Galeria Millan busca explorar os significados e abordagens possíveis do conceito de abstracionismo, passando por obras que exploram soluções geométricas, de formas orgânicas, além de trabalhos tridimensionais. Essa é a linha que conduz a exposição Abstração: A realidade mediada, exposição em cartaz a partir de 8 de outubro, com curadoria do crítico de arte Rodrigo Naves.
A mostra reúne obras dos artistas Cassio Michalany, Elizabeth Jobim, Germana Monte-mór, Helena Carvalhosa, Laura Vinci, Nelson Felix, Paulo Monteiro, Paulo Pasta e Renata Tassinari e, segundo o curador, busca estabelecer, por meio da abstração, a procura de um significado que em princípio se daria apenas nos trabalhos figurativos.
O corpo de artistas, formado por nomes representados pela Millan e outros convidados que, em comum, são há anos acompanhados por Naves, traz um conjunto de obras organizadas por aproximações por técnica, formas, soluções empregadas ou pelos contrastes na prática de cada um.
É caro a Rodrigo Naves acentuar na exposição os aspectos sensíveis e críticos da arte abstrata, superando a pecha de “formalismo” que essa linguagem ganhou ao longo das últimas décadas. Trata-se, segundo ele explica, de um tensionamento da noção de que apenas as linguagens narrativas ou figurativas poderiam elaborar comentários sobre a experiência social.
O uso da geometria, por exemplo, aparece nas obras de Cássio Michalany, Paulo Pasta e Renata Tassinari, cada um com distintas concepções de cores, materiais e formatos. “As três obras têm aspectos semelhantes, contudo levam a significações distintas. A pintura de Cássio e suas permutações falam de relações que encontram sua identidade no exato momento em que mantém proximidade com outras cores que transformam sua aparência. As cores de Paulo são mais terrenas, brotam aí como frutos de solos férteis. Renata Tassinari lida com cores mais volúveis e artificiais. E nunca saberemos com certeza como observá-las”, reflete o curador.
Já os desenhos de Elizabeth Jobim e Paulo Monteiro, apontam para a gestualidade e a sugestão da figuração do corpo e, igualmente para os equilíbrios e tensões despertos pela tinta – ou grafite – sobre o papel e suas áreas vazias.
A curadoria de Naves explora, também, os contrastes entre a obra de Helena Carvalhosa e Germana Monte-Mór. “Nas pinturas de Helena, as áreas de cor são mais extensas e se tocam entre si. Nas obras de Germana, as cores são menos extensas e se recusam ao contato entre elas. Esses detalhes não constituem simples aspectos irrelevantes. Nos motivos de Germana forças parecem conduzi-las para cima ou para baixo. Helena faz suas cores flutuar”, ele explica.
A seleção inclui ainda obras tridimensionais de Laura Vinci e de Nelson Felix, localizadas no limiar da abstração e da figuração, agregando outras camadas aos significados dessas classificações nas artes.
Ainda Viva (2007), de Laura Vinci, instalação que consiste em uma grande mesa de mármore sobre a qual se espalham maçãs e pequenas esculturas feitas do mesmo material, estabelece relações com o gênero da natureza morta. De outro modo, a obra de Nelson Felix também revela tensões entre o abstrato e o figurativo – trata-se de uma dupla de flautas feitas em mármore, onde as chaves que modulariam o sopro de ar foram substituídas pela palavra Berceuse (“canção de ninar”, em francês), gravada de forma a atravessar o diâmetro da peça. Para Naves, a obra de Felix é um caso exemplar na seleção de trabalhos que pretende apresentar as possibilidades de sentido dentro da abstração.
O tratamento tonal, técnico e formal das obras de Jobim, Monteiro e Vinci, por exemplo, apontam, segundo Naves, para o “derretimento” da capacidade unificadora e pacificadora das linguagens artísticas na sociedade atual. Já em outros trabalhos, como nos de Germana Monte-Mór e Carvalhosa, “há uma compreensão dos limites precários e ambíguos da amplidão e da estreiteza da artificialidade da realidade contemporânea. Afinal, estamos tão conectados a pessoas e coisas que mal sabemos o sentido da solidão.”
Fundada em 1986, a Millan vem trabalhando com artistas cujas práticas atemporais abrangem, sobretudo, aspectos transcendentais nos âmbitos espacial, contextual e linguístico, tendo contribuído para a preservação da memória histórica de produção em sintonia com à contemporaneidade. Desde sua formação, a galeria reconhece a importância de diálogos entre a produção de artistas modernos e sua contribuição para a formação da nova geração. Ao longo de seus mais de trinta anos de atividade, a Millan se consolidou como referência nacional por fomentar a potência de cada artista, posicioná-lo dentro do mercado internacional e apoiar sua participação em importantes exposições coletivas, incluindo a Documenta de Kassel e a Bienal de Veneza e mostras individuais em grandes instituições, como Louvre, Palais de Tokyo, Jeu de Paume, Museo Tamayo, Museo Reina Sofía e Tate Modern. Atualmente, sua programação está direcionada a integrar essas práticas a partir da produção de artistas internacionais e nacionais, bem como suas contextualização e consolidação em diferentes cenários dentro e fora do Brasil. A galeria trabalha com artistas em ativa produção, incluindo Ana Prata, Elena Damiani, Henrique Oliveira, José Damasceno, Miguel Rio Branco, Paulo Pasta, Peter Halley e Thiago Martins de Melo bem como espólios consolidados como de Feliciano Centurión e Tunga. Atualmente é dirigida por André Millan, Socorro de Andrade Lima, João Marcelo Andrade, Hena Lee e Camila Siqueira e composta por dois espaços expositivos na Rua Fradique Coutinho, em São Paulo.
Abstração: A realidade mediada, curadoria de Rodrigo Naves
Com os artistas:
Cassio Michalany
Elizabeth Jobim
Germana Monte-mór
Helena Carvalhosa
Laura Vinci
Nelson Felix
Paulo Monteiro
Paulo Pasta
Renata Tassinari
De 8 de outubro a 5 de novembro de 2022
Endereço: Galeria Millan – Rua Fradique Coutinho, 1416
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