©STEPHANE MOUCHMOUCHE / HANS LUCAS
Paris Noir – Artistic Circulations and Anti-colonial Resistance, 1950-2000 é uma das exposições mais ambiciosas apresentadas pelo Centre Pompidou antes de seu fechamento temporário. Reunindo cerca de 150 artistas da África, Caribe e Américas que viveram, circularam ou atuaram em Paris entre as décadas de 1950 e 2000, a mostra, curada por Alicia Knock, propõe uma abordagem polifônica, transnacional e profundamente política da história da arte no contexto pós-colonial.
Ao invés de seguir uma linha narrativa simples, Paris Noir constrói um percurso denso, onde vozes, redes e deslocamentos se entrelaçam. A curadora destaca que a exposição não pretende oferecer respostas definitivas, mas sim abrir espaços de escuta e múltiplas interpretações sobre como essas trajetórias artísticas moldaram – e continuam moldando – noções de identidade, solidariedade e emancipação.
No cerne da mostra estão movimentos como a Negritude, liderada por figuras como Aimé Césaire e Léopold Sédar Senghor, e o pensamento poético-filosófico de Édouard Glissant. O projeto revela como Paris funcionou como um polo de encontro e efervescência intelectual para artistas, escritores e ativistas negros durante o século XX. Momentos-chave, como o Congresso de Artistas e Escritores Negros de 1956, são revisitados como marcos de articulação entre arte, política e pensamento decolonial.
A exposição também mergulha na complexa relação entre Paris e outras cidades como Dakar, Lagos e Argel, traçando os caminhos dos artistas que, após viverem na capital francesa, retornaram ao continente africano para fundar escolas, ateliês e redes culturais. Essa dinâmica reforça a ideia de Paris não como um centro fixo, mas como um lugar móvel, de trânsito e tradução.
Além das referências históricas, Paris Noir se posiciona como um gesto de crítica ao apagamento sistêmico dessas narrativas dentro das instituições francesas. A mostra não celebra Paris como centro colonial, mas questiona e reimagina seu papel a partir das margens. Os diálogos com o modernismo europeu – e com artistas como Matisse e Léger – não são reverenciais, mas muitas vezes críticos, desafiando e ressignificando os cânones eurocêntricos.
Há também um caráter urgente e político na concepção da mostra. Ao abordar os efeitos do colonialismo e da extrema-direita na França contemporânea, Paris Noir aponta para o presente e o futuro. O projeto propõe que a diplomacia cultural pode ser uma ferramenta de resistência e reinvenção identitária, especialmente em um momento em que o revisionismo histórico e o nacionalismo ganham força.
Paris Noir é mais que uma exposição: é um programa. É um convite à continuidade — a que museus, universidades e instituições colaborem, que pesquisadores se debrucem sobre essas trajetórias, e que múltiplas exposições e narrativas brotem a partir dela. Como afirmou Alicia Knock, “esse show é um mapa”. Um mapa que precisa ser explorado, debatido e expandido.
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