De 8 de junho a 18 de agosto, o MuBE apresenta a exposição Construções e Geometrias, um recorte da coleção de Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz. A mostra faz parte da série Coleções no MuBE, que tem como objetivo revelar a construção do olhar do colecionador, aproximando o grande público de acervos particulares importantes e pouco conhecidos na cidade.
Com trabalhos dos principais artistas contemporâneos brasileiros, a Coleção Figueiredo Ferraz tem se estabelecido de forma orgânica e engajada. A seleção de obras apresentadas em Construções e Geometrias, que tem curadoria de Cauê Alves, inclui artistas como Adriana Varejão, Artur Lescher, Carlos Garaicoa, Carmela Gross, Cildo Meireles, Edgard de Souza, Ernesto Neto, Nelson Leirner, Laura Vinci, Nuno Ramos, Waltércio Caldas, entre outros.
De modo a reconhecer a importância dos acervos particulares e valorizar o trabalho de colecionadores em favor da difusão da arte, essencial para o desenvolvimento deste mercado, o MuBE acaba de criar o Prêmio MuBE Colecionismo e Apoio à Arte, cuja primeira edição será dedicada a João Carlos de Figueiredo Ferraz. Com uma escultura especialmente concebida por Paulo Mendes da Rocha, o prêmio será entregue na sexta, 7 de junho, durante uma festa beneficente no Museu, que tem como objetivo trazer a sociedade para participar e apoiar o MuBE, as artes e a cultura.
A trajetória de João Carlos de Figueiredo Ferraz como colecionador e mecenas é um exemplo de apoio à arte. Tendo iniciado suas aquisições na década de 1980, João Carlos sempre apoiou instituições culturais e a produção artística. Fundador do Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto, São Paulo, foi presidente da Fundação Bienal de São Paulo e é Conselheiro de museus como o MASP e o MuBE, entre outros diversos.
Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz – Construções e Geometrias
Trecho do texto de apresentação escrito pelo curador Cauê Alves:
“(…) O presente recorte curatorial enfatiza a arte construtiva e geométrica, seja como desdobramento, como ruptura ou reinvenção dessa tradição. A seleção de trabalhos privilegia ainda possíveis vínculos entre as obras e a arquitetura do MuBE.
O concreto aparente do edifício traz desenhos impressos pelas fôrmas de madeira. As paredes do museu são compostas por retângulos que revelam certa expressividade do concreto. As formas gravadas nas paredes por tábuas são construções geométricas imperfeitas, possuem contornos irregulares, como se tivessem sido moldadas por pequenos acasos. Diferentes tons, texturas e marcas aparecem ao longo de todo o espaço expositivo e rompem com a exatidão geométrica. A ausência de revestimentos evidencia a verdade dos materiais e a limpeza formal do conjunto.
É na década de 1950 que a chamada arquitetura brutalista surge no Brasil. Nesse mesmo período, a arte construtiva e geométrica ganha relevância no debate artístico principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os artistas concretistas e neoconcretos protagonizaram um intenso debate a partir de valores universais como a racionalidade e a intuição, assim como entre a objetividade das formas e a expressão subjetiva. Para além de oposições simplistas, a arte produzida desde a década de 1990, o foco da exposição, tem se aproximado de distintos modos da tradição construtiva. Seja de maneira lateral ou a partir de referências mais explícitas.
Grande parte das pinturas e obras tridimensionais presentes na exposição apresenta tanto uma espacialidade organizada a partir de uma ordem geométrica quanto a quebra de princípios de precisão absoluta. As combinações de cores, luzes, além da estrutura das composições geram ritmos próprios e reconfigurações de espaços.
Não se trata de apenas valorizar formas, mas de compreender que elas são inseparáveis de conteúdos, condensam ideias, processos históricos e os tornam visíveis. Na arquitetura do MuBE, com seu aspecto inacabado do concreto aparente, há a vontade de construção de um espaço público efetivo. A geometria na arte recente parece distante da utopia construtiva, que nunca se realizou plenamente, do sonho de um mundo moderno, civilizado e desenvolvido. Mas cada obra, em sua singularidade e na relação com seu entorno, ainda pode proporcionar uma experiência significativa e transformadora que reverbere e ecoe para além das paredes do museu.”
Cauê Alves é curador geral do MuBE. Doutor em Filosofia, professor do Departamento de Arte da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Foi um dos curadores do 32º Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2011) e curador adjunto da 8ª Bienal do Mercosul (2011). Foi membro do Conselho Consultivo de Artes do MAM-SP (2005-2007) e curador do Clube de Gravura do MAM-SP (2006-2016). É autor do livro Mira Schendel: avesso do avesso e da mostra homônima (Bei Editora/ IAC, 2010). Foi curador assistente do Pavilhão Brasileiro da 56ª Bienal de Veneza (2015). Foi co-curador da mostra Sergio Camargo: Luz e Matéria, no Itaú Cultural e Fundação Iberê Camargo (2015-2016), entre outras.
O MuBE, Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia, foi criado em 1986, a partir da concessão do terreno na Av. Europa pela Prefeitura de São Paulo. Surgiu de um movimento de milhares de cidadãos a favor da preservação da qualidade de vida e do verde em uma das regiões mais valorizadas da cidade de São Paulo. Para a construção do prédio do Museu foi realizado um concurso que contou com a participação de vários arquitetos de renome e foi vencido por Paulo Mendes da Rocha, que convidou Roberto Burle Marx para realizar projeto paisagístico. O MuBE é uma das mais importantes construções brutalistas do mundo, uma das principais obras de Paulo Mendes da Rocha, grande nome da arquitetura brasileira e mundial, vencedor do prêmio Pritzker em 2006, considerado o Oscar da arquitetura mundial, e do Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza, entre outros. Uma maquete do prédio do museu e seu projeto fazem parte hoje do acervo do MoMA de Nova York.
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