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O que Claudia Andujar fez antes dos Yanomami? Descubra na mostra do Itaú Cultural

A exposição inédita explora a trajetória da artista e revela como ela ampliou a linguagem da fotografia antes de se dedicar à sua vasta obra junto a esse povo indígena. Além disso, a mostra apresenta novos trabalhos da fotógrafa.

Aos 92 anos, a artista revisitou a série “O voo de Watupari”, de 1976, trazendo uma abordagem colorida. Além disso, a exposição apresenta uma nova montagem da instalação “A Sônia”, criada na mesma época em que foi exibida no Masp. Outras imagens presentes na mostra incluem retratos de São Paulo, pessoas homossexuais durante a ditadura, mulheres, sonhos e pesadelos, oferecendo uma visão abrangente e diversificada.

Quando se fala no nome da fotógrafa, imediatamente ele se conecta ao seu incrível e globalmente reconhecido trabalho sobre a nação Yanomami. No entanto, sem perder de vista essa produção, que se tornou um marco iconográfico, a exposição “Claudia Andujar – cosmovisão” lança outras perspectivas sobre o percurso fotográfico que ela percorreu entre as décadas de 1960 e 1970, até o seu encontro definitivo com esse povo indígena.


A exposição entra em cartaz em 3 de abril e segue até 30 de junho nos pisos -1 e -2 do Itaú Cultural, com curadoria de Eder Chiodetto. Ela reúne mais de 130 trabalhos de Claudia, realizados durante seis décadas, desde que, fugindo do nazismo partiu da Hungria para os Estados Unidos. Depois de uma temporada naquele país, em 1955 ela desembarcou em São Paulo para encontrar a sua mãe e aqui viver até hoje.

Entre os destaques da mostra, um novo trabalho seu: uma releitura colorida de O voo de Watupari, resultado da travessia que fez em 1976, ao lado do missionário Carlo Zacquini. Eles viajaram de São Paulo até a Amazônia a bordo de um fusca preto que os levou até os Yanomami. Também merece atenção especial, a instalação A Sônia, apresentada por ela em 1971 no Masp, em uma subversão do uso da projeção de slides – uma novidade na época. Aqui, a obra é exibida em releitura do artista Leandro Lima, parceiro de Claudia em outros projetos.

“Quando o Itaú Cultural me chamou para fazer essa mostra logo pensei em encontrar um recorte novo, já que convivo com Claudia faz tempo e conheço bem outras faces de sua obra”, conta Chiodetto. Segundo o curador, ao investigar a produção da artista mais a fundo, desde que ela chegou em São Paulo em 1955, ele se deu conta do seu importante papel para a experimentação e a expansão da linguagem fotográfica. “Ela teve forte influência, por exemplo, para que a fotografia entrasse nos museus como arte nos anos de 1970”, diz.

“Esta é uma exposição inédita. Tem foco nesse alto grau de experimentação pelo qual ela fez a fotografia passar. Fica claro que, como filha da geração de 68, rebelde e que repensa o mundo, Claudia sente necessidade de recriar a linguagem fotográfica para pode ser expressar”, continua ele. “Em nenhum momento de sua trajetória, nem quando trabalhou na revista Realidade, ela fotografou em um padrão documental tradicional”, completa.

Claudia fazia uso de filmes fotográficos infravermelhos, cromos riscados, filtros monocromáticos, imagens refotografadas com distorções e mutações de luzes e cores, justaposições e duplas exposições. Para Chiodetto, estas eram  estratégias para chegar à representação da percepção sensorial. “Isso permitiu que, anos mais tarde, a artista pudesse materializar em imagens a espiritualidade, a relação dos indígenas com as entidades e guardiões da floresta”, diz o curador. “Ela precisava que a fotografia atravessasse a superfície do real para representar de forma potente o lado de lá, o não visível. Só conseguiu isso justamente por essa experiência anterior de expansão da linguagem e possibilidades fotográficas.”

A exposição

As 135 obras de Claudia Andujar estão divididas em 11 séries, expostas em dois andares do espaço expositivo do Itaú Cultural.

Serviço:

3 de abril a 30 de junho de 2024
Pisos: -1 e -2
Curadoria: Eder Chiodetto
Concepção e realização: Itaú Cultural

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro
Visitação: terça-feira a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h.
Entrada: gratuita

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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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