Diversas formas, cores vibrantes e eletrizantes, ritmos intensos percorrem cada uma das 17 obras de arte que Mattia Denisse (nascido em Blois, França, 1967) apresenta na exposição “Pau-podre”, na Rialto6, em Lisboa. Essas pinturas, datadas de 2022 e 2023, podem ser interpretadas como explorações pictóricas de um campo metafísico. Segundo o curador João Maria Gusmão, Denisse é um operário portuário das obras metafísicas.
Essa descrição é precisa, pois permite situar essas representações materiais não apenas no campo das explorações visuais, nem entendê-las como meros experimentos de composição, mas fixá-las em um contexto em que a experiência visual surge a partir do indivíduo consigo mesmo, com os outros e com o universo que o cerca. Nesse sentido, essas pinturas são metafísicas, pois, apesar de não renunciarem à sua natureza material (tinta acrílica sobre tela), almejam ser limiares ou portais que, ao serem atravessados, concedem acesso a um lugar existencial, um espaço simultaneamente dentro e fora do mundo habitualmente habitável.
O trabalho de Denisse é fortemente influenciado pela literatura, poesia e filosofia, e embora não haja relações diretas estabelecidas – essas pinturas não ilustram teses nem obedecem a um programa específico -, encontramos aqui um espaço fictício e especulativo. Se o absurdo da existência é, como sugerido, o grande tema do trabalho desenvolvido por esse artista, esse absurdo é abordado por meio da construção de lugares que não se destinam a ser habitados por corpos, mas por espíritos e espectros.
Nessas pinturas, surgem diversas representações espaciais que abrangem casas ou lugares singulares de moradia, paisagens, interiores geológicos e botânicos. Elas evocam a sensação de um ser humano momentaneamente autorizado a habitar esses lugares encantados e mitológicos. São espaços originários da criação do mundo e da humanidade, mas com uma localização desafiadora. Às vezes, parece que estamos imersos no mundo que conhecemos, com seus habitantes habituais; outras vezes, somos convidados a dar um passo além desse mesmo mundo. E é esse espaço abismal e intersticial que se adequa a essas pinturas: o abismo da existência torna-se uma imagem atuante, ou seja, imagens que eliminam a distância com o espectador e agem diretamente sobre ele, impactando sua sensibilidade e reflexão.
“Pau-podre” De Mattia Denisse
Curadoria de João Maria Gusmão
Local: Rialto 6. Rua Conde Redondo 6, 1° andar. Lisboa – Portugal.
Abre às sextas-feiras das 15h às 19h30. Até 21 de Julho
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