Separamos para você 20 contos infantis com valores importantes para serem passados para as crianças e que, inclusive, servem para nossa própria reflexão. Alguns deles têm mais de 2000 anos de vida e continuam muito atuais.
As histórias são curtas e cheias de ensinamentos.
Comente abaixo qual destes contos te atingiu mais e se você gostaria que procurássemos outros contos para você.
Era uma vez um andarilho muito sábio que vagava de vila em vila pedindo esmolas e compartilhando os seus conhecimentos nas praças e nos mercados.
Ele estava em uma praça em Akbar quando um homem chegou perto dele e disse:
– “Ontem, um mago muito poderoso me disse que aqui nesta praça eu encontraria um mendigo, que apesar de sua miserável aparência me daria um tesouro de valor inestimável e que isto mudaria completamente a minha vida. Quando vi você percebi de imediato que era o homem que eu procurava. Por favor, me dê o seu tesouro”.
O mendigo olhou para ele sem falar nada, enfiou a mão em um alforge de couro bem desgastado e em seguida estendeu a mão para o homem, dizendo:
– “Deve ser isto então!” Entregando-lhe um diamante enorme.
O outro levou um grande susto e exclamou: – “Mas! Esta pedra deve ter um valor enorme!”
– “É mesmo? Pode ser. Eu a encontrei no bosque.” Disse o mendigo.
– “Muito bem, quanto devo dar por ela?
– “Nada! Para mim ela não serve. Não preciso dela. Se ela lhe serve, leve-a. Não foi isto que o mago lhe disse?”. Perguntou o mendigo.
– “Sim, foi isto que ele me disse. Obrigado”. Muito confuso, o homem guardou a pedra e foi embora.
Meia hora mais tarde ele voltou. Ao encontrar o mendigo, disse:
– “Tome sua pedra e me dê o tesouro”.
– “Não tenho nada para lhe dar”. Disse o mendigo.
– “Tem sim! Quero que me ensine como pôde abrir mão dela sem que isso o incomodasse”.
O homem então passou anos ao lado do mendigo até que aprendeu o que era o desapego.
Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande mestre com o objetivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa.
Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para uma floresta.
Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta.
Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir.
Então disse o príncipe:
“Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus…”
E ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse a floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível.
Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do mestre, pensando:
“Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta…”
Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo… mas não conseguiu distingir nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre.
Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes.
E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam.
Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz.
Pensou: “Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse…”
E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente.
Queria ter certeza de que estava no caminho certo.
Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir.
Paciente e respeitosamente o príncipe disse:
“Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite… “
O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:
“Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender o que está errado e atender as reais necessidades de cada um. A morte do espírito começa quando as pessoas ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem se atentarem no que vai no interior das pessoas para ouvir os seus sentimentos, desejos e opiniões reais. É preciso, portanto, ouvir o lado inaudível das coisas, o lado não mensurado, mas que tem o seu valor, pois é o lado mais importante do ser humano…”
Certa vez um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Ele acordou assustado e mandou chamar um sábio para que interpretasse seu sonho.
– Que desgraça, senhor! – exclamou o sábio. -Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade!
– Mas que insolente! , gritou o sultão. Como se atreve a dizer tal coisa?!
O sultão chamou os guardas e mandou que lhe dessem cem chicotadas. Ordenou, em seguida, que chamassem outro sábio, para interpretar o mesmo sonho.
O outro sábio disse:
– Senhor, uma grande felicidade vos está reservada !!!
O sonho indica que irá viver mais que todos os vossos parentes!
A fisionomia do sultão iluminou-se e ele mandou dar cem moedas ao sábio.
Quando este saía do palácio, um cortesão perguntou:
– Como é possível?
A interpretação que você fez foi a mesma do seu colega e, no entanto, ele levou chicotadas e você moedas de ouro!
– Lembre-se sempre, amigo – respondeu o sábio – que tudo depende da maneira de dizer as coisas. E esse é um dos grandes desafios da humanidade! É daí que vem a felicidade ou a desgraça; a paz ou a guerra.
A verdade sempre deve ser dita, não resta a menor dúvida, mas a forma como ela é dita é que faz toda a diferença. A verdade deve ser comparada a uma pedra preciosa: se a lançarmos no rosto de alguém, pode ferir, provocando revolta. Mas se a envolvemos numa delicada embalagem e a oferecermos com ternura, certamente será aceita com facilidade.
Querendo atravessar um rio, o escorpião, que não consegue nadar, perguntou à tartaruga:
– Posso atravessar esse rio agitado em suas costas?
– Você está louco? – respondeu a tartaruga – você me picará enquanto eu estiver nadando e me afogarei.
– Querida tartaruga, – respondeu o escorpião – se eu fosse picar você então o que disse seria uma verdade. Entretanto, eu iria com você para o fundo do rio. Ora, que lógica tem isso?
Depois de um momento de reflexão, a tartaruga convencida pelo escorpião, concordou em transportá-lo.
– Sobe, disse ela.
O escorpião subiu no casco da tartaruga e ela se jogou na água. Quando estava atingindo o meio do rio, o escorpião deu-lhe uma impiedosa ferroada. O veneno agiu quase que de imediato paralisando a tartaruga que não conseguiu mais nadar e começou a ir para o fundo, levando junto seu passageiro.
Com ar de indignação, voltando-se para o escorpião, a tartaruga disse:
– Quero lhe perguntar uma coisa: você disse que não havia lógica em você me picar. Por que o fez?
– Não tem nada que ver com a lógica, – respondeu ele – é simplesmente a minha natureza.
Ao ver cinco dos seus alunos voltando do mercado de bicicleta, o Mestre Zen decidiu testá-los:
– Por que vocês estão montando as suas bicicletas?
O primeiro estudante respondeu:
– A bicicleta é para levar este saco de batatas. Eu estou contente por não ter precisado carregá-lo em minhas costas!
O professor elogiou o estudante, dizendo:
– Você é um rapaz inteligente. Quando envelhecer, não vai andar curvado, como eu.
O segundo aluno respondeu:
– Adoro ver o campo e as árvores enquanto pedalo no caminho!
O professor elogiou o estudante:
– Significa que seus olhos estão abertos e você vê o mundo.
O terceiro aluno respondeu:
– Eu fico feliz ao montar minha bicicleta, e começo a cantar.
O professor deu louvor ao terceiro aluno, acrescentando:
– Sua mente vai funcionar com a facilidade de uma roda recém-montada.
O quarto estudante respondeu:
– Andando de bicicleta, eu me sinto em harmonia com todos os seres.
O professor ficou satisfeito e disse:
– Você está andando no caminho de ouro do não-prejudicar.
O quinto aluno respondeu:
– Eu ando de bicicleta para andar de bicicleta.
O professor sentou-se aos pés do quinto aluno e disse:
– Eu sou seu discípulo!
Viveu outrora, muito longe daqui, uma viúva que tinha duas filhas. Uma delas, sua filha legítima, era uma grande preguiçosa. A outra, ao contrário, era muito trabalhadeira. Enquanto a primeira era mimada pela mãe, a enteada era a gata burralheira da casa. Era ela quem fazia tudo. Como se não bastasse, ia todos os dias sentar-se com seu fuso na beira de um poço da estrada, onde ficava horas fiando. Seus dedos até sangravam.
Numa dessas vezes, quis lavar o fuso manchado de sangue nas águas do poço, e aconteceu que ele escapou de suas mãos e desapareceu na água. Ela voltou chorando para casa e contou à madrasta o que havia acontecido. A madrasta, furiosa, lhe disse aos gritos:
– Ah!… Então deixou o fuso cair no poço? Pois vá buscá-lo, sua desastrada!
A pobre moça voltou para o poço sem saber o que fazer. Tão desesperada estava que, numa tentativa para recuperar o fuso, atirou-se na água e perdeu os sentidos.
Quando voltou a si, estava deitada na relva numa linda campina pontilhada de flores vicejando ao sol. Levantou-se e, caminhando por ali, encontrou um forno cheio de pães. Quando se aproximou, os pães gritaram:
– Tire-nos daqui! Tire-nos daqui! Já estamos assados e não queremos nos queimar!
Pegando uma pá de padeiro que havia ali, a moça tirou, um por um, todos os pães do forno.
Depois, continuando a andar, passou por uma macieira carregadinha de maçãs.
– Sacuda-me! Sacuda-me! pediu a árvore. Meus frutos estão maduros e pesam demais!
A moça sacudiu-a com força e as maçãs choveram. Quando não ficou uma só no pé, amontoou-as no chão e se afastou.
Finalmente chegou a uma casinha e viu uma velha espiando-a. Era muito feia e tinha uns dentes enormes. A moça fugiu assustada, mas a velha chamou-a:
– Menina, volte aqui! Por que está assim tão assustada? Fique comigo! Se me ajudar na arrumação da casa, e fizer tudo direitinho, vamos nos dar muito bem. Só tem que se preocupar é com minha cama. Quero que sacuda bem o colchão até as penas voarem. Quando elas voam, neva na Terra. Eu sou a Mãe Nevada.
Sua voz era amistosa. A moça acalmou-se e concordou em ficar a seu serviço. Naquele mesmo dia começou a trabalhar, e tudo o que fazia era com o maior capricho e boa vontade. Todas as manhãs sacudia de tal modo o colchão da velha, que as penas voavam para todos os lados, como flocos de neve. A Mãe Nevada jamais a maltratava ou repreendia, e nunca lhe faltou comida quentinha e saborosa.
Assim, viveu feliz por algum tempo, até que um dia começou a sentir saudades. A princípio, não sabia do que, mas logo descobriu que eram saudades de sua casa. E, embora vivesse muito melhor ali do que na casa da madrasta, desejou voltar. Uma tarde disse à velha:
– Senhora Mãe Nevada, estou com saudades de casa. Apesar de estar tão bem aqui, e lá só encontrar sofrimento, mesmo assim, desejo voltar.
– Me agrada saber que sente saudades dos seus, disse a velha. E como me serviu tão bem e com tanta dedicação, eu mesma a levarei para cima. E, pegando a mão da moça, conduziu-a até uma porta enorme, que se abriu de repente.
Qual não foi a surpresa da mocinha quando, ao pisar a soleira, uma chuva de ouro caiu sobre ela, cobrindo-a toda de ouro!
– É um presente meu. Você o merece por ser tão trabalhadeira e atenciosa assim dizendo, a Mãe Nevada entregou-lhe o fuso que caíra no poço e fechou a porta.
A moça percebeu, então, que estava no seu mundo, não muito longe de casa. Dirigiu-se para lá e, mal entrou no pátio, um galo empoleirado no poço cantou:
– Quiquiriqui! Olhem quem chegou! Nossa mocinha de ouro que vale mais que um tesouro!
A madrasta e a filha apareceram na porta. A moça foi ao encontro delas e, como estava coberta de ouro, foi muito bem recebida. Contou-lhe sua aventura no fundo do poço e, quando a madrasta soube como ela conseguira todo aquele ouro, quis que a filha tentasse a sorte de igual maneira.
Assim, levando o fuso, ela foi obrigada a fiar sentada no poço. Evidentemente, não iria ficar horas fiando.
Para andar mais depressa, ela picou o dedo com um espinho, jogou o fuso manchado de sangue no poço, e se atirou atrás dele.
Então, assim como aconteceu com a irmã, encontrou-se na colina e foi caminhando pela mesma trilha percorrida pela outra. Quando se aproximou do forno, os pães gritaram:
– Tire-nos daqui! Tire-nos daqui! Já estamos assados e não queremos nos queimar!
– Imagine se eu vou me sujar de farinha! respondeu a moça sem se deter.
Mais adiante, encontrou a macieira, que lhe pediu:
– Sacuda-me! Sacuda-me! Meus frutos estão maduros e pesam demais!
– Acha que vou querer que eles caiam na minha cabeça? respondeu a moça continuando a andar.
Enfim, chegou à casa da Mãe Nevada. Sem se assustar com a aparência da velha, pois já fora avisada da sua feiúra e dos seus dentes enormes, aceitou prontamente a proposta que lhe fez.
No primeiro dia, trabalhou direitinho e se esforçou bastante, pensando no ouro que iria ganhar. No segundo dia, já deixou transparecer a sua preguiça, fazendo tudo mal feito. No terceiro dia, acordou tarde, não arrumou a cama da velha do jeito que ela queria, e poucas penas voaram.
A Mãe Nevada acabou se aborrecendo e despediu-a. E, assim como fez com a irmã, levou-a até a enorme porta e abriu-a. A moça parou na soleira, esperando a chuva de ouro, mas em vez disso, um caldeirão de piche virou sobre ela. Foi assim, lambuzada de piche, que ela voltou para casa. Ao vê-la chegar, o galo empoleirado no poço cantou:
– Quiquiriqui! Olhem quem chegou! Nossa garota imunda, mais suja do que nunca!
O piche custou tanto para sair de sua pele, que durante muitos meses ela não pode sair de casa.
Havia no alto das montanhas da China antiga, um grande mestre na arte do arco e flecha que por muitos anos ensinava seus discípulos a manejarem o arco como arte, maestria e meditação.
Já havia ensinado a muitos alunos, quando um príncipe de uma grande família da região do norte do país resolveu ir até ele para se aperfeiçoar na arte do arco e flecha.
Era uma rapaz forte, de opinião forte, e não aceitava qualquer ensinamento sem que tivesse uma boa explicação.
O mestre muito paciente lhe ensinou várias técnicas e o rapaz era realmente perseverante e treinava intensamente, sem descanso.
Seus amigos ficavam espantados, pois o príncipe rapidamente se tornou o aluno mais preciso e o mais aguçado na arte da mira e na precisão da flecha. Era de pouca conversa e sempre estava treinando dia e noite.
Uma noite o mestre chegou perto dele e disse:
– Huang Kiu, porque você está treinando tão intensamente? Com quem está competindo?
– Ninguém disse o príncipe, estou apenas treinando, pois quero ser o melhor arqueiro da China, e serei.
– Então, disse o mestre, veja como sua mente está presa nesse desejo, o desejo de ser melhor que todos os outros. Porque não apenas se aperfeiçoar na arte do arco e flecha e respeitar o grande Tao? A flecha flui por si mesma, não precisa nenhum esforço. O dia nasce por si mesmo, a noite nasce por si mesma. Nenhum esforço é necessário. Onde há esforço existe a mente envolvida, controlando, o fluxo foi quebrado.
– Isso não me importa, disse Huang Kiu. Tudo isso é bobagem. Quero me tornar o melhor arqueiro e vou.
Na verdade, vejo que já sou o melhor dos seus alunos aqui, agora só me falta superar o senhor. Quando conseguir, partirei. Terei cumprido meu ciclo aqui.
– Então, disse o mestre, treine mais, treine muito mais, e você me superará.
E assim foi feito. Huang Kiu treinava alucinadamente, dia e noite para superar o seu mestre. Os outros alunos se afastaram dele, e viram que ele precisava ter sempre alguém para superar, isso lhe dava a sensação de poder, e ele se sentia desafiado.
Um dia, Huang Kiu chegou perto do seu mestre e disse:
– Mestre, sinto que já o alcancei. Vamos por a prova?
– Sim, claro vamos por a prova sua superioridade, disse o mestre.
– Então vamos até o alvo mais distante que lhe mostrarei que já estou pronto.
– Sim, disse o mestre, vamos ao alvo mais distante.
E foram os dois, ao grande campo verde, onde o alvo estava pronto a espera dos dois arqueiros. Era realmente distante e somente um grande arqueiro conseguiria acertar o alvo naquela distância.
Huang Kiu se posicionou e disparou a flecha, que foi certeira na mosca.
Não se dando por satisfeito, se posicionou novamente e disparou nova flecha que acertou rente a primeira.
O mestre ficou impressionado e disse:
– Huang Kiu você foi muito bem, muito bem mesmo…mas ainda não está pronto.
– Como não, disse Huang Kiu, acertei na mosca a essa distância, foram perfeitos meus disparos.
Não compreendo o que me falta?
– Venha comigo, e lhe mostrarei o que é a maestria.
E foram os dois pelo penhasco caminhando, subindo pelas montanhas até que se depararam com uma ponte frágil que ligava dois morros, isso a uma grande altura, e lá em baixo passava um rio. O vento soprava forte, as árvores e a ponte balançavam.Foi então que o mestre disse:
– Vê, vai até o meio dessa ponte e dali acerte aquela árvore do outro lado, quero ver a sua destreza de arqueiro aqui nesse lugar, nessas condições.
Huang Kiu se assustou:
– Tenho medo de altura, essa ponte não é segura, o vento está forte, tudo balança, posso cair, nem sequer vejo bem o outro lado a neblina me impede de ver com clareza. Isso é uma bobagem. Não vou fazer, sou um grande arqueiro não preciso desse treinamento nessas condições.
E se virou para ir embora, quando viu o mestre no meio da ponte lançando a flecha com total tranquilidade e precisão mesmo em meio a toda aquela diversidade.
Huang Kiu parou, ficou em silencio. Ali naquele instante percebeu que não sabia nada sobre o caminho do arco e flecha. Ali viu como seu ego se havia inflado e ele pode compreender que a mente serena é capaz de vencer todas as adversidades do momento e permanecer fixa no alvo, mesmo que tudo a volta esteja revolto, a paz interior não se confunde, não se abala, ela é sempre presente e age de acordo com o momento, em perfeita sintonia e precisão.
Quando o mestre retornou, Huang Kiu caiu aos seus pés e lhe pediu perdão por ter sido tão arrogante.
– Mestre, me perdoe, agora compreendo o que queria me ensinar. Vejo que fui um tolo e que não é por aquisição de técnica e treinamento que se chega a maestria, mas pelo esvaziamento do ego e pelo silencio da mente… pela ausência de esforço e por se estar em paz, sereno e centrado… a flecha segue o seu caminho por sí só…
– O mestre olhou no fundo dos seus olhos, e lhe disse:
– Vá, agora você aprendeu a lição. Agora você é um verdadeiro arqueiro. Não há nada mais a aprender.
O Verdadeiro arqueiro dispara com o coração…
Era uma vez um homem que se achava sem sorte.
Parece que tudo o que fazia dava errado. Se resolvia plantar algumas sementes, vinha a chuva e as levava embora ou fazia um sol tão forte que queimava todas as sementes. Muitas coisas ruins aconteciam a ele sem que soubesse o porquê.
Sempre que se encontrava com alguém, aproveitava para falar da sua falta de sorte, de como as coisas não davam certo com ele.
Ele se queixava com as pessoas e as pessoas escutavam suas queixas. Da primeira vez com simpatia, depois com um certo desconforto e enfim quando o viam, mudavam de caminho ou entravam em suas casas fechando portas e janelas, evitando-o.
Então alem de sem sorte, o homem se tornou chato e muito só. Começou a querer achar um culpado para o que acontecia com ele.
Com o tempo, as pessoas começaram a não querer se encontrar mais com ele, para não ter que ouvir aquelas histórias de como as coisas não davam certo, e isso fez com que se sentisse muito só.
O tempo foi passando e ele sempre sozinho, sem ter com quem falar. Isso deixou-o muito triste.
Um dia, sentindo-se sozinho e tristonho, disse para si mesmo:
— Tenho de fazer alguma coisa. Não posso continuar assim, com tanta falta de sorte. E teve uma ideia:
— Já sei o que fazer! Vou me encontrar com Deus! É claro! Se Deus me fez assim, sem sorte, Ele pode mudar a minha vida e me tornar um homem de sorte!
Preparou as coisas que achava importante levar consigo e, numa manhã, partiu em viagem.
Andou por dias e dias, meses e meses até que, finalmente, chegou a uma gigantesca floresta com árvores muito grandes e galhos que quase atingiam o céu.
— Ah! — disse o homem para si mesmo — esse deve ser o lugar onde vive Deus — e começou a se sentir muito sério porque este era realmente um lugar muito sério.
Pouco antes de entrar na floresta ouviu uma voz:
— Homem, me ajude por favor.
Ele olhou para os lados procurando por quem falou, até que se deparou com um lobo magro, quase sem pelos. Ele estava que só pele e ossos. O lobo falou:
— Há três meses estou assim. Não sei o que está acontecendo comigo. Não tenho forças para me levantar.
Passado o susto, o homem respondeu:
— Bobagem a sua queixa. Três meses? Eu tive azar a vida inteira. Mas faça como eu e procure uma resposta. Eu estou indo falar com o Criador para resolver o meu problema.
— Eu não tenho forças nem para ir ao rio beber água. Você está indo vê-lo, pergunte o que está acontecendo comigo. Faça este favor.
O homem franziu a testa e disse que estava muito preocupado com seu problema, mas se lembrasse, perguntaria. Assim, continuou seu caminho. Andou muito e de repente, tropeçou na raiz de uma árvore e ouviu:
— Cuidado homem! Olhando para cima viu que a árvore tinha apenas duas folhas. Levantou-se e observou suas raízes desenterradas, seus galhos retorcidos, sua casca soltando-se do tronco. Depois, disse:
— Você não se envergonha ? Olhe as outras árvores a sua volta e diga se você pode ser chamada de árvore? Conserte sua postura.
A árvore, demonstrando muita dor na voz, disse:
— Não sei o que está acontecendo. Sinto-me muito doente. Há seis meses que minhas folhas caem. Hoje só restam duas. Por favor procure uma solução com o Criador.
Contrariado , o homem seguiu com mais uma incumbência. Andou muito e chegou a um vale com flores de todas as cores e perfumes. Mas o homem não reparou nisto. Chegou até uma casa onde uma moça muito bonita o convidou a entrar. Eles conversaram longamente e quando o homem deu por si já era madrugada. Ele se levantou dizendo que não podia perder tempo. Quando estava saindo, ela lhe pediu um favor:
— Você pode perguntar ao Criador uma coisa para mim? É que de vez em quando sinto um vazio no peito, que não tem motivo e nem explicação. Gostaria de saber o que é e o que posso fazer por isto.
O homem prometeu que perguntaria e virou as costas e andou muito até que chegou ao fim do mundo. Sentou-se e ficou esperando até que ouviu uma voz, que só podia ser a voz do criador.
— Tenho muitos nomes. Chamam-me também de Criador.
O homem contou tudo sobre a sua triste vida. Conversou longamente com a voz. No final da conversa, se levantou e virando as costas foi saindo, quando a voz lhe perguntou:
— Você não está se esquecendo de nada? Não ficou de saber respostas para uma árvore, para um lobo e para uma jovem?
— Tem razão. Voltou para ouvir o que tinha que ser dito.
Quando terminou de escutar, correu. Depois de um tempo, chegou na casa da jovem, que vendo-o passar, chamou:
— Você conseguiu encontrar o Criador? Teve as respostas que queria?
— Sim! Claro! O Criador disse que minha sorte está no mundo . Basta ficar atento e perceber a hora de pegá-la!
— E você fez a minha pergunta?
— Ah! O Criador disse que o que você sente é solidão. Assim que encontrar um companheiro vai ser completamente feliz, e que mais feliz ainda vai ser o seu companheiro.
Então, a jovem abriu um sorriso e perguntou ao homem se ele queria ser este companheiro.
— Claro que não. Já trouxe a sua resposta e não posso perder tempo com você. Não foi para ficar aqui que fiz toda esta jornada.
Correu então até a floresta onde estava a árvore. Ele nem se lembrava mais dela. Mas quando novamente tropeçou em sua raiz, viu cair a última folha. Ela perguntou se ele tinha uma resposta, ao que o Homem respondeu:
— Tenho muita pressa e vou ser breve, pois estou indo em busca de minha sorte. Ela está no mundo. O Criador disse que você tem embaixo de suas raízes uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. O ferro desta caixa está corroendo suas raízes. Se você cavar e tirar esta caixa, vai terminar todo o seu sofrimento e você vai poder virar uma árvore saudável novamente.
— Por favor ! Faça isto por mim! Você pode ficar com o tesouro. Ele não serve para mim. Eu só quero de novo minha força e energia. O homem deu um pulo e falou indignado:
— Você está me achando com cara de quê? Já trouxe a resposta para você. Agora resolva o seu problema. O Criador falou que minha sorte está no mundo e eu não posso perder tempo aqui conversando com você, muito menos sujando minhas mãos com terra.
Então, correu, atravessando a floresta. Chegou onde estava o lobo, mais magro ainda e mais fraco. O homem lhe disse:
— O Criador mandou lhe falar que você não está doente. O que você tem é fome. Está morrendo de inanição, e como não tem mais forças para sair e caçar, vai morrer ai mesmo. A não ser que passe por aqui uma criatura bastante estúpida, e você consiga comê-la.
Nesse momento, os olhos do lobo se encheram de um brilho estranho. Reunindo o restante de suas forças, o lobo deu um pulo e comeu o homem sem sorte.
Era uma vez um belo jardim com maçãs, laranjas, pêras e lindas rosas. Tudo era alegria no jardim, com exceção de uma árvore que estava profundamente triste. A árvore tinha um problema: Não sabia quem era, nem o que tinha de fazer.
A macieira lhe disse que era muito fácil fazer saborosas maçãs.
– Por que não tentar?
– Não a escute, lhe disse a roseira. É melhor ter rosas. Não vê como elas são belas?
E a árvore desesperada, tentava tudo o que lhe sugeriam, porém não lograva ser como as demais, se sentia cada vez mais frustada.
Um dia chegou ao jardim uma coruja, o mais sábio dos pássaros, e ao ver o desespero da árvore, exclamou:
– Não se preocupe, seu problema não é grave, muitos seres sobre a Terra o têm. Vou lhe mostrar uma nova possibilidade:
– Não dedique sua vida para ser como os outros querem que você seja … Busque ser você mesmo, conhecendo e ouvindo a sua voz interior, ela irá dizer-lhe qual é a sua vocação, a sua missão nesta vida – e dito isso, a coruja desapareceu.
– Minha voz interior…? Ser eu mesmo?… Conhecer-me?… Vocação?… Missão?…
Perguntava a si mesma a árvore desesperada, quando de repente ela percebeu … E fechando os olhos e os ouvidos, pode abrir o seu coração, e ouvir uma voz interior dizendo:
– Você jamais dará maças porque você não é uma macieira, nem irá florescer a cada primavera, porque você não é uma roseira. Você é um carvalho, e seu destino é crescer; ser grande e majestoso. Proporcione abrigo para pássaros, sombra para os viajantes, beleza para a paisagem … Essa é a sua vocação .. É para isso que você nasceu. Descubra como se manifestar e cumpra a sua missão.
A árvore se sentiu forte e segura de si mesmo e se preparou para ser tudo aquilo para o qual foi concebida. Assim, logo cresceu e passou a ser admirada e respeitada por todos.
Só então o jardim ficou completamente feliz.
Um homem estava perdido no deserto. Ele estava há muito tempo sem beber, nem mesmo uma gota de água. Assim, estava destinado a morrer de sede.
Caminhando com muita dificuldade, ele chegou a uma velha cabana, que estava desmoronando, sem janelas e sem telhado.
Andou em volta da casa e quando encontrou uma pequena sombra, acomodou-se para se proteger do calor e do sol do deserto.
Olhou ao redor e viu uma velha bomba d’água, toda enferrujada.
Arrastou-se até ela e, agarrando a manivela, começou a bombear, a bombear e a bombear, sem parar. Mas, nada aconteceu.
Desapontado, caiu prostrado para trás, sentando no chão. Então, reparou que a seu lado havia uma velha garrafa. Pegando-a, limpou-a de toda a sujeira e do pó que a cobria. Havia um rótulo na garrafa, onde ele pôde ler um recado, que dizia:
“Primeiro, você precisa preparar a bomba para que ela possa funcionar. Para tal, derrame nela toda a água que contém nesta garrafa, meu amigo. A bomba vai então funcionar. Beba e use toda a água que necessitar. Depois, antes de ir embora, faça o favor de encher a garrafa outra vez para o próximo viajante.”
O homem retirou a rolha da garrafa, e constatou que estava cheia d’água… cheia d’água!
E viu-se, de repente, num dilema:
Se bebesse a água, ele poderia sobreviver, mas se a despejasse naquela bomba velha e enferrujada e, ela não funcionasse, morreria de sede.
Por outro lado, talvez a bomba jorrasse água fresca, bem gelada, vinda do fundo do poço. Assim, ele poderia levar, toda a água que quisesse.
Mas, talvez a bomba não funcionasse, e a água da garrafa seria desperdiçada.
– O que devo fazer? Derramar a água na bomba e girar a manivela para que ela bombeie água fresca, ou beber a água que está na garrafa, ignorando a mensagem do rótulo?
– E se eu perder toda a água da garrafa, na esperança de que a bomba funcione conforme diz as instruções pouco confiáveis, escritas há não sei quanto tempo atrás?
Com relutância, ele resolveu derramar toda a água na bomba. Em seguida agarrou a manivela e começou a bombear.A bomba começou a ranger, mas nada acontecia!
A bomba continuava apenas fazendo ruído e então, de repente, surgiu um fio d’água, depois um pequeno fluxo e, finalmente, a água jorrou em abundância! Para alívio do homem, a velha bomba fez jorrar água fresca e cristalina!
Sem perder tempo, o homem encheu a garrafa e bebeu com avidez. Depois, encheu a garrafa de novo e bebeu ainda mais de seu conteúdo refrescante. Encheu-a pela última vez até o gargalho e arrolhou-a deixando-a para o próximo viajante. Antes de partir acrescentou ao recado uma pequena nota:
“Acredite em mim. Faça o que o recado diz. Vai funcionar. Você precisa dar toda a água antes de obtê-la novamente”.
Havia uma vez um lavrador generoso e muito trabalhador que tinha vários filhos, todos preguiçosos e cheios de cobiça. Em seu leito de morte, o velho lavrador lhes disse que encontrariam seu tesouro se viessem a cavar num lugar determinado. Assim que o lavrador morreu, seus filhos correram para o campo; escavaram de ponta a ponta, com ânsia e desespero crescentes ao não encontrar o tesouro no trecho indicado.
Não encontraram o que buscavam. Imaginando, então, que por ser muito generoso, o pai distribuíra seu ouro em vida, desistiram da busca. Por fim, pensaram que, já que a terra fora revolvida, poderiam plantar ali algum cereal. Assim plantaram trigo, que cresceu e deu abundante safra. Eles venderam o produto da colheita e tiveram um ano de prosperidade.
Concluída a colheita, os filhos do lavrador pensaram novamente na remota possibilidade de que o tesouro talvez lhes tivesse passado despercebido. E foram cavar de novo em suas terras, mas sem resultado.
Transcorridos alguns anos eles acostumaram-se a semear e colher, seguindo o curso das estações, algo que não tinham aprendido antes.
Foi então que compreenderam a razão pela qual seu pai usara aquele expediente para discipliná-los, e se converteram em lavradores honestos e contentes com sua condição. Finalmente se deram conta de que possuíam riqueza suficiente para não precisarem se interessar pelo tesouro escondido.
Dá-se o mesmo com o ensinamento acerca da maneira de entender o destino humano e o significado da vida. O professor, ao defrontar-se com a impaciência, a confusão e ansiedade dos estudantes, deve encaminhá-los para uma atividade que ele sabe ser instrutiva e benéfica para eles, mas cuja verdadeira função e objetivo com frequência lhes permanecem ocultos devido a sua própria inexperiência.
Conta-se que num país longínquo, há muitos séculos, um rei se sentiu intrigado com algumas questões. Desejando ter respostas para elas, resolveu estabelecer um concurso do qual todas as pessoas do reino poderiam participar.
O prêmio seria uma enorme quantia em ouro, pedras preciosas, além de títulos de nobreza. Seria premiado com tudo isto quem conseguisse responder a três questões:
Qual é o lugar mais importante do mundo?
Qual é a tarefa mais importante do mundo?
Quem é o homem mais importante do mundo?
Sábios e ignorantes, ricos e pobres, crianças, jovens e adultos se apresentaram, tentando responder as três perguntas.
Para desconsolo do rei, nenhum deles deu uma resposta que o satisfizesse.
Em todo o território apenas um único homem não se apresentou para tentar responder os questionamentos. Era alguém considerado sábio, a quem não importava as fortunas nem as honrarias da terra.
O rei convocou esse homem para vir à sua presença e tentar responder suas indagações.
E o velho sábio respondeu a todas:
O lugar mais importante do mundo é aquele onde você está. O lugar onde você mora, vive, cresce, trabalha e atua é o mais importante do mundo. É ali que você deve ser útil, prestativo e amigo, porque este é o seu lugar.
A tarefa mais importante do mundo não é aquela que você desejaria executar, mas aquela que você deve fazer. Por isso, pode ser que o seu trabalho não seja o mais agradável e bem remunerado do mundo, mas é aquele que lhe permite o próprio sustento e da sua família. É aquele que lhe permite desenvolver as potencialidades que existem dentro de você. É aquele que lhe permite exercitar a paciência, a compreensão, a fraternidade. Se você não tem o que ama, importante que ame o que tem. A mínima tarefa é importante. Se você falhar, ou se omitir, ninguém a executará em seu lugar, exatamente da forma e da maneira que você o faria.
E, finalmente, o homem mais importante do mundo é aquele que precisa de você, porque é ele que lhe possibilita a mais bela das virtudes: a caridade. A caridade é uma escada de luz. E o auxílio fraternal é oportunidade luminosa. É a mais alta conquista que o homem poderá desejar.
O rei, ouvindo as respostas tão ponderadas e bem fundamentadas, aplaudiu agradecido.
Para sua própria felicidade, descobrira um sentido para a sua vida, uma razão de ser para os seus últimos anos sobre a Terra.
Era uma vez, um certo mercador que possuía um papagaio preso em uma gaiola. Um dia, estando de partida para a Índia, a tratar de negócios, dirigiu-se ao pássaro e assim lhe disse:
– Eu estou viajando à tua terra natal. Tem alguma mensagem que deseja enviar aos seus parentes de lá?
– Diga a eles, – disse o louro -, que estou aqui, vivendo numa gaiola.
Ao voltar da viagem, o mercador disse ao papagaio:
– Sinto lhe dizer que quando encontrei seus parentes na floresta e lhes contei que você vivia engaiolado a comoção foi forte demais para um deles, pois mal ouviu a notícia e caiu do alto do galho onde se achava. Sem dúvida, morreu de tristeza.
No mesmo instante em que o mercador terminou de falar, o louro caiu duro, no chão de sua gaiola.
Com pena, o mercador o tirou da gaiola e o colocou do lado de fora, no jardim. Então, o louro, que havia recebido e entendido a mensagem, se levantou, bateu asas e voou para longe, muito longe, fora do alcance do mercador.
Há algum tempo atrás existia, numa distante e pequena vila, um lugar conhecido como “A Casa dos Mil Espelhos”.
Certo dia, um pequeno e feliz cãozinho soube deste lugar e decidiu visitá-lo.
Quando lá chegou, saltitou feliz escada acima até a entrada da casa. Olhou através da porta de entrada com suas orelhinhas bem levantadas e abanando a sua cauda, tão rapidamente quanto podia.
Para sua grande surpresa, deparou-se com outros mil pequenos e felizes cãezinhos, todos a abanarem as suas caudas, tão rapidamente quanto a dele.
Nesse momento, deu um enorme sorriso e foi correspondido com mil sorrisos enormes. Quando saiu da casa pensou: ‘Que lugar maravilhoso! Voltarei sempre, um milhão de vezes’.
Na mesma vila havia outro pequeno cãozinho, não tão feliz quanto o primeiro, que decidiu também visitar a casa.
Subiu lentamente as escadas e espreitou através da porta.
Quando viu mil cães a olhá-lo fixamente, rosnou e mostrou os dentes e ficou assustado ao ver mil cães a rosnar-lhe e a mostrar-lhe os dentes.
Saiu correndo e pensou: “Que lugar horrível, nunca mais volto aqui!”
Todos os rostos no mundo são espelhos.
Dois monges se preparavam para atravessar um rio, conhecido como o “Rio da Discórdia”, antes de subirem uma montanha, chamada de Montanha da Fé.
Um deles era novo e o outro velho.
Ao chegarem às margens do rio, os religiosos ficaram ao lado de uma moça muito bem vestida, que também queria chegar ao outro lado do rio, mas com um detalhe: sem se molhar!
Com um olhar, ela pediu ajuda ao monge mais novo.
Este desviou o olhar e seguiu pelo rio.
A mulher arrumou os cabelos, se abanou com um leque e dirigiu o seu pedido de ajuda com um profundo olhar para o monge mais velho.
Este não teve dúvida: pôs a moça nos ombros e atravessou o rio, carregando-a.
Do outro lado, satisfeita e seca, ela agradeceu o velho e olhou o novo com desdém. E o novo olhou com indignação e raiva para o velho! O monge retribui aos dois com um olhar de compaixão e tranquila alegria. Nem é preciso dizer que aquilo irritou ainda mais o mais novo.
Os monges continuaram seu caminho rumo a Montanha da Fé. O novo carregava um semblante pesado e carrancudo e o velho levava com ele sua expressão de leveza e serenidade.
De acordo com as regras de sua fé, os monges não deveriam tocar as mulheres. Caminharam por horas, mas o monge mais novo ainda estava perplexo com a atitude do mais velho. Quando chegaram ao pé da montanha da fé, o jovem não aguentou mais e expressou seus pensamentos em voz alta:
– Você sabe muito bem que os monges não devem tocar as mulheres! Por que carregou aquela moça pelo rio?
– Naquele momento, julguei que ajudar um outro ser humano sem julgá-lo fosse mais importante do que não tocá-lo. No entanto, eu larguei a jovem três horas atrás e a deixei às margens do rio. Por que você continua carregando a moça?
Conta uma popular lenda do Oriente, que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e, aproximando-se de um velho, perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive nesse lugar ?
– Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? – perguntou o ancião.
– Oh, um grupo de egoístas e malvados – replicou o rapaz – Estou satisfeito de haver saído de lá.
– A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui –Replicou o velho.
No mesmo dia, outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:
– Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta: – Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu: – Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
– O mesmo encontrará por aqui – respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
– Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
– Cada um carrega no seu coração o meio e os sentimentos que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto.
Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que adorava ensinar sua filosofia para os jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda que ele ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.
Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos contra-atacava com velocidade fulminante.
O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. E, conhecendo a reputação do velho samurai, estava ali para derrotá-lo, aumentando sua fama de vencedor.
Todos os estudantes manifestaram-se contra a ideia, mas o velho aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos – ofendeu inclusive seus ancestrais.
Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho mestre permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.
Desapontados pelo fato do mestre ter aceito tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram: Como o senhor pode suportar tanta indignidade? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar-se covarde diante de todos nós?
– Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente? – perguntou o velho samurai.
– A quem tentou entregá-lo – respondeu um dos discípulos.
– O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos – disse o mestre – Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carrega consigo.
Havia uma viúva que vivia com seus cinco filhos numa pequena faixa de terra irrigada, cujas colheitas lhes proporcionavam o mínimo para seu sustento. Seus direitos de utilizar a água tinham sido usurpados por um tirano que mandara obstruir o canal que teria representado bons proventos para aquela família. O irmão mais velho tentou por várias vezes remover o entulho do canal, mas agia sozinho e não era robusto. Além do mais, sabia que o tirano poderia sempre restaurar a barragem, sendo assim seus esforços mais heroicos do que práticos.
Certo dia, seu pai pareceu manifestar-se numa visão. Deu-lhe algumas instruções, baseadas na esperança. Pouco tempo depois o déspota, irritado com o comportamento independente do rapazinho, acusou-o de causador de problemas e, espalhando tal acusação pelas vizinhanças, conseguiu com que as pessoas do lugar o hostilizassem.
O jovem partiu então para uma cidade distante, onde trabalhou durante muitos anos como ajudante de um mercador. De tempos em tempos, enviava para sua mãe todo o dinheiro que obtinha, através de caixeiros-viajantes. Por não querer que os seus se sentissem em dívida com ele, e por ser mais seguro para os viajantes portadores de dinheiro não serem vistos ajudando pessoas marginalizadas, pediu-lhes que entregassem as moedas à viúva e seus filhos em troca, pretensamente, de favores solicitados a estes.
Após muitos anos de ausência, chegou o momento de o irmão mais velho regressar ao povoado. Quando apareceu em sua casa, somente um de seus irmãos o reconheceu, e ainda assim não estava muito convencido de estar diante de seu irmão mais velho, pois este mudara muito.
– Meu irmão tinha cabelo preto – disse o mais novo.
– Mas tenho mais idade agora – retrucou o irmão mais velho.
– Nós não somos mercadores – disse outro dos irmãos. – Como é possível que este homem, vestido assim e falando dessa maneira, seja nosso parente?
O recém-chegado deu explicações, mas o outro não se mostrou convencido de todo.
– Me lembro de quando vocês quatro ficavam a meus cuidados, e de como adoravam ver a água borbulhando, contida mais adiante pela represa – acrescentou o irmão mais velho.
– Não nos recordamos disso- eles replicaram, porque a passagem do tempo os tornara quase esquecidos de sua condição.
– Mas eu lhes enviei recursos, com os quais puderam manter-se desde que a água acabou de secar.
– Não sabemos de nada sobre isso; só conseguimos dinheiro de vez em quando em troca de serviços que prestamos a diversos viajantes – replicaram os irmãos em coro.
– Descreva-nos nossa mãe – disse, de repente, um dos irmãos, tentando obter uma comprovação.
Mas como aquela senhora havia morrido fazia tanto tempo, e as suas lembranças tinham se diluído nas suas mentes, todos achavam o que criticar na descrição fornecida pelo irmão mais velho.
– Bem, se você é mesmo nosso irmão, que veio nos dizer afinal? – indagaram em coro.
– Que aquele tirano morreu; que os soldados desertaram em busca de outros senhores que os mantenham em ação. E que chegou a hora de todos juntos devolvermos o verdor e a felicidade a esta terra.
– Eu não lembro de nenhum tirano – disse o primeiro irmão.
– Esta terra sempre foi assim – observou o segundo.
– Por que deveríamos fazer o que você diz? – perguntou o terceiro.
– Eu o ajudaria com prazer, mas não compreendo realmente o que está falando – disse o quarto.
– Além do mais, não preciso dessa água. Reúno galhos secos e faço fogo. Os viajantes param e se sentam ao pé da fogueira. E me pagam por pequenos serviços que lhes presto – disse o primeiro irmão.
– E se a água corresse para cá, inundaria o baixio onde mantenho a minha carpa ornamental em um pequeno lago. Algumas vezes os viajantes param aqui para admirá-la e me dão trocados – acrescentou o segundo dos irmãos.
– Quanto a mim – observou o terceiro irmão -, queria que houvesse água aqui, mas não sei se ela renovaria estas terras.
O quarto irmão nada disse.
– Vamos ao trabalho – disse o mais velho.
– Será melhor esperarmos até ver se os mercadores vêm – disseram os outros.
– Naturalmente que não virão aqui, pois era eu quem os enviava – retrucou o irmão mais velho.
Mas eles discutiram, discutiram e o tempo foi passando…
Aquela não era a estação do ano em que os mercadores passavam por aquele caminho, já que a neve, como era normal naqueles meses, bloqueava as passagens comuns que levavam ao sítio dos cinco irmãos.
Antes que viesse a primavera, quando as caravanas seguiam pela Estrada da Seda, um tirano, pior que o anterior, apareceu ali. Como ainda não se sentia seguro de sua força, só se apossava de terras abandonadas. Ao ver a represa, e seu aspecto desolado, sentiu crescer sua onda de cobiça. Assim, não só se apoderou dela, como também decidiu escravizar os cinco irmãos quando tivesse poder suficiente, pois estes, inclusive o mais velho, eram homens robustos.
E os irmãos ainda estão discutindo, sendo muito improvável que alguma coisa venha a ser feita para conter o tirano.
O Mestre Zen, Hakuin, era respeitado por todos os seus vizinhos como alguém que levava uma vida pura.
Um dia, foi descoberto que uma moça muito bonita que morava perto de sua casa estava grávida.
Os pais da moça ficaram furiosos. No início, a moça não quis dizer quem era o pai, mas após muita pressão falou que era Hakuin.
Com muita raiva, os pais foram a Hakuin, mas tudo o que ele disse foi: “É mesmo?”
Quando a criança nasceu, foi levada a Hakuin que, a essa altura, já havia perdido sua reputação, o que parecia não perturbá-lo absolutamente.
Hakuin obteve leite, comida e tudo o mais que a criança necessitava, pedindo esmola a seus vizinhos com todo o carinho.
Um ano mais tarde, não suportando mais a situação, a mãe da criança contou a verdade a seus pais – o verdadeiro pai era um jovem que trabalhava no mercado de peixes.
O pai e a mãe da moça foram imediatamente a Hakuin contar-lhe toda a história. Desculparam-se muito, imploraram seu perdão e pediram a criança de volta.
Enquanto entregava a criança, de boa vontade, o Mestre simplesmente falou: “É mesmo?”
Um homem estava caminhando ao pôr do sol em uma praia deserta do México. À medida que caminhava, começou a avistar outro homem a distância. Ao se aproximar, percebeu que era um nativo. Observou que ele se inclinava, apanhando algo e atirando na água. Repetidamente, continuava jogando coisas no mar.
Ao se aproximar ainda mais, nosso amigo notou que o homem estava apanhando estrelas do mar que haviam sido levadas para a praia pelas ondas e, uma de cada vez, as estava lançando de volta à água.
Nosso amigo ficou intrigado. Aproximou-se do homem e disse:
– Boa tarde, amigo. Estava tentando adivinhar o que você está fazendo.
– Estou devolvendo estas estrelas do mar ao oceano. Você sabe, a maré está baixa e todas as estrelas do mar foram trazidas para a praia. Se eu não as lançar de volta ao mar, elas morrerão por falta de oxigênio.
– Entendo, – respondeu o homem, – mas deve haver milhares de estrelas do mar nesta praia. Provavelmente, você não será capaz de apanhar todas elas. É que são muitas, simplesmente. Você percebe que provavelmente isso está acontecendo em centenas de praias acima e abaixo desta costa? Vê que não fará diferença alguma?
O nativo sorriu, curvou-se, apanhou uma outra estrela do mar e, ao arremessá-la de volta ao mar, respondendo com um argumento:
– Fez diferença para aquela!
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Que página valiosa!
Parabéns pela belíssima compilação.
A página é bastante interessante, porém poderia passar por revisões antes da publicação. Pois, no conto a Árvore Confusa a palavra macieira está com ç. Antes das vogais e, i não se utiliza ç.
Esse comentário não desmerece o trabalho aqui proposto, apenas o enriquecerá.
Parabéns!
Corrigimos o erro Márcia, muito obrigado!
Amei a página e me encantei com os contos. Parabéns.
MUITO OBRIGADO, ME AJUDOU MUITO
Muito bom!
Ual. Os textos deste artigo são muito inspiradores.
Adorei conhecê-los.
Vou dar uma olhada nos outros artigos do seu blog.
Um abraço.
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simplesmente, estão de parabéns, com isso eu vejo as coisas de outra forma.
Fui catando os contos em diferentes pontos