Com exposição, o pintor, dramaturgo, roteirista e apresentador Pedro Vicente traz reflexões sobre a harmonia impossível, na Galeria É, em São Paulo
“Estudos de uma harmonia impossível numa sociedade em surto de transformação”. Com essas palavras, Pedro Vicente define a exposição Manifesto Trágico, que abre na quinta-feira, 5 de abril, na Galeria É, do fotógrafo francês Jerome Sainte Rose, em São Paulo. Segundo o pintor, dramaturgo e apresentador do Canal Curta – ele roteiriza e apresenta a série documental Móbilis – a mostra abre uma perspectiva trágica sobre um conjunto de imagens abstratas que buscam retratar contrapontos melódicos a caminho de uma “harmonia impossível”. “As imagens apresentadas são registros desse caminho”, diz ele, sobre as obras, que incluem: a série de abstrações, óleos e aquarelas, em pequenos e grandes formatos; um grafite poema concreto que convida à ampliação de perspectivas; a performance “Atendimento Poético” – uma experiência lúdico-literária-midiática; e uma obra sonora, que nomeia o conjunto (programação abaixo). “No geral, as obras buscam transmitir a percepção de um nexo poético ativo no subterrâneo da realidade, como forma capturar harmonias impossíveis”, reflete.
Reconhecido no cenário das artes pelo seu trabalho de dramaturgo, Pedro acredita que as duas linguagens se constroem em um mesmo processo de materialização, a partir do contato físico e continuado entre obra e artista. “O resultado é um objeto imantado pela energia gerada nesse contato. Pra mim, nesse labirinto, o fio de Ariadne é o inconformismo evoluindo para um projeto de libertação”, diz ele, que entrou no ofício da arte pela porta do punk rock, aos 18 anos, quando recebeu o primeiro cachê por uma guig junto a um coletivo performático no palco do clube CBGB, em Nova York (EUA). Lá, também trabalhou como assistente da cenógrafa Daniela Thomas em montagens no Theater for the New City.
De volta ao Brasil, ele cursou artes cênicas na USP e traballhou como contra-regra e figurante da Companhia da Ópera Seca, de Gerald Thomas, e vocalista compositor da banda “Peixes do Tietê”, (em parceria com o autor de trilhas sonoras Antônio Pinto e com o fotógrafo Marcelo Tinoco). Em 1994, Pedro fez sua entreia no teatro com a peça “Banheiro”, com Luis Miranda e Graziela Moretto. No mesmo ano, expôs na coletiva Novos Noventa, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, e faz uma individual na extinta Galeria Lanterna.
Em 2003, Pedro começa a ganhar o mundo, iniciando em Londres, na Inglaterra, onde teve seu texto “Sem Memória” encenado pelo Royal Court Theatre, e por Renato Borghi no Brasil. Quatro anos depois, foi a vez do cinema nacional ganhar um roteiro de Vicente, que assina o longa Noel, o Poeta da Vila, de Ricardo Van Steen, com Camila Pitanga no elenco, e vencedor do prêmio de Público do Festival de Tiradentes. Nesse tempo, também roteiriza programas nas TVs Nickelodeon, Cultura, Bandeirantes e Sony, além de colaborar com as companhias teatrais Ópera Seca, Bendita Trupe, Cemitério de Automóveis e Teatro Promíscuo.
Em 2009, Pedro inicia uma série de exposições em parceria com instituições acadêmicas e de forma independente nas cidades de Berlim, Frankturt, Lisboa, Londres e Paris. Em 2011, vence uma batalha da Secret Wars Graffiti Euroleague durante o Hackney WickED Art Festival de Londres, e em 2014, faz uma residência artística no CSV Cultural Center em nova York, além de ter seu texto adaptado para o cinema no longa Noite da Virada, com Luana Piovani e Marcos Palmeira.
Em 2016 inicia mestrado na ECA USP, a ser defendido em setembro de 2018. Vale ressaltar ainda que, por enquanto, Pedro Vicente conta com nove textos encenados, “PromisQüidade”, vencedor do prêmio Funarte Flávio Rangel 97, e “Disk Ofensa”, indicado ao prêmio Shell 98. “Para mim, a arte tem uma função na evolução da espécie, que é transmitir informações como novas mentalidades, liberdades ou habilidades. É uma bússola no caminho da liberdade do ser humano. Eu percebo a realidade como um espetáculo encenado pelo coletivo artístico da humanidade, porque decifrar a poética desse espetáculo é libertador. Me interessa o nexo poético das coisas, e para mim, a vida é a mídia final”, finaliza Pedro Vicente.