As pinturas e desenhos de expressividade visceral da artista Renata Pelegrini apresentam a seu espectador paisagens singulares, paradoxalmente únicas e múltiplas em um mesmo tempo. Marcados por movimentos rápidos e precisos, seus trabalhos destoam da percepção comum que se tem do espaço. A partir do dia 5 de abril, o público poderá conferir de perto a produção recente da pintora na exposição que leva seu nome, realizada pela Janaina Torres Galeria.
Com curadoria de Marcelo Salles, a mostra reúne 15 obras da artista – pinturas e desenhos sobre tela, papel e linho. Os trabalhos trazem uma releitura não fidedigna de paisagens e vistas interiores, recriadas a sua maneira, ocupando o hiato que existe entre a representação e abstração.
“Nas telas e desenhos de Renata Pelegrini, os espaços que os originaram pouco importam. É a dimensão do que não é visível, captada pela artista, que os transforma em nenhum espaço e, por isso mesmo, levam o espectador a todo e qualquer lugar. É preciso que eles [os espaços] se reconstruam novamente em quem os vê”, afirma Salles
Os ambientes de Renata se aproximam das cidades inverossímeis descritas por Ítalo Calvino em seu livro Cidades Invisíveis. São lugares construídos por experiências diversas, dotados de ‘espírito’ e intimamente conectados a uma memória pessoal comum.
O preto é onipresente em sua obra. Não raro, surge como linha que estrutura os ambientes e ainda como cor. Da sombra, irrompe a luz. Tal como um imã, o negro atrai a atenção do espectador, que é levado a percorrer com os olhos a superfície da tela, muitas vezes impregnada por massas abstratas de cores tão marcantes quanto.
Renata aproximou-se da pintura por meio da caligrafia. O interesse pela técnica a levou a frequentar cursos pelo mundo e, por conseguinte, possibilitou a expansão de suas práticas. Tal histórico se faz presente em seus trabalhos atuais, onde a execução pictórica é subordinada ao ordenamento formal típico da arte de escrever à mão. Sua particular abordagem, entretanto, atribui um frescor contemporâneo às obras.
Várias de suas obras, inclusive, são rasgadas por finos traços, muitas vezes quase imperceptíveis. A discreta presença dessas linhas, entretanto, é proporcionalmente contrária ao protagonismo que adquirem na cena. São elas o norte da composição: sorrateiramente, conduzem a fruição do trabalho pelo espectador, propondo-lhe novas direções e desestabilizando o reconhecimento instantâneo do que seria uma imagem do real.
“A potência destes trabalhos não vem da pincelada vigorosa, do traço assertivo, da incisão mínima e certeira, da visceralidade do negro ou de aspectos matéricos; é pela possibilidade ao pensamento de quem vê que a potência surge”, pontua o curador.
Renata Pelegrini
Nasceu em 1967, em São Paulo, onde vive e trabalha. Graduada em Artes Plásticas, Letras e Educação. Residiu em nos Estados Unidos, Itália e na Suíça, onde expandiu sua experiência com caligrafia. Desde 2011 é orientada por Paulo Pasta, estudou com Rodrigo Naves e integra a Escola Entrópica, com orientação de Galciane Neves.
Serviço:
Individual de Renata Pelegrini, com curadoria de Marcelo Salles
Local: Janaina Torres Galeria
Endereço: Rua Joaquim Antunes 177, sala 11
Abertura: 5 de abril, quinta-feira, das 19h às 22h
Período expositivo: de 6 de abril a 25 de maio
Conversa com o público: 10 de abril, das 19h às 22h
Horário de Funcionamento: seg a sex – das 10h às 19h e sábados – das 11h às 15h Entrada gratuita