Luciana Rique apresenta “Entreato”, sua primeira individual, até dia 24 de setembro, em seu próprio ateliê, no Leblon, Rio de Janeiro. Com cerca de 40 obras, a técnica dye sublimation marca presença na produção da artista carioca. A mostra tem curadoria de Eder Chiodetto.
A fotógrafa, que desde a infância faz seus registros como uma prática pessoal de leitura do mundo, nos últimos anos passou a direcionar sua produção no campo da fotografia sensorial, cujo resultado poderá ser conferido nessa mostra, que tem consultoria artística da KURA.
“Meu trabalho é sobre o não ouvido, o não visto, o interdito, o camuflado. Surge a partir do momento em que resolvi refletir acerca de uma situação de alheamento que vivi entre a infância e a adolescência. Era como estar permanentemente fora de foco. Percebi na fotografia um espaço lacunar por meio da qual criei relações em que ressoam minhas percepções e criam um lugar de cura e de conciliação comigo mesma”, diz a artista
Entreato apresenta um conjunto de cerca de 30 obras que acentuam o olhar aguçado da artista que busca no cotidiano o elemento não dito, a nuance que escapa à linearidade cartesiana. Segundo Luciana, “o sentimento é uma coisa tão abstrata que muitas vezes não conseguimos explicar. Por meio da arte podemos mostrar o que não é possível ser colocado em palavras”.
A fuga do figurativo leva a artista a se encontrar na abstração das formas explorando contrastes de luz e geometria. Ao recortar fragmentos de uma cena, Luciana Rique torna o abstrato um elemento expressivo em si mesmo. Sua obra opera entre o que é visto e não é percebido, entre o referente fotográfico e o artífice, entre o trauma e a liberdade, entre o mundo tangível e sua representação em teatro. Entreato.
“Percebemos que o gesto artístico está empenhado em construir, fotograma por fotograma, uma constelação de cenas que ao serem reunidas ensejam o esboço de um universo paralelo que Luciana Rique cria para viver nele. Ao (se) expor, nesse espaço não linear erigido pela justaposição de luzes, cores e jogos formais, a artista nos convida para adentrá-lo e nos deixa permear por uma percepção de caráter sensorial e extático”, afirma o curador. Chiodetto destaca que certos artistas como Luciana Rique se dedicam a construir com sua obra uma espécie de cápsula, um território à revelia do cotidiano ordinário, que finda por se constituir num espaço terapêutico.
A finalização das fotografias é de especial interesse da artista. Expostas em diferentes dimensões, desde 60cm até 1,80m, foram produzidas a partir de dye sublimation – técnica de impressão através do calor. “É um processo onde a imagem é transferida para a chapa de metal através de uma temperatura de 180 graus, por um processo de sublimação”, explica a artista. “Através de uma temperatura muito alta, a máquina transfere para a chapa de metal e traz um efeito visual de levitação, como se a imagem estivesse suspensa”, completa. Para finalizar, a artista opta por molduras de madeira invertidas que incorpora um visual orgânico para a obra, quebrando com a frieza própria de objetos metálicos.
Luciana Rique (Rio de Janeiro, 1978) vive e atua entre o Rio de Janeiro e Londres. Sua pesquisa artística tem a fotografia como linguagem, por meio da qual ela investiga percepções em geral não visíveis e insondáveis. Assim, o conjunto de seu trabalho visa criar um universo paralelo às realidades do entorno. Inspirando um viés meditativo, suas obras tangenciam o minimalismo e a questões conceituais ligadas à herança modernista da fotografia.
Suas imagens nascem de uma negociação entre o fotográfico e o pictórico. Elas surgem por meio de uma investigação que indaga e explora limites de uma instância visível intangível que nos rodeia. Isso se reflete na busca pela luz, pelo equilíbrio da forma, pela composição que organiza e desestabiliza planos. A câmera torna-se ferramenta para uma espécie de arqueologia de territórios sensíveis que não nos é dado habitar. Busca libertar parcelas enclausuradas de beleza de lugares e situações corriqueiras. As imagens que liberta deste claustro mostram-se um mundo mais acolhedor e harmônico. Dessa forma o exercício da arte torna-se espaço terapêutico ao atuar de forma potente na percepção sensorial.
Na última década, Luciana dedicou-se ao estudo de arte e fotografia em instituições como o Internacional Center of Photography, em Nova York, na Spéos, em Paris. Também trabalhou com ambientalista e fotógrafo indígena Jean Pierre Dutilleux.
Eder Chiodetto [São Paulo, SP, 1965] é mestre em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Atuou como repórter-fotográfico (1991-1995), editor (1995-2004) e crítico de fotografia (1996-2010) no jornal Folha de S.Paulo. Hoje, reúne as funções de jornalista, professor, curador e pesquisador de fotografia. Como docente ministrou, entre 2005 e 2010, aulas na Universidade Metodista de São Paulo e na Faculdade de Fotografia do Senac-SP. Como curador independente realizou, desde 2004, mais de 80 exposições no Brasil e no exterior. Chiodetto é também o curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM-SP desde 2006. Fundou o Ateliê Fotô em 2011.
Fundada em 2018 por Camila Yunes Guarita, a KURA é uma empresa de consultoria que tem como missão aprofundar a conexão de pessoas e empresas com a Arte, orientando na aquisição e venda de obras de arte, além de trabalhar na gestão de coleções particulares e institucionais e na criação de projetos e experiências únicas neste universo.
Através de uma equipe especializada e multidisciplinar e uma rede de parceiros que incluem os principais agentes do mercado (artistas, galerias, casas de leilões, feiras, museus e instituições), a KURA atua com transparência e profissionalismo atendendo seus clientes de forma personalizada.
“Entreato”, exposição individual de Luciana Rique
Local: Ateliê Luciana Rique
Endereço: Rua General Artigas, 340 – 301, Leblon, Rio de Janeiro
Período expositivo: 11 a 24 de setembro
Funcionamento: 11h às 20h
Evento de abertura: 15 de setembro das 17h às 21h
Conversa entre a artista Luciana Rique e o curador Eder Chiodetto às 17h30
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