A rica produção de Emanoel Araujo reflete sua raiz africana, com ascendência nagô e iorubá, e o interesse nato do artista pela cultura popular baiana e as tradições modernistas brasileiras e europeias. “O Universo de Emanoel Araujo, Vida e Obra” eterniza o trabalho do artista, que convida à reflexão sobre a sociedade brasileira – ainda violenta, racista, desigual e injusta. Mais que um livro de arte é um registro histórico da cultura brasileira.
“O Universo de Emanoel Araujo” traça um panorama do artista. São cartazes, livros, xilogravuras, esculturas em aço, madeira, concreto, fibra de vidro; máscaras, painéis em mármore, concreto e granito; gravuras, totens, relevos, estruturas, biombos. Mais de 180 obras, inclusive de coleções particulares, pontuando as diversas fases do artista baiano. A “Geométrica”, por exemplo, explora padrões que dialogam com a arte africana; as “Máscaras” trazem cores e formas que remetem ao universo sagrado da cultura africana, inspiradas pelos orixás; já “Navios” expõe a violência do tráfico de africanos, encarcerados para serem escravizados. A publicação é uma edição limitada de 3 mil exemplares.
A publicação da Capella Editorial reúne textos, entrevistas e pensamentos de Araujo. Mostra a infância em Santo Amaro da Purificação (BA), os tempos de escola com seus amigos Caetano Veloso e Maria Bethânia; os primeiros apoiadores como o casal Jorge Amado e Zélia Gattai. O mestre Henrique Oswald, as primeiras exposições, o sucesso internacional, a mudança para São Paulo, a exposição em Zurique, a perseguição dos anos de chumbo, a ajuda do governo norte-americano até a fundação do Museu Afro Brasil e a mostra no Masp, em 2018.
“A mão firme e jovem comanda,o buril obedece. Corta a madeira, mostrando claros, abrindo sulcos, feroz e implacável, sobre a superfície lisa, que se deixa violar como um ato de posse. A nenhuma resistência cede o impulso criador; na determinação, vão-se um ímpeto, uma febre, um calor, que levam à aparente destruição de fibras e de tecidos e a lâmina corta, rasga, cruza, aprofunda-se e surge toda uma trama de relevos, à sua passagem.”