Todo mar tem um rio, a mais nova exposição de Marina Rheingantz no Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel, reúne quatro pinturas de grande formato, reintroduzindo o trabalho da artista sob uma escala monumental. Cada uma das telas possui 3 metros de altura, com larguras que variam entre 3 e 5,5 metros, e juntas formam uma faixa quase contínua que preenche o amplo espaço na Barra Funda.
Desde o início de sua carreira, em 2008, Marina Rheingantz tem na paisagem o tema constante de sua pintura. Ela parte de cenas de viagens ou de recordações da infância – em especial, as vastas searas de Araraquara, cidade no interior de São Paulo onde nasceu – para compor ambientes remotos que tendem à abstração. Emanando uma atmosfera difusa como a própria memória, suas paisagens transitam entre a quietude e a distopia, nas quais a presença humana nunca se revela enquanto figura, mas através de vestígios.
Nos trabalhos recentes, ribanceiras, montes, galhos, ondas e pântanos se confundem com padronagens inspiradas na tapeçaria marroquina. Ao trazer tapetes e topografias para o mesmo plano, Marina parece resgatar o que ambos têm em comum: são locais de passagem, que convidam o espectador a dar um passo à frente e percorrer caminhos. Em Fuleragem (2018), a artista transita entre as diferentes escalas através de pinceladas densas e gestos curtos. A noção de perspectiva dilui-se na tela, borrando os limites entre terra e céu, ao passo que inúmeros pontinhos espalham-se como um bordado. De maneira similar, uma trama forma-se em Todo mar tem um rio (2018) – a obra que dá título à exposição – à medida que reflexos dançam cadenciados sobre a superfície da água.
Na paisagem árida de Kalimba (2018), uma camada opaca encobre a vegetação como um manto. Os tons ocres que dominam o quadro são interrompidos por pinceladas elétricas de rosa, laranja e azul, revelando um aspecto peculiar do processo da artista, que muitas vezes usa a superfície da tela como paleta para misturar as cores. É também indício do tratamento quase escultórico que Marina dá às espessas camadas de tinta, como uma argila colorida prestes a ser modelada. Em Rabetão de ouro(2019), a matéria liquefeita do barro (e, em sentido mais amplo, de sua própria pintura) torna-se o próprio assunto da obra. Um gestual enérgico dá forma ao que a artista descreve como “jorro de lama”, que alastra-se com violência por um cenário na iminência de desmanchar.
Marina Rheingantz (Araraquara, 1983) vive e trabalha em São Paulo. Ela também está atualmente em cartaz até 15 de Junho na Carpintaria, Rio de Janeiro, com a exposição Rebote, que promove o diálogo entre suas pinturas e as fotografias de Mauro Restiffe. Outras individuais recentes incluem: Várzea, Bortolami Gallery (Nova York, 2018); Galope, Zeno X Gallery (Antuérpia, 2017); Terra Líquida, Galeria Fortes Vilaça (São Paulo, 2016); Dot Line Line Dot, Nichido Contemporary Art (Tóquio, 2016). Entre as mostras coletivas, destacam-se: On Landscapes – Biennial of Painting, Museum Dhondt-Dhaenens (Deurle, Bélgica, 2018); Mínimo, múltiplo, comum, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2018); Projeto Piauí, Pivô (São Paulo, 2016); Soft Power, Kunsthal KAdE (Amersfoort, Holanda, 2016); Prêmio PIPA, MAM Rio (Rio de Janeiro, 2015). Seu trabalho está presente em importantes coleções como: Museu Serralves (Porto), Taguchi Art Collection (Tóquio), Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM Rio (Rio de Janeiro), Itaú Cultural (São Paulo), entre outras