Em TERRÁRIO – DANÇA PRIVÊ NUM PORTAL INTERDIMENSIONAL o artista curitibano Maikon K trabalha nas fronteiras entre performance e dança, teatro e ritual. A ação faz apresentações dias 23, 24 e 25 de fevereiro, sexta-feira e sábado às 21h30 e domingo às 18h30.
O foco da arte de Maikon K é o corpo como instaurador de realidades e os limites entre humano e não humano. A ação dá continuidade à pesquisa do artista também presente em DNA de DAN, selecionada pela artista Marina Abramovic para integrar a exposição Terra Comunal, em março de 2015, no Sesc Pompeia, em São Paulo.
Estruturada em duas partes distintas, a performance é sobre observar e ser observado, sem no entanto se deixar tocar. O nome da ação remete ao recipiente que recria as condições ambientais para a criação de animais ou plantas, fora do qual é possível observar o comportamento dos seres vivos em seu interior.
Cubo negro
Na primeira parte de TERRÁRIO – DANÇA PRIVÊ NUM PORTAL INTERDIMENSIONAL, Maikon K está em pé e aguarda a entrada do público. No chão à sua frente, uma superfície feita com pedaços de espelhos. Ao fundo da sala, um cubo negro de três metros de altura. O performer se ajoelha e, enquanto fala, tira sua roupa. Ele então executa uma dança sobre os espelhos: ilusionismo erótico, corpo estilhaçado, manipulação biológica, hipnose. “Nesta etapa, o foco está na relação com os espelhos, na luz que se reflete e na música”, explica ele.
Num segundo momento, Maikon K entra no cubo. Essa caixa preta é forrada com areia e espelhos cobrem as paredes. Um microfone está posicionado no teto e os sons produzidos no interior do cubo saem em caixas acústicas do lado de fora, manipulados pelo músico Beto Kloster. O público se coloca na posição de voyeur e assiste à performance através de pequenas janelas, podendo escolher para onde quer olhar, captando pedaços e reflexos do corpo que ali se move. O jogo de espelhos permite ao espectador criar diversas perspectivas. O artista se relaciona com a areia e desenterra peças de roupa: um arreio de couro e uma saia negra. “Neste peep show xamânico construo gradativamente uma persona, que emerge através da minha voz, respiração e movimentos. Um jogo de espelhos onde o público observa e também é observado. Contemplando o aparecimento e morte de sucessivos estados e imagens”, conta o artista.
Para Maikon K no mundo atual de webcams e fotos instantâneas, capturamos, selecionamos e oferecemos nossa imagem a uma multidão de olhos. Imagem que se alastra sem controle, viral. “Podemos nos comunicar com o mundo de dentro de nosso quarto, carro, banheiro, prisão. E o mundo vem até nós, fibra ótica, sorvido pelas retinas vidradas. Consumimos um mundo-imagem, e somos por ele consumidos”, acredita ele.
Liberdade de expressão
Como campo de experiências sensíveis, a arte tem potência para dar forma a territórios poéticos heterogêneos, onde coexistem liberdades de expressão e expressões de liberdades diversas. Por meio da presente atividade, o Sesc reitera o seu compromisso com a cultura e com a educação, ao trazer à baila produções e processos artísticos que debatem a liberdade de expressão concretamente, em sua imbricação com a liberdade dos corpos – que precisa ser construída permanentemente.
Sobre Maikon K
Natural de Curitiba – PR, 1982. Trabalha nas fronteiras entre performance, dança e ritual. O foco de sua pesquisa é o corpo como instaurador de realidades e matriz simbólica. Sua formação iniciou-se em 1997 nas Artes Cênicas e agrega diversas áreas de conhecimento: graduado em Ciências Sociais (ênfase em Antropologia do Teatro), há treze anos pesquisa formas de expansão da consciência através de práticas corporais e ritos ancestrais em ligação com os elementos da natureza. Em Guilhotina (2008) – musical xamânico-terrorista para um ator em sala de aula – a ação acontecia numa sala de universidade. Em 2011, como artista residente da Casa Hoffmann (Centro de Estudos do Movimento), realizou Paisagem de Gesto e Voz, em que integrava movimento e sonorização vocal para gerar formas arquetípicas. Em 2013, criou Corpo Ancestral, em que investiga a dança como meio de alcançar estados ampliados de consciência. No mesmo ano estreou a dança-instalação DNA de DAN, contemplada pelo Prêmio Funarte Klauss Vianna 2012. Ambos os trabalhos investigam os limites entre humano e não-humano. Em 2015, criou uma segunda versão de Corpo Ancestral e estreou Terrário – dança privê num portal interdimensional, em que utiliza espelhos e areia como materiais. O centro de seu trabalho é o corpo e sua capacidade de alterar percepções, influenciado pela visão de mundo xamânica, em que o performer se desdobra em diversas realidades através de técnicas corporais específicas, por meio de canção, som não verbal, dança, signos visuais e atividades ritualizadas. Em 2015, foi convidado pela artista da performance Marina Abramovic para apresentar DNA de DAN na exposição Terra Comunal, em março/maio de 2015, no Sesc Pompeia. Para o ano de 2016, prepara seu novo trabalho O Ânus Solar, contemplado com o Prêmio Funarte Myriam Muniz 2015 e inspirado na literatura de Georges Bataille.