André Griffo 'Altar Marajoara'. Foto Edouard Fraipont
O Paço Imperial inaugura a grande exposição “Alto Barroco”, com um panorama dos quatorze anos de trajetória do artista André Griffo. Com curadoria de Juliana Gontijo, serão apresentadas mais de 50 obras, entre pinturas e instalações, sendo muitas inéditas, que ocuparão o pátio principal, três salões do primeiro pavimento e dois salões do segundo pavimento do Paço Imperial. Esta é a primeira exposição individual do artista em uma instituição no Rio de Janeiro, após ter participado de diversas coletivas, além de individuais no Centro Cultural São Paulo e no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
“A ideia é mostrar um panorama do que o artista vem fazendo, mas não apresentar de modo cronológico, principalmente porque muitas de suas séries, além de atravessarem vários anos, também terminam tendo algum tipo de comunicação, de relação entre elas”, conta a curadora Juliana Gontijo, que acompanha há mais de 10 anos o trabalho do artista.
Desta forma, a exposição no Paço Imperial estará dividida por temas, relacionando obras produzidas em diferentes épocas da trajetória do artista, apresentando trabalhos importantes como “Back to Olympia” (2017), “Sala dos provedores” (2018), “O Vendedor de miniaturas” (2021) e “Instruções para administração de fazendas 2” (2018), além de duas pinturas produzidas especialmente para a exposição e outras pertencentes a coleções particulares nunca antes expostas ao público. “Griffo é muito conhecido pelas pinturas em grandes dimensões. Por isso, a ideia foi também trazer outros suportes, técnicas e materialidades com os quais ele trabalha — que talvez sejam menos conhecidas ou menos referenciadas. Não se trata de uma exposição de pintura tradicional”, afirma a curadora.
Formado em Arquitetura e Urbanismo, Griffo iniciou sua produção no campo das artes visuais criando composições em que máquinas e estruturas mecânicas dividiam espaço com fragmentos de corpos — sobretudo de bois e porcos — em cenas densas, impregnadas de signos de violência e morte. A partir de 2014, o artista desloca seu foco para uma investigação pictórica em que a arquitetura, representada com precisão técnica, assume papel central, com pouca ou nenhuma presença humana. Nas obras mais recentes, Griffo revisita obras fundamentais da história da arte, apropriando-se de seus repertórios visuais para tencionar episódios históricos em que religião, poder e violência se entrelaçam.
A pintura de André Griffo articula crítica e reverência, numa linguagem barroca que reivindica o excesso como estratégia discursiva. Através de suas pinturas, o artista faz uma contundente crítica social, abordando questões de poder, religião, questões raciais, política, etc. “O tema central do meu trabalho é a religião e como ela vem sendo usada como uma ferramenta de controle desde o Brasil colonial até a união das milícias com algumas igrejas evangélicas para dominar áreas na cidade”, conta o artista. “O trabalho do Griffo traz camadas bastante complexas, nas quais emergem relações entre religião, poder e patriarcado, além da questão da colonialidade. O interessante é como tudo isso se cruza com a história da arte, questionando qual é o papel da produção artística — e da própria arte — nesse contexto”, ressalta a curadora.
Para criar as obras, Griffo faz um profundo trabalho de pesquisa, indo aos locais retratados, vendo pessoalmente as pinturas que usa como referência, estudando os personagens. Sobre o título da exposição, “Alto Barroco”, a curadora explica: “Vem de uma constatação do excesso, do lugar e função do ornamento, pensando o Barroco na contemporaneidade. O barroco é o excesso, a saturação, mas também a confusão dos limites; é simultaneamente a dominação e a resistência. A gente joga com essa ambiguidade”.
André Griffo (Barra Mansa, 1979. Vive e trabalha no Rio de Janeiro). Entre suas principais exposições individuais destacam-se: Exploded View (Galeria Nara Roesler, Nova York, 2023); Voarei com as asas que os urubus me deram (Galeria Nara Roesler, São Paulo, 2022); Objetos sobre arquitetura gasta (Centro Cultural São Paulo, 2017); Intervenções pendentes em estruturas mistas (Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2015). Também apresentou obras em coletivas como: – From the Ashes, London, UK, 2024; Contratempo, Museu Eva Klabin, Rio de Janeiro, Brasil, 2024. Parada 7 Arte em Resistência (Centro Cultural da Justiça Federal RJ, 2022); Casa Carioca (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, 2020/21); Sobre os ombros de gigantes, Galeria Nara Roesler, NY, EUA, 2021; 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil (Sesc 24 de Maio, São Paulo, 2019); Ao amor do público (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, 2015); Aparições (Caixa Cultural, Rio de Janeiro, 2015); e Instabilidade estável (Paço das Artes, São Paulo, 2014). possui obras em importantes coleções públicas e privadas, tais como: Denver Art Museum; Kistefos Museum (Noruega); Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro); Museu da Fotografia (Fortaleza, CE); Instituto Itaú Cultural (São Paulo) e Instituto PIPA (Rio de Janeiro).
Juliana Gontijo (Rio de Janeiro, 1980) é curadora, pesquisadora e professora adjunta na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É doutora em História e Teoria das Artes pela Universidad de Buenos Aires, com formação em Estudos Cinematográficos (Université Sorbonne Nouvelle) e em História da Arte e Arqueologia (Université Le Mirail). É autora do livro Distopias Tecnológicas (Ed. Circuito, 2014), vencedor da Bolsa de Estímulo à Produção Crítica da Funarte. Atuou como curadora da 9ª Bolsa Pampulha, integrou o comitê curatorial da 21ª Bienal Sesc_Videobrasil e realizou curadorias em instituições como Centro Cultural Banco do Brasil, Casa do Povo, Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes, Centro Cultural Parque de España (Argentina). Entre seus projetos recentes, destacam-se Baile Circular (MUNTREF, Buenos Aires, 2024), Manto em Movimento (Casa do Povo e MAC USP, São Paulo, 2023), Kwá yepé turusú yuriri assojaba tupinambá (Galeria Fayga Ostrower, Brasília, e Casa da Lenha, Porto Seguro, 2021) e Cildo Meireles: Cerca de Lejos (Centro Nacional de Arte Contemporáneo Cerrillos, Santiago, Chile, 2019).
André Griffo – Alto Barroco
Abertura: 14 de junho de 2025, das 15h às 19h
Exposição: até 10 de agosto de 2025
Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial [Térreo, 1° e 2° pavimentos]. Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro – RJ
Terça a domingo e feriados, das 12h às 18h.
Entrada gratuita
Curadoria: Juliana Gontijo
Patrocínio: Itaú Unibanco através da Lei Rouanet
Apoio: Galeria Nara Roesler
Produção: Tisara Arte Produções
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