A Pinacoteca de São Paulo apresenta, de 04 de junho a 04 de julho de 2022, um conjunto de cinco obras inéditas dos participantes do programa de comissionamento artístico Atos modernos. A mostra é um dos resultados do projeto homônimo realizado com a Coleção Ivani e Jorge Yunes.
Em vigor desde 2021, a parceria tem se voltado a fomentar a pesquisa e o diálogo artístico entre as duas instituições, ampliando as pontes para projetos de curadoria. Em um modelo inédito no país, o museu passou a receber um aporte financeiro da Coleção Ivani e Jorge Yunes para a contratação de um curador, Horrana de Kássia Santoz, que trabalhando na Pinacoteca, pode desenvolver uma produtiva pesquisa e contribuir com a programação no museu, como a exposição Atos Modernos que estimula e incentiva a produção de jovens artistas do Brasil.
“A Pinacoteca conta com uma grande experiência em convidar artistas a desenvolver obras especificamente para os espaços da Pina. Com este projeto, ampliamos esta prática de comissionamento para novos campos da produção e pesquisa artística contemporânea”, afirma Jochen Volz, diretor geral do museu.
A seleção de artistas feita pela Curadora de Pesquisa e Ação Transdisciplinar Coleção Ivani e Jorge Yunes, Horrana de Kássia Santoz, conta com Castiel Vitorino Brasileiro, Mitsy Queiroz, Luciara Ribeiro, Olinda Wanderley Tupinambá e Charlene Bicalho.
A exposição “Atos Modernos” estará organizada entre o edifício da Pinacoteca Luz, que receberá quatro trabalhos, e o da Pinacoteca Estação. Segundo Horrana, as obras procuraram discutir aspectos da modernidade na produção e no pensamento contemporâneo. “Em um ano de marcos importantes, como as eleições, o centenário da semana de 22 e o bicentenário da independência, tratar das contradições e das memórias que nos constituem torna-se urgente”, completa.
O grupo de artistas já trabalhava com pesquisas sobre memórias e acervos, temporalidades e ancestralidades.
Com duração de um ano, o programa comissionou esses trabalhos inéditos e cada um dos selecionados ganha espaço na programação pública da Pinacoteca para realização de produções presenciais ou transmitidas nas plataformas digitais do museu.
Luciara Ribeiro
Luciara Ribeiro (1989, Xique-Xique, Bahia. Vive e trabalha em São Paulo) apresentará, no lobby da Pinacoteca Luz, o video-documentário Narrativas e Territórios em disputa: Investigações sobre os sistemas das artes (2022). Pensar criticamente o que seria esse ato moderno e refletir sobre as relações que o moderno, modernismo, modernidade, apresentam num circuito artístico é o mote da sua pesquisa. A proposta da artista é repensar lugares que são colocados como margens, longes, cafundós, bordas, territórios que não são apresentados dentro de uma centralidade do eixo artístico. Compreender quais são os circuitos expositivos presentes nas periferias da cidade de SP, como acontece os deslocamentos e o diálogo entre artistas e como se dá a produção artística nesses territórios.
Mitsy Queiroz
O artista visual e pedagogo Mitsy Queiroz (1988, Recife, Pernambuco. Vive e trabalha em Recife) apresentará, na Pinacoteca Estação, As ilhas alagadas do Pina (2022), projeto de pesquisa desenvolvido para o programa “Atos modernos”. De seu reencontro com uma fotografia familiar e com a Praia do Pina, localizada na cidade de Recife, Mitsy aprofunda seus estudos sobre o fazer fotográfico, suas estruturas, programações e mobiliza outras concepções de tempo e de progresso.
Charlene Bicalho
Charlene Sales Bicalho (1982, Nova Era, Minas Gerais. Vive e trabalha em São Paulo). Orbitando a [im]permanência do sol, e a constância das águas (2021-2022) é o título da obra da artista visual para o programa “Atos modernos”. A obra processual, integra múltiplas linguagens, como a performance, a fotografia, o desenho, o vídeo e a instalação, emerge entre crítica institucional e a criação de espaços não hegemônicos de aprendizagem.
Olinda Tupinambá
Olinda Wanderley Tupinambá (1989, Bahia. Vive e trabalha em Pau Brasil, Bahia) é jornalista, documentarista, produtora de audiovisual e cineasta. Seus vídeos e filmes transitam entre documentário e documentário fantasia, a exemplo do filme Kaapora — O chamado das matas lançado na exposição Véxoa: nós sabemos, realizada na Pinacoteca de São Paulo em 2020. Para o programa “Atos modernos”, Olinda traz em seu novo filme Ibirapema (2022). A produção aborda a questão da modernidade imposta as populações indígenas e não indígenas, que simultaneamente entrelaça vivências e aniquila identidades.
Castiel Vitorino
Castiel Vitorino Brasileiro (1996, Vitória, Espírito Santo. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo) apresentará, no pátio 1 da Pinacoteca Luz, a obra Prosperidade são lembranças e escolhas (2022) que propõe um reencontro estético e linguístico com as memórias centro-africanas, como a cultura afrobanto, historicamente marcada por estereótipos e arquétipos linguísticos. Visto que também foi através da língua que o longevo projeto colonial logrou êxito, a artista e psicóloga amplia sua investigação sobre os “espaços perecíveis de liberdade” e constrói dentro da Pinacoteca um monumento, onde suas línguas e tradições convocam atos de reescrita da história brasileira.
A Pinacoteca de São Paulo é o museu de arte mais antigo da cidade, fundado em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo. Seu acervo conta hoje com cerca de 11 mil peças.
Possui dois edifícios abertos ao público e com intensa programação: a Pinacoteca Luz e a Pinacoteca Estação. A primeira foi a antiga sede do Liceu de Artes e Ofícios. Projetado no final do século XIX pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, passou por uma ampla reforma, no final da década de 1990, com projeto do arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha (1928-2021). A Pinacoteca Estação foi inaugurada em 2004. Seu prédio também projetado por Ramos de Azevedo, foi totalmente reformado pelo arquiteto paulistano Haron Cohen para receber parte do programa de exposições temporárias e do acervo do museu. Originalmente abrigou os armazéns e escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana.
Coleção Ivani e Jorge Yunes
Iniciada em meados da década de 1970 pelo casal Ivani e Jorge Yunes, a coleção foi sendo constituída a partir do forte interesse do casal por arte e cultura. Reunido um conjunto excepcional de pinturas, esculturas, prataria, arte sacra, documentos, artefatos etno-históricos e acervos de curiosidades, a coleção guarda preciosidades da história da arte no Brasil, desde o século XVIII até o período moderno do século XX, reunindo também artistas internacionais e ícones da história da arte internacional.
Desde 2018, Beatriz Yunes Guarita, diretora da Coleção Ivani e Jorge Yunes, e Camila Yunes Guarita, fundadora e diretora executiva da consultoria de arte Kura, estão à frente da Coleção e coordenam um trabalho museológico minucioso, destacando recortes históricos e artísticos, afirmando assim seu caráter público. Neste curto período, a coleção estabeleceu um trabalho integrado de sistematização, com especialistas de diversas áreas, que implementaram procedimentos de documentação, catalogação e higienização. Atualmente, a coleção tem sido apresentada em diversos museus no Brasil e no mundo por meio de empréstimos, comodatos e doações.
O projeto “Atos Modernos” se configura como um exemplo de novas práticas para o colecionismo contemporâneo. Simultaneamente, apoia a produção de artistas emergentes, colabora com a atividade de curadores de diferentes especialidades e possibilita releituras críticas da coleção e de seus segmentos, ampliando as possibilidades de pesquisa e exibição de obras de maneira prática.
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