O Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, será feriado em todo território nacional pela primeira vez. Uma dica de programa cultural gratuito em São Paulo para celebrar a data é a exposição “outros navios: uma coleção afro-atlântica”, que está em cartaz na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp (Av. Paulista), de terça a domingo, das 10h às 20h, já tendo recebido mais de 65 mil visitantes desde sua abertura, em 24 de julho.
A mostra permite que o público conheça a rica e diversificada coleção de artes africana e afro-brasileira do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP). O acervo começou a ser formado no final da década de 1960 (época em que os movimentos de independência das ex-colônias em África se consolidavam), por meio de doações ou compras encomendadas pela universidade.
Marianno Carneiro da Cunha (1926-1980), então professor do MAE/USP, foi um dos principais nomes à frente do projeto institucional e científico da construção da coleção. Arqueólogo especialista em Médio Oriente, ele lecionou entre 1974 e 1976 em Ifé, na Nigéria, lugar sagrado para os iorubá, ficando incumbido de adquirir peças para o MAE. Com olhar antropológico e educativo, se preocupou em também trazer ao Brasil moldes, mostrando interesse pelo objeto artístico e pela técnica de diferentes culturas da África central e ocidental.
O trio de curadores da mostra, Carla Gibertoni Carneiro, Renato Araújo da Silva e Rosa C. R. Vieira, apontam que essas duas regiões africanas estão conectadas ao Brasil por séculos de circuitos transatlânticos. Eles trouxeram até nosso litoral inúmeros navios de violência, mas também trouxeram outros navios, que nos permitem mergulhar por histórias alternativas e criar novos significados para as centenas de objetos selecionados para a exposição.
A exposição, que fica em cartaz até fevereiro de 2025, apresenta mais de 300 peças, muitas nunca antes exibidas ao público, que estão divididas em sete núcleos temáticos.
A visita começa por “Dentro das águas”, onde podem ser vistos objetos relacionados ao culto de Iemanjá e Oxum, orixás dos mares e das águas doces, como coroa, pulseira, leque (abebê) e espelho.
Em “Bagagens afro-atlânticas” também estão diversas peças ligadas a religiões de matrizes africanas: arco e flecha de Oxóssi, estatuetas de Exu, bastão (opaxoro) de Oxalá, machado (oxê) de Xangô, além de elementos de altar e instrumentos musicais.
No núcleo “De São Paulo a Ifé”, os visitantes encontram obras variadas dos iorubá, vindos especialmente da Nigéria e Benim. Há itens do dia a dia, como baú, pilão, enxada e colher, além de um conjunto de máscaras esculpidas em madeira e pintadas e pares de estatuetas de ibeji, que estão ligadas à gemealidade entre os povos iorubá.
O termo “bantu” designa genericamente toda uma gama de culturas da África Central, de países como República Democrática do Congo e Angola. Eles estão representados no núcleo “Bantu, das terras centrais”, que traz peças como esteiras de ráfia (palha) em diferentes formatos, taças cerimoniais e um recipiente para leite com tampa decorado com conchas (cauris).
Em “Ventos no oeste africano” estão reunidos objetos de países como Gana, Mali e Costa do Marfim, incluindo um dos maiores itens da exposição, uma porta celeiro dogon. Há conjuntos de vestimentas, pentes do tipo garfo, figuras em bronze e uma balança para pesar pó de ouro, junto de um peso em formado de escorpião usado na pesagem.
“Técnicas” destaca os materiais utilizados nas diferentes etapas da técnica da cera perdida, técnica milenar que esculpe peças de liga metálica por moldagem, além de apresentar um conjunto de enxós e permitir ao visitante conhecer o processo de elaboração de uma máscara Gueledé.
O último núcleo, “Joias e tudo que reluz”, é também o mais notável da exposição, já que a coleção de joias africanas do MAE/USP é uma das mais expressivas do mundo. São diversos exemplares de pulseiras, tornozeleiras, colares, anéis e brincos, em materiais como vidro, bronze e marfim.
Há ainda uma seção especial que reúne obras de artistas contemporâneos negros brasileiros. São onze obras, em diferentes técnicas e suportes, de Denis Moreira, Denise Camargo, Guto Oca, Larissa de Souza e Renan Teles, que mostram que uma coleção não é fixa e pode ser recomposta para apontar outros navios à vista.
A data de 20 de novembro marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares e relembra a luta dos negros contra a opressão no Brasil e traz à discussão questões como o racismo e a desigualdade social.
Exposição “outros navios: uma coleção afro-atlântica”
Local: Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp – Av. Paulista, 1.313. São Paulo – SP
Visitação: até 16 de fevereiro de 2025. Terça a domingo, das 10h às 20h
Entrada gratuita – Livre para todos os públicos
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