O caos na ordem e a ordem no caos.
“Aufgabe von Kunstist es heute, Chaos in die Ordnungzubringen” disse Theodor Adorno, ou de mais fácil compreensão:“A tarefa atual da arte é introduzir o caos na ordem”.
Ação e interação de elementos de força como causadores de instabilidade, o abalo das estruturas conscientes e muitas vezes impostas que regulam condutas humanas dando origem ao movimento e à desordem. O caos na ordem e a ordem no caos.
A arte como mensagem, força e elemento; Casca de banana Pop que desequilibra estruturas suportadas por profundos pilares de concreto que permeiam lógicas tantas vezes ilógicas.Surrealismo.
Busca-se nova ordem através do caos. Estimula-se a desordem em nome da ordem.
Movimentos artísticos nos anos 50 com Hélio Oiticica, Lygia Pape e Lygia Clark indagaram questões de linguagem, a autoria, o anonimato. Flávio de Carvalho de bonito traje de Novo Homem dos Trópicos quis romper com realidades inaplicáveis.
Cildo Meireles fazia circular questões em cruzeiros. Afinal, quem matou o jornalista?
Questionamentos políticos que chacoalham regimes através da conceitualização e da sedução.
Obras que serviram de alavanca rebentando quietudes, tampões e outros males.
Almejaram ser caminho para que obras fossem ouvidas, respondendo a fortes golpes ao que o publico não sentia ou se calava. Ou talvez se calava porque o sentia.
Vive-se sobre essa cômoda camada de diferentes formas e atitudes. Alguns não se dão conta, ou nem sequer o saibam o que foi construído sob seus pés.
Ai Wei Wei dança. Refaz coreografias pondo em conflito normas e censuras.
Anish Kapoor, galopa em seu apoio.
O caos como surgimento de algo, afirmou Stephen Hawking.
É questão de física, o Bing Bang como nascimento da ordem.
Caos como explosão criativa.
Ordem tantas vezes contestada. Não existe unanimidade em relação à imposição.
Nem sempre existe apresso para o que nos deixa lentos, inexpressivos e inativos.
Façam-se ouvir as vozes de contestações: “Indignez-vous.”
“Indignação tem de ser seguida de compromisso”, já o disse Hessel.
Maio de 68, mais recentemente a Primavera Árabe, Indignados, Occupy Wall Street.
Movimentos contestatórios que abalam sistemas.
Na revista Times os manifestantes viram personagem. Personagem do ano de 2011.
Movimentos que enfrentam, desafiam e confrontam a suposta ordem com o objetivo de mudar e criar.
Estamos em crise. Pelo menos a Europa e os Estados Unidos estão.
Como europeu sinto-me em crise, mesmo não residindo no local da crise.
Sejamos justos, não é somente uma questão geográfica, também de atitude.
E a arte? Como ficará a arte perante a crise, perguntam alguns.
A arte seguirá viva.
Mudanças se aproximam. Previsão que se sabe sem necessidade de parar diante de uma escultura de cristal. É o que acontece em embates do gênero. É a lógica da vanguarda dizem alguns, é a história dirão outros.
“A História constitui a relação entre um presente e seu passado” escreveu certo dia John Berger em “Modos de Ver”. E aqui estamos nós, introduzidos na ordem ou no caos dependendo do sentimento de cada um ou até do ângulo de percepção.
Vargas Llosa o disse recentemente; A atual crise européia será traumático devido às suas proporções, porém “Grandes traumas são bons estimulantes”. Sempre o foram.
Vislumbra-se um novo começo. O começo de uma “boa época de criação artística”.
A arte seguirá viva, disso ninguém parece duvidar. Viva mas diferente.
Novas tendências, ensaios e movimentos aparecerão desses núcleos. Surgirão sem medo e com a verdade por dentro, convencendo-nos que não se estão meramente vendendo.
A economia em si agoniza, sem grandes sinais de melhoras, mas quem está falando de economia?
Questionamentos, raciocínios e analises se rompem mesmo para aqueles que não são artistas e nunca o serão. A sensibilidade está mais presente, sem distrações e tempo de se entreter. Deslaçam-se vendas de olhos, despertam-se consciências que podem vir a convencer.
Enquanto isso o Brasil encontra-se em seu período de maior expansão e reconhecimento. Está cômodo e calmo, desfrutando da merecida sombra dos cactos de Antropofagia. Surgem galerias, feiras, exposições, o mercado está aquecido. Na Sotherby´s obras brasileiras com sabor a limão doce batem valores históricos. O mundo parece seduzido pela ordem. O Brasil parece estar em ordem.
Ordem que geralmente carrega consigo o sentimento de equilíbrio, bem estar e um apaziguamento que por vezes se confunde com segurança. Ordem e o Progresso.
É a atualidade Brasileira na ordem proveniente da desordem e a Europa no caos proveniente da ordem.
A constante fricção entre ordem e caos. É o movimento. São os ciclos.
Enganam-se aqueles que se acomodem na ordem da esperança, sem pressa e com consolo. Haverá que saber que o hoje não permanecerá eternamente inalterável.
Ordens e desordens se sobrepõem como camadas de tinta pela historia. Não são dualidades, técnica de obra mista. Parecem coexistir de forma dependente para se desenvolver e estabelecer de forma constante. Concordando ou não, gostando ou não, esse parece ser o progresso artístico e pessoal.
A instalação do caos e a reposição da ordem.
O movimento se requer como apresentação.
A atitude não como adjetivo, mas como verbo de impulso.
O meio artístico seguirá inspirando e expirando.
O artista deve continuar lutando.
Filipe Lampreia – 11 de Dezembro de 2012
Sobre:
Português de Lisboa, residi durante 8 anos no Rio de Janeiro (2004/2012) e nos últimos 3 meses vivo e trabalho em San José, Costa Rica.
Sou Publicitário (Diretor de planejamento estratégico) e artista de espírito.
Graduação em Comunicação Empresarial (Lisboa), Especialização em Propaganda (Madri), MBA em Marketing (ESPM- RJ).
Efetuei diferentes Cursos de Arte na EAV – RJ e atualmente freqüento cursos de arte na Fundação Teorética – Costa Rica
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