“Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito” reúne um panorama dos mais de 70 anos de trajetória do consagrado fotógrafo carioca, um nome fundamental da fotografia brasileira.
Sua reflexão sobre a arte que o consagrou inspira o título de uma grande retrospectiva de seu trabalho, que o Centro Cultural Banco do Brasil Brasília apresenta de 18 de abril a 25 de junho.
A exposição apresenta 266 fotografias, produzidas desde o início da carreira de Firmo, em 1950, e até 2021. São imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negras de diversas regiões do país, em ritos, festas populares e religiosas, além de cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas.
Grande parte das obras exibidas na exposição provém do acervo de aproximadamente 145 mil fotos do fotógrafo, que, desde 2018, se encontra sob a guarda do Instituto Moreira Salles em regime de comodato. São imagens que comprovam a opção do fotógrafo pela figura humana, especialmente, pela pele negra, que aparece em todos os matizes, tanto nas fotos coloridas quanto nas imagens em preto e branco.
Walter Firmo faz do Brasil o seu estúdio – parafraseando o pesquisador José Afonso Jr. As imagens do fotógrafo que é conhecido como “o mestre da cor” antecipam em mais meio século a representação do negro na sociedade brasileira e não necessariamente dentro de uma estética documental. “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou.”, afirma Walter Firmo.
Dividida em núcleos temáticos, a mostra traz retratos memoráveis de grandes nomes da música brasileira, como Cartola, Clementina de Jesus, Dona Yvone Lara e a icônica fotografia de Pixinguinha na cadeira de balanço, além de imagens de brasileiros e brasileiras anônimos(as), pescadores, vendedores ambulantes, mães de santo, brincantes, casais, noivas, crianças e até a própria família do artista. A exposição ressalta ainda a importante trajetória de Firmo como fotojornalista. Um dos destaques é a seção dedicada à fotografia em preto e branco do artista, pouco conhecida e, em grande parte, inédita.
“Walter Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial –, desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo. Num sentido mais amplo, questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real”, afirma o curador Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, que assina a curadoria ao lado de Janaina Damaceno Gomes, professora da UERJ e coordenadora do grupo de pesquisa Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra.
A exposição é uma oportunidade para o público conhecer em profundidade a obra de um dos maiores fotógrafos brasileiros, que mantém até hoje seu compromisso com o fazer artístico: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais”, afirma Walter Firmo.
A mostra é acompanhada de um catálogo, com imagens das obras da exposição, além de textos de autoria do próprio Firmo, de João Fernandes, diretor artístico do IMS, e dos curadores Sergio Burgi e Janaina Damaceno. Há também uma entrevista do fotógrafo com os curadores e o jornalista Nabor Jr., editor da revista O Melenick. Segundo Ato, além de uma cronologia do fotógrafo assinada por Andrea Wanderley.
Nascido em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém –, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já pela revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York.
Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.
Exposição de WALTER FIRMO: “NO VERBO DO SILÊNCIO A SÍNTESE DO GRITO”
Local: Galerias 1 e 2 do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22 – Edif. Presidente Tancredo Neves – Setor de Clubes Espacial Sul – Brasília – DF
Visitação: de 18 de abril a 25 de junho de 2023
Horário: de terça a domingo, das 9h às 21h
Acesso: Gratuito, mediante retirada de ingresso no site bb.com.br/cultura
Classificação Indicativa: 14 anos
Curadoria: Sergio Burgi e Janaina Damaceno Gomes
Assistência de curadoria: Alessandra Coutinho Campos
Pesquisa biográfica e documental: Andrea Wanderley
Produção: Tisara Arte Produções Ltda.
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