Ricardo Basbaum na Galeria Jaqueline Martins

Por Paulo Varella - junho 1, 2017
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Ricardo Basbaum ganha exposição na Galeria Jaqueline Martins

 

A partir do dia 3 de junho, uma seleção em grande parte inédita, feita pela curadora Marta Mestre, de desenhos, pinturas, fotografias, peças gráficas, vídeos e objetos produzidos entre 1981 e 1996, propõe conexões com o presente através da revisitação das décadas

 

Pensada a partir de um percurso não-cronológico sobre uma produção extensa e pouco vista de Ricardo Basbaum em torno de alguns dos núcleos mais consolidados de seu trabalho dos anos 80 e início dos anos 90, tais como, uma série de Pinturas e experiências em espaço público (1985-87), a série Cabelo (1985-86), o projeto Olho (1984-1990) e o projeto NBP – Novas Bases para a Personalidade (iniciado em1989/90), a exposição Ricardo Basbaum: corte-contaminação-contato abre dia 3 de junho, na Galeria Jaqueline Martins, em São Paulo, com a curadoria de Marta Mestre.

 

“A exposição coloca em evidência a necessidade de revisão dos relatos estabelecidos sobre a arte dos anos 1980 e 1990, a partir de um corpus de trabalho aberto a uma constelação de referências cruzadas, e que amplia as relações do universo de arte brasileiro com contexto internacional: da atuação no espaço público de Antoni Muntadas às estéticas do it yourself (DIY), do Poema-processo de Wlademir Dias Pino ao uso de novos suportes e mídias por Julio Plaza, dos slogans de Barbara Kruger à ideia de participação de Hélio Oiticica e Lygia Clark, etc”, afirma Marta.

 

Ocupando os dois pisos da galeria, a mostra percorre tanto os impasses e as oscilações criativas quanto os projetos mais consolidados, dando especial ênfase à ideia de “série”, procedimento utilizado pelo artista como forma de criar sequências que são ao mesmo tempo visuais e discursivas, muitas vezes propensas à “contaminação” ou mesmo à “viralização” – conceito forjado na cultura mediática daqueles anos, imediatamente anterior à revolução digital que viria a seguir.

 

No primeiro piso, apresenta-se aquilo que se pode considerar como um “reader” ou guia de leitura do léxico do artista. Através de desenhos, croquis, livros, anotações, documentação, textos, filipetas, etc, organizados sobre mesas de trabalho, acompanha-se o processo criativo e reflexivo de Ricardo Basbaum.

 

Reunem-se aqui alguns de seus “primeiros escritos”, assim como os marcos conceituais da sua “invenção como artista”, simultaneamente e discursiva, sendo possível entender as linhas de atuação ali adotadas, que se distanciam criticamente do regresso à pintura típico dos anos 1980, e propõem novos sentidos para a arte enquanto experiência afetiva e sensorial da sociabilidade e da linguagem – percurso de trabalho que o artista irá aprofundar no desdobramento de sua obra até a atualidade.

 

No segundo piso da galeria, três núcleos que correspondem às três etapas enunciadas no título da exposição: “corte”, “contaminação” e “contato”. Um primeiro conjunto de pinturas de 1985 e uma “pintura/instalação” (série Raio-X) de 1987, dominadas de signos Pop em cores primárias sobre fundos preto ou cinza, evidenciam um “impulso gráfico” feito de linhas diagramáticas e imaginário mediático, que em meados da década seguinte viria a dar corpo ao projeto de longa-duração da série Diagramas.

 

Recentemente os Diagramas foram objeto de uma exposição antológica no Centro Galego de Arte Contemporánea (2013, Santiago de Compostela, Espanha) e publicados em forma de livro pela editora Errant Bodie Press (2016, Berlim, Alemanha): Ricardo Basbaum: Diagrams, 1994 – ongoing.

 

Um segundo núcleo comporta um conjunto de fotografias – série Corte de Cabelo, 1985/86 – que coloca em evidência o corpo do artista. Etapas de um corte de cabelo e uma situação em que Ricardo Basbaum aparece travestido, misto de personagem oriental e de figura do universo dos quadrinhos, apontam para caminhos de “desconstrução” de identidades e referentes culturais. A série Corte de Cabelo, 1985/86, marca a passagem das experiências com pintura e das intervenções em meios de comunicação de massa (da Dupla Especializada) para o projeto “Olho” – este, funcionando como logomarca “viral” que o artista cria em 1984, um elemento omnipresente e contaminador, em postais, stickers, vídeos, calendários, filipetas, etc.

 

Um novo diagrama feito especialmente para esta exposição é apresentado neste núcleo, mediando imagens e palavras a partir de uma ferramenta de conectividade, que costura a produção do artista, desde os anos 80 até hoje. “Este novo diagrama aponta algumas inter-relações de diversas etapas de meu trabalho, atualizando-as a partir do que constitui minha prática hoje, em suas principais linhas de força. Procuro mostrar uma prática de artista que se organiza a partir de núcleos geradores de interesse, ao mesmo tempo visuais e discursivos, que adquirem maior densidade e espessura à medida que se distribuem em contato com sua recepção, explorando regiões de repetição e oralidade”, conta Basbaum.

 

É também apresentada a primeira cápsula NBP, de 1993, um objeto escultórico construído em escala corporal, visando a utilização participativa, que vem a abrir caminho para os projetos arquitetônico-escultóricos que seriam retomados a partir dos anos 2000, da mesma série que foi adquirida pela Tate Collection e apresentada em instalação na inauguração da Nova Tate Modern, Londres, 2016.

 

Ricardo Basbaum (1961) integra desde 2016 o time de artistas da galeria Jaqueline Martins junto com Stuart Brisley, Hudinilson Jr e o coletivo 3nós3, entre outros.

 

Ricardo Basbaum: Corte-Contaminação-Contato

Pinturas, objetos, fotografias, desenhos e vídeos

 

Abertura:

Dia 3 de junho, sábado, às 12h

Visitação: Seg. a sex., 10h/19h; sáb., 12h/17h

Até dia 22 de julho de 2017

Entrada Gratuita

 

Galeria Jaqueline Martins

Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 443 | Vila Buarque | tel: 2628-1943

www.galeriajaquelinemartins.com.br

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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