Exposições e Eventos

Artista Raquel Rocha homenageia grandes mães de santo brasileiras com “OBIRIN OMI – Mulheres Água”

Raquel Rocha assina a exposição “OBIRIN OMI – Água”, apresentada pelo Orum Aiyê Quilombo Cultural, que presta homenagem a grandes mães de santo brasileiras, reconhecendo-as como pilares históricos na preservação e difusão da cultura afro-brasileira. A mostra, em cartaz na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, na Gamboa (RJ), fica aberta ao público até 11 de outubro, com entrada gratuita. Com curadoria de Mariana Maia, produção artística de Rona Neves e realização da Galeria Pretos Novos e do Instituto Pretos Novos.

“Como mulher negra e candomblecista, sinto que precisamos evidenciar o enfrentamento dessas mulheres, que resistiram em um Brasil escravocrata e racista. Elas mantiveram os terreiros vivos, e a força delas ecoa em nós hoje”, Raquel Rocha ressalta.

Raquel Rocha. Crédito: Lucas Almeida

A exposição traz ao público obras da série “As Matriarcas”, em que a artista resgata a memória e o protagonismo de grandes mães de santo brasileiras. Produzidas em acrílica sobre peneiras bordadas com 16 búzios, acompanhadas de uma quartinha com água (símbolo da vida e do ancestral), as pinturas são tanto registro histórico quanto gesto de resistência.

Entre as inúmeras referências presentes na exposição estão Mãe Gilda de Ogum, vítima da intolerância religiosa e símbolo nacional da luta contra o racismo religioso. A data de seu falecimento (21 de janeiro) é estabelecida como o Dia de Luta Contra a Intolerância Religiosa; e Mãe Sussu, figura essencial na consolidação do Candomblé no Brasil.“Quero mostrar essas mulheres na centralidade da formação e manutenção dos terreiros”, destaca Raquel.

Sobre a artista Raquel Rocha

Raquel Rocha propõe uma poética em que a memória e o culto mantêm vivas as trajetórias das mães de santo, erguidas como um verdadeiro exército de ancestrais que fortalecem as pessoas diante do racismo. E assim, Raquel pesquisa a arte como território de fissuras e fricções, que são cicatrizes abertas pela escravidão no Brasil, mas que, ao se encontrarem, formam novos cursos d’água capazes de cicatrizar as feridas históricas do povo preto. “Essas fendas canalizam águas de resistência, formando bacias, rios e lagos que se tornam um grande aquífero fecundo, de onde brotam e se fortalecem as diversas camadas da cultura afro-brasileira. Nesse caminho, o papel das mulheres pretas é crucial: são elas que fertilizam o solo e orientam o percurso da água, garantindo a resistência da nossa memória e a formação da cultura brasileira”, afirma.

Raquel Rocha. Crédito: Lucas Almeida

Diante do embranquecimento presente em muitos terreiros atualmente, Raquel Rocha reforça a importância de reconhecer e valorizar o papel histórico das mulheres negras na formação e manutenção do Candomblé. “O terreiro tem raiz preta, e não será arrancada dele por mais que a branquitude queira. Minha exposição é também um posicionamento político”, afirma a artista.

Ao refletir sobre o legado dessas matriarcas, a artista ressalta que suas trajetórias não apenas sustentaram terreiros, mas também abriram caminhos de cura e resistência para as gerações seguintes. “Essas mães criaram cursos de água de cicatrização. Criaram paisagens possíveis de resistência, de luta, de manutenção de memória. Isso dentro de um Brasil completamente escravocrata. Quero que o público saia da exposição com essa força e esse estímulo para continuar lutando”, conclui Raquel.

A mostra também ganha força pelo espaço em que acontece: o Instituto Pretos Novos, localizado onde funcionava o Cemitério dos Pretos Novos, destinado ao sepultamento de africanos recém-chegados que não resistiam à travessia do Atlântico. Em 2005 foi transformado em espaço de memória e resistência, tornando-se uma das principais referências no Rio de Janeiro sobre a história da escravidão e da diáspora africana.

Serviço

Local: Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea – Instituto Pretos Novos (Gamboa, Rio de Janeiro)
Endereço: Rua Pedro Ernesto, 36 – Gamboa, Rio de Janeiro – RJ
Período de visitação: 12 de setembro até 11 de outubro de 2025
Horários de visitação: Terça a sexta, das 10h às 16h; Sábado, das 10h às 13h
Entrada: gratuita

Exposição Água Pantanal Fogo retorna ao Brasil, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro

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