“Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos.” A afirmação é do filósofo grego Aristóteles, autor da teoria de que o ser humano percebe o mundo através de cinco sentidos: visão, tato, olfato, paladar e audição. A obra de Anaisa Franco faz valer a tese. A artista combina arte e tecnologia para dar vida a esculturas e instalações sensoriais, nas quais o pensar é ativado pelos sentidos. Um conjunto destas criações será exibido em Expanded ID/ID Expandida, mostra individual que ela apresenta até 3 de agosto na Galeria Lume.
Anaisa Franco passou os últimos anos em trânsito pela Europa, Ásia e Austrália. No decorrer desta jornada, tornou-se mestre em artes digitais e desenvolveu uma série de estudos acerca das conexões entre os sentidos humanos e suas criações tecnológicas interativas.
Filha de mãe psicanalista, Anaisa age com o mesmo rigor e a curiosidade que movem um cientista. E é assim que investiga e questiona a possibilidade de inserir comportamentos, sentimentos e emoções em máquinas esculturais. Ela sente o mundo de diferentes formas e quer que o público sinta o mesmo.
Hoje, em seu trabalho como artista que vive no mundo digital, Anaisa usa artifícios como a eletricidade para gerar vida às peças que outrora eram inertes. É o que ela faz em Expanded ID (2018), uma instalação de arte pública interativa que capta a impressão digital do visitante e a transforma em uma animação generativa. A partir da interação do espectador, tal qual mãos percorrendo um piano, a obra pulsa em blocos 3D coloridos com formas únicas que mudam de acordo com as impressões digitais de quem participa. O trabalho foi desenvolvido durante a residência Homeostase, na FABLAB Garagem, em São Paulo, e no Exhbited City Life Festival, em Xangai, na China.
Anaisa Franco cunhou termos próprios para definir algumas de suas obras. Confusion (2014), trabalho formado por uma cabeça com duas faces, foi denominado por ela como uma escultura emocional. Feita durante uma temporada da artista no Museu de Arte Contemporâneo da Gas Natural Fenosa, em La Coruña, na Espanha, a obra teve um processo de criação bastante complexo. Franco teve de usar sua própria cabeça como molde e transformou uma bola de plasma em um sensor que ativa diálogos confusos a partir do toque do visitante.
A comunicação entre humano e máquina volta a surgir em On Shame (2014), instalação feita em colaboração com o músico e programador Scott Simon. O trabalho é composto por um dome transparente que captura o rosto do espectador através de uma câmera. A imagem é distorcida, muda de cores e emite diálogos, vozes inconscientes.
“Uso conceitos da psicologia e das ciências cognitivas para criar interfaces que relacionam o físico com o digital. É um processo de constante experimentação de novos materiais e métodos de concepção digital. Tudo isso para, no fim, chegar a uma situação afetiva”, explica a artista.
As criações de Anaisa Franco funcionam como organismos vivos e, assim como os humanos, precisam ser nutridas. A base dessa alimentação é a interação com o público e, não à toa, ela concebeu uma espécie de cozinha digital. Trata-se de Sweet Reflection (2016), instalação projetada em forma de um grande favo de mel. Lá dentro, o visitante vai se deparar com uma câmera fotográfica para mapear seu rosto e uma impressora 3D que transforma a imagem em panquecas de chocolate. A artista instiga o participante a, literalmente, comer sua selfie. As fotos ainda são convertidas em adesivos e inseridas nas células que compõem a obra, formando, assim, uma espécie de memorial temporário.
A todo tempo e de formas diversas, Anaisa Franco provoca o público a se ver do avesso e a atravessar um misto de sensações e sentimentos. É um percurso que pode ser feito através de obras como Your Wave of Happiness(2014), designada pela artista uma escultura sensível e interativa que gera ondas de luzes coloridas a partir da interação do visitante.
Anaisa Franco (1981) nasceu em Uberlândia, Minas Gerais, e vive e trabalha em São Paulo. É Mestre em Arte Digital e Tecnologia pela Universidade de Plymouth, na Inglaterra, e se formou em Artes Visuais na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) em São Paulo.
Nos últimos anos vem desenvolvendo trabalhos sobre novas mídias em laboratórios digitais, residências e comissões, entre os quais, a Medialab Prado, Mecad, MIS, Hangar, Taipei Artist Village, China Academy of Public Art Research Center, Mediaestruch, Cite des Arts, ZKU, SP_Urban, MAC Fenosa, CCS Creativity and Cognition Studios at UTS, Vivid Sydney 2015, entre outros. Suas obras foram expostas no EXIT Festival em Paris; ARCO Madrid na Espanha, Europalia em Bruxelas, Live Ammo no MOCA Museum of Contemporary Art em Taipei, Taiwan, TÉKHNE no MAB em São Paulo, Brasil, Sonarmática no CCCB em Barcelona, Espanha, no 5th Seoul International Media Art Bienalle, Seoul, Coréia; Vision Play no Medialab PRADO, Experimenta Biennial na Austrália e muitos outros espaços. A artista atualmente é representada pela Galeria Lume, de São Paulo.
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