checoslováquia e em manifestações brasileiras, seja produzindo cartazes ou ilustrando livros e revistas. Serviu à Segunda Guerra Mundial nos anos 1940 pela Força Expedicionária Brasileira (FEB). Na volta ao Brasil, atuou em movimentos contra a ditadura Vargas, com intensa participação política.
Realizou também trabalhos gráficos como para a peça teatral Orfeu da Conceição, do poeta Vinícius de Moraes que estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1956. Também faz trabalhos para o filme Rio Zona Norte (1957), do diretor Nelson Pereira dos Santos. Ainda no final da década de 1950, entre março de dirige o Departamento de Arte da revista Senhor, publicada no Rio de Janeiro.
Produziu também obras públicas como para o edifício sede do Banco Aliança, projetado pelo arquiteto Lucio Costa, no Rio de janeiro. Na década de 1970 produziu painéis para a Museu Manchete, no Rio de janeiro, para a prefeitura de Porto Alegre, para o Centro Administrativo de Salvador e para a Imprensa Oficial do Rio de Janeiro, em Niterói.
Nascido em São Paulo, em 1974, é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Integrou o grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2016, a mostra Topofilias, com sua curadoria, no Margs (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre, foi contemplada com o 10º Prêmio Açorianos, categoria desenho. É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009. De 2011 a 2016, coordenou o projeto Zip’Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos. Na ArtLima 2017 (Peru), assinou a curadoria da seção especial CAP Brasil, intitulada Sul-Sur, e fez o texto de Territórios Forjados (Sketch Galería, 2016), em Bogotá (Colômbia). Em 2018, assinou a seção dedicada ao Brasil na Pinta (Miami, EUA) e a curadoria de Esquinas que me atravessam, de Rodrigo Sassi (CCBB-SP).
Fundada em 1959 pelo romeno André Blau, a Galeria de Arte André é atualmente referência no mercado de arte brasileira. Com 61 anos de atuação, é considerada a maior galeria de arte da América Latina. Atualmente dirigida por Juliana Blau, a casa ajudou a forjar o mercado de arte no Brasil e passou por diversos endereços até se consolidar na Rua Estados Unidos, entre a Avenida Rebouças e a Alameda Gabriel Monteiro da Silva.
Referência no mercado de arte brasileira, há décadas a Galeria de Arte André acolhe gerações de artistas e incentiva o surgimento de colecionadores e amantes das artes. Conhecida pelo seu acervo de esculturas e obras de artistas como Aldemir Martins, Alfredo Volpi, Bruno Giorgi, Carlos Araujo, Carlos Scliar, Cícero Dias, Clóvis Graciano, Di Cavalcanti, Frans Krajcberg, Guignard, Hector Carybé, Manabu Mabe, Orlando Teruz, Roberto Burle Marx, Sonia Ebling e Tomie Ohtake, entre muitos outros, a casa oferece ao público exposições periódicas e projetos educacionais e culturais.
Em 2020, a Galeria de Arte André segue com a agenda repleta. Em maio, acontece exposição individual de Victor Brecheret, abrindo as comemorações dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, com curadoria ainda a definir. Em agosto, acontece a segunda Monográficas, dedicada a obra do italiano Enrico Bianco. E, para fechar o ano, em outubro, serão apresentadas as esculturas em mármore de Valdo Kerpen, com curadoria ainda a ser definida.