As antigas civilizações atraem a pesquisa e a imaginação, no caso da egípcia existe interesse especial pelos seus mistérios, pirâmides, sarcófagos, hieróglifos entre tantos aspectos reveladores de um povo e de uma época marcante do mundo.

A mostra “Egito Antigo: do Cotidiano à Eternidade” no CCBB deve ser apreciada em todos os detalhes, reunindo 140 peças que fazem parte do riquíssimo acervo do Museu Egípcio de Turim, localizado no Piemonte, na Itália, considerado o segundo maior acervo do mundo sobre o apaixonante tema com 26.500 peças, sendo superado somente pelo Museu do Cairo.

Percorrer o espaço e observar as esculturas, as pinturas, os amuletos, os objetos do cotidiano, os sarcófagos e as múmias é extremamente revelador, percebe-se a sutileza e o refinamento das peças expostas, a elegância do design de itens do cotidiano, a pureza da linha, da concepção de uma civilização em que a estética ganhava espaço na sua dimensão plena.

No Rio, a mostra atraiu 1,4 milhões de pessoas, tendo em vista o fabuloso espaço da sede carioca bem mais amplo que o paulistano, que tem salas recortadas num reduzido campo de circulação.

Peça da mostra “Egito Antigo: do Cotidiano à Eternidade”, no CCBB de São Paulo

Em 2001, aconteceu a instigante mostra A Arte no Egito no Tempo dos Faraós, no Museu de Arte Brasileira da FAAP com 56 peças provenientes do Museu Louvre e no mesmo ano o MASP abriu a mostra Egito Faraônico, Terra dos Deuses, ambas foram intensamente comentadas e visitadas.

A atual, porém, faz uma incursão mais incisiva, perscruta aspectos sutis da época dos faraós, estimulando o aprofundamento da pesquisa histórica envolvendo sensibilidade e estética de uma civilização que tem muito a revelar no amago dos seus significados mais profundos.

O Egito Antigo surgiu no IV milênio a.C. e teve seu término com a conquista árabe, que representa o final da época copta em 641 da nossa época. O Egito é na realidade um longo oásis cercado por desertos, o rio Nilo é a essência da vida, dando ritmo e fertilidade ao solo, com um sistema de irrigação eficiente para uma produção agrícola notável.

A presença divina com a sua multiplicidade de deuses é refletida em todos os pormenores, dos objetos simples do cotidiano aos mais imponentes e requintados exemplos de arquitetura e escultura, passando por uma ampla gama de peças excepcionais que espelham a originalidade e a criatividade de uma civilização que exerce fascínio.

Via: Quanto Custa Viajar

Um dos destaques da mostra é a estátua da deusa Sekhmet, uma divindade guerreira com cabeça de leoa com 2 metros de altura e meia tonelada, realizada com uma rocha especial, chamada granodiorito e tendo como época os anos 1390 e 1353 a.C. aproximadamente. A peça está colocada estrategicamente num espaço bem apropriado, sendo apresentada com uma placa de compensado coberta com folhas de ouro, uma nobre presença que impressiona o visitante.

No térreo foi montada uma réplica da pirâmide de Gizé, com aproximadamente 6 metros de altura, produzida aqui mesmo, para criar um impacto visual no hall de entrada do CCBB. A peça tem uma superfície feita de isopor em tiras, pintadas com a mesma cor das imponentes construções egípcias.

Uma outra atração especial é sem dúvida alguma o conjunto de itens formado por esculturas, caixões e uma múmia humana de uma mulher chamada Tararo, com 1,50 metro de altura, que viveu ao redor de 700 anos a.C., foi contemporânea da 25º dinastia, apesar de não ser da realeza, seu nível social era bem alto. Possivelmente a múmia é proveniente da Necrópoles de Tebas, região situada a leste do rio Nilo.

Do período greco-romano (322 a.C. – 395 d.C.) chama a atenção do visitante o Livro dos Mortos, um papiro medindo 17,5m X 303cm em perfeito estado de conservação, uma peça notável ao lado de tantas outras, como a curiosa sandália que corresponde aos anos 1750 e 332 a.C., bem arrojado na concepção com um leve toque fashion.

Réplica de um templo egípcio – Foto: Brunella Nunes

Os antigos egípcios tinham um objetivo bem definido, conservar seus mortos com a perspectiva de uma vida futura, mumificavam até animais como gatos, pois acreditavam que tinham poderes sagrados.

A mostra é dividida em três seções: Vida Cotidiana, Religião e Eternidade dando uma visão das características culturais de um povo com tradições e mistérios a serem pesquisados e estudados continuamente.


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José Henrique Fabre Rolim

Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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