Exposições e Eventos

Sesc Ipiranga inaugura mostra sobre produção literária indígena em SP

O Sesc Ipiranga recebe a exposição “Araetá – A Literatura dos Povos Originários”, um expressivo recorte da produção literária de autoria indígena por meio de publicações de escritores e escritoras que representam mais de 50 povos de diferentes regiões. Com visitação até 17 de março de 2024, a mostra ainda reúne ilustrações, fotografias, artesanias e objetos artísticos, além de apresentar mais de 334 títulos publicados por 105 editoras do país.

Realizada pelo Sesc São Paulo, o Instituto Cultural Vale e o Ministério da Cultura, a exposição foi idealizada por Selma Caetano, curadora e produtora executiva do Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa –, que divide o projeto curatorial da mostra com o pedagogo, teatrólogo e poeta Ademario Ribeiro Payayá, o ambientalista e escritor Kaká Werá Jekupé, o fotógrafo Richard Werá Mirim e a documentarista Cristina Flória.

Richard Werá Mirim

“O acervo apresentado na exposição é composto por cantos, contos, mitos, narrativas, poesias, ensaios, romances e títulos relacionados à criação do mundo, à ancestralidade, à vivência dessa ancestralidade no presente, ao bem viver e ao papel dos anciãos nas comunidades indígenas. Há, também, a presença de livros com uma forte carga política vinculados ao ativismo e à militância com os quais os indígenas têm superado e resistido, há séculos, à invisibilidade”, explica Selma.

Fenômeno que experimenta um crescente interesse do público leitor, a edição de livros com autoria indígena tem como uma das pioneiras a escritora Eliane Potiguara, que deu início a sua produção nos anos 1970, quando imprimia textos mimeografados em um formato designado por ela como “poema-poster”.

Pedagoga, Eliane é um dos destaques da mostra, que também exalta as importantes colaborações de lideranças como Ailton Krenak, autor de uma série de livros que registram reflexões filosóficas e um ativismo ambiental que se contrapõe ao modo de vida ocidental, e Daniel Munduruku, escritor com mais de 60 livros publicados, que colabora como consultor literário da exposição.

“Araetá – A Literatura dos Povos Originários” também presta tributo ao escritor e xamã Davi Kopenawa, dedicando ao líder Yanomami o espaço intitulado Casa dos Saberes, que, com curadoria de Kaká Werá Jecupé, foca a experiência sensorial e estética da arte que inspira a literatura produzida por diversos povos indígenas no Brasil.

Casa dos Saberes

Este é um lugar onde o elo entre a tradição oral e a arte literária fica evidente por meio dos saberes ancestrais transmitidos por xamãs e pajés. O espaço reúne objetos e peças que dimensionam a inventiva artesania dos povos originários, como as cestarias dos Mehinaku e Kalapalo, do Xingu, e as cestarias e esteiras dos Baniwa, dos Baré e Ticuna, oriundos da Amazônia.
“Nesse momento em que a humanidade enfrenta o desafio de transformar o modo como se relaciona com a natureza, as visões de mundo e modo de ser dos povos originários – transmitidos há séculos por meio da literatura oral e agora acessíveis. em centenas de livros de autoria indígena disponíveis na Casa dos Saberes – oferecem ao público uma possibilidade de reflexão sobre o futuro da humanidade”, defende Kaká Werá Jacupé, ambientalista, escritor e curador do espaço.

O projeto expográfico da mostra também se desdobra por espaços temáticos, apresentados pelo escritor, professor e artista plástico Ariabo Kezo, do povo Balatiponé: Amazonas, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Pantanal.

A exposição ainda oferece ao público a Biblioteca Araetá, um trabalho em progresso de pesquisa e catalogação, que disponibiliza para leitura o acervo contemplado nos espaços expositivos. Araetá destaca, igualmente, a expressividade de artistas indígenas que produzem ilustrações para livros, como Uziel Guainê, professor e escultor Maraguá que apresenta dois painéis especialmente criados para a Casa dos Saberes.

Produção fotográfica

Com curadoria de Cristina Flória e Richard Werá Mirim, a mostra destaca trabalhos de 14 fotógrafos, de 12 diferentes povos, dedicados a retratar suas culturas e evidenciar as nuances e singularidades de cada grupo, desempenhando um papel importante na valorização da diversidade cultural, conscientização e se constitui em uma ferramenta de autodeterminação e quebra de estereótipos geralmente associados às culturas indígenas

A mostra reúne 38 imagens dos seguintes fotógrafos e fotógrafas: Amanda Pankará, André Guajajara, Cristian Arapiun, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Isabella Kariri, Kaiti Topramre, Kamikia Kisedje, Kronün Kaingang, Mre Gavião, Priscila Tapajowara, Palamido, Richard Werá Mirim, Scott Hill e Vherá Xunú. Em conjunto, o intuito é, por das imagens selecionadas, salvaguardar sua herança, assegurando, assim, sua transmissão para as gerações futuras.

Isabella Kariri
Mrê Gavião

Para todas as idades e gratuita, a exposição contempla um programa educativo que objetiva o atendimento de escolas das redes públicas e privadas, tanto de bairros próximos aos Sesc Ipiranga quanto de outras localidades.

Toré – dança ritualística que celebra os encantados abre a exposição

A abertura da exposição, em 30 de agosto, às 19h, reserva ao público um cerimonial que contará com a presença de todos os indígenas que participaram ativamente da exposição, como Ademario Ribeiro Payayá, curador; Kaká Werá Jecupé, curador da Casa dos Saberes; Richard Werá Mirim, curador de fotografia; Daniel Munduruku e Ariabo Kezo, consultores. Encerrando a cerimônia, a poeta indígena Marcia Kambeba faz uma performance poética, revelando ao público parte do que estará na exposição.

Edgar Kanaykõ Xakriabá

Depois do cerimonial de abertura haverá uma intervenção da comunidade indígena Pankararu, originários de Pernambuco, que apresentará aos visitantes o Toré, dança ritualística em retribuição aos pedidos de cura de doenças espirituais que são feitos aos encantados, entidades do mundo invisível que protegem o grupo. O Toré é realizado em espaços públicos pelos praiás, dançadores que vestem máscaras rituais feitas de croá e dançam e cantam com o maracá, o instrumento musical mais difundido entre os povos indígenas no Brasil. A apresentação é uma das ações da Associação Indígena SOS Comunidade Indígena Pankararu, um coletivo sem fins lucrativos que atua para a promoção da cultura indígena, além de promover a articulação nas áreas da educação e saúde.

Araetá – A Literatura dos Povos Originários é uma experiência singular de interação com as escritas, oralidades, cosmovisões, pertencimentos étnicos, ancestralidades, geografias e temáticas de diversidade manifestadas por escritoras e escritores que propiciam um rico diálogo intercultural, como reitera o curador Ademario Ribeiro Payayá, que explica a gênese do nome da exposição.
“Ara e etá são termos da língua Tupi. Ara é o dia, o que está no alto, o fruto, o mundo. Etá é o plural dessa língua. Araetá, assim, nos remete aos frutos, aos dias, aos mundos da literatura dos povos originários que, nessa exposição, são percorríveis através das histórias criadas por 114 autores. Como numa espécie de Caminho de Peabiru – antiga rota que conectava diferentes povos indígenas do continente Sul-Americano –, Araetá traça um percurso que abrange a diversidade étnica, geográfica e temática de escritoras e escritores indígenas. Nas bordas desse percurso há o convite para um diálogo intercultural”, conclui Ademario.

Autores e demais colaboradores da exposição

Adão Karai Tataendy Antunes, Ademario Ribeiro, Agostinho Ïka Muru, Ailton Krenak, Aldevan Baniwa, Aline Rochedo Pachamama, Álvaro de Azevedo Gonzaga, Álvaro Tukano, André Fernando Baniwa, Ane Kethleen Pataxó, Anghtichay Pataxó, Arariby Pataxó, Ariabo Kezo, Aurélio Souza da Silva, Auritha Tabajara, Ava Nomoandyja, Atanásio Teixeira, Beraldina José Pedro, Caetano Raposo, Carlos Eduardo Cadu Araújo, Carlos Papá Mirĩ Poty, Casé Angatu Xukuru Tupinambá, Catarina Kunhã Nimbopyruá, Chirley Pankará, Claudino Djagwá Ka’agwy Kara’i Tukumbó Lima, Clemente Flores, Cristino Wapichana, Daniel Munduruku, Davi Kopenawa, Débora Arruda, Denízia Kawany Fulkaxó, Edson Kayapó, Edson Krenak, Eliane Potiguara, Elias Yaguakãg, Ellen Lima, Ely Macuxi, Emerson Guarani, Eric Timóteo Iwayr Kâ Kamikawa, Eva Potiguara, Ezequiel Vitor Tuxá, Feliciano Pimentel Lana, Fernanda Vieira, Francisco Luiz Fontes Baniwa Matsaape, Francy Fontes Baniwa Hipamaalhe, Gleycielli Nonato, Glicéria Jesus da Silva Graça Graúna, Gustavo Caboco, Hipru Xavante, Ismael Tariano, Jaider Esbell, Jaime Diakara, Jamille Anahata, Japira Pataxó, Jassanã Pataxó, João Paulo Lima Barreto, José Verá Juão Nyn, Jucicleide Pereira Mendonça dos Santos, Julie Trudruá Dorrico, Juvenal Teodoro Payayá, Kaká Werá Jecupé Kamuu Dan Wapichana, Kanátyo Pataxó, Layo Amõkanewy Lia Minápoty, Lucia Morais Tucuju, Lucio Terena, Luiz Karai, Marcelo Manhuari Munduruku, Márcia Mura, Márcia Wayna Kambeba, Marcos Terena, Maria Cândida Juruna, Maria Kerexu, Marina R. Miranda, Meyriane Costa de Oliveira, Moara Tupinambá Tapajowara, Nankupé Tupinambá Fulkaxó Niara Terena, Olívio Jekupé, Põrõ Israel Fontes Dutra, Renê Kithãulu, Roni Wasiry Guará, Rosi Waikhon, Rupawê Pataxó, Sereburã Xavante, Sereñimirâmi Xavante, Serezadbi Xavante Severiá Maria Idiorê Xavante, Shirley Djukurnã Krenak, Sony Ferseck, Sulami Katy, Telma Pacheco Tãmba Tremembé, Terêncio Luiz Silva, Tiago Hakiy, Tiago Nhandewa, Timoteo Verá Tupã Popygua, Tkainã, Toninho Maxakali, Tõrãmu Kehíri Umusi Pãrõkumu, Uziel Guainê, Vãngri Kaingáng, Verá Kanguá, Werá Jeguaká Mirim, Werimehe Pataxó, Yaguarê Yamã, Ytanajé Coelho Cardoso, Yuhkuro Avelino Dutra.

Serviço

Araetá – A Literatura dos Povos Originários
Abertura: 30/8, às 19h, com apresentação do Toré, dança ritualística do povo indígena Pankararu
Visitação: De 31 de agosto de 2023 a 17 de março de 2024, terças a sextas, das 9h às 21h30; sábados, das 10h às 21h30; domingos e feriados, das 10h às 18h30
Local: Sesc Ipiranga. Rua Bom Pastor, 822, São Paulo-SP

Leita também: Exposição “Arte dos Mestres” reúne 20 artistas da arte popular em São Paulo

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