Movimentos

A Tropicália e 12 curiosidades que você precisa conhecer


O que foi a Tropicália?

TropicáliaTropicalismo ou Movimento tropicalista foi um movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas da vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o rock ‘n roll e o concretismo); misturou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais[1].

Tinha objetivos comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob a ditadura militar, no final da década de 1960.

O movimento manifestou-se principalmente na música (cujos maiores representantes foram Torquato Neto, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé); manifestações artísticas diversas, como as artes plásticas (destaque para a figura de Hélio Oiticica), o cinema (o movimento sofreu influências e influenciou o Cinema novo de Gláuber Rocha) e o teatro brasileiro (sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa).

Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das canções de Caetano Veloso, denominada exatamente de “Tropicália”


O começo do Tropicalismo

O movimento surgiu da união de uma série de artistas brasileiros, no contexto do Festival de Música Popular Brasileira promovidos pela TV Record, em São Paulo, e TV Globo, no Rio de Janeiro e que formaram o movimento musical mais influente e original do país após a Bossa Nova.

Um momento crucial para a definição da Tropicália foi o 3º Festival de Música Popular Brasileira, em 1967, no qual Caetano Veloso interpretou “Alegria, Alegria” e Gilberto Gil, ao lado dos Mutantes, “Domingo no Parque”. No ano seguinte, o festival foi integralmente considerado tropicalista (Tom Zé aí apresentou a canção “São São Paulo”). Em 1968 foi lançado o disco Tropicalia ou Panis et Circencis, um manifesto do grupo e considerado o 2º melhor álbum da música brasileira pela Rolling Stone Brasil.


Origem do nome

A palavra “Tropicália” foi cunhada por Hélio Oiticica em uma obra apresentada em 1967 no MAM no Rio de Janeiro. Mais tarde no mesmo ano ocorreria a terceira edição do festival de Música Brasileira na Rede Record. Foi lá que tomou forma a Tropicália, por meio, justamente, de “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, que ficou na quarta posição na premiação final. O evento, chamado de “festival da virada”, teve outra música significativa para o movimento: “Domingo no Parque”, cantada por Gil e Os Mutantes . As faixas eram uma mistura de referência, incluindo as guitarras elétricas dos Mutantes e os arranjos do maestro Rogério Duprat. Essa noite ficaria marcada como o início da Tropicália.

O festival, porém, foi tão rico e tão representativo que teve outros grandes nomes e outras grandes músicas que nada tinham a ver com o movimento capitaneado por Gil e Caetano. Chico Buarque , por exemplo, apresentou “Roda Viva” na ocasião, enquanto o grande vencedor da noite foi Edu Lobo com “Ponteio”. Essa grande noite da música nacional foi eternizada no documentário “Uma Noite em 67”, de Renato Terra e Ricardo Calil.

O nome Tropicalismo deu-se ao rótulo encontrado pela mídia para definir um estado de espírito inconformado de Caetano Veloso e Gilberto Gil (que na época vinham em começo de carreira) associado a manifestações espontâneas em outras artes. A respeito disso, Caetano fala:“Sua própria construção (o nome tropicalismo) – por jornalistas ingênuos a partir de uma sugestão de Luís Carlos Barreto por causa da obra de Hélio Oiticica – tem a marca do acaso significativo, do acercamento inconsciente a uma verdade”Características do Movimento

O movimento tropicalista trouxe várias inovações para o cenário cultural brasileiro do final da década de 60. O movimento, de certa forma, foi um rompimento com a arte obviamente militante, que tratava da situação política do país na época da ditadura e tinha a melodia como um sustentáculo desta mensagem.

As letras das canções eram inovadoras, criando jogos de linguagem, se aproximando da poesia dos concretistas. As mensagens das letras eram codificadas, que exigiam uma certa bagagem cultural para que fossem compreendidas. “Alegria, Alegria” de Caetano Veloso não tem sentido óbvio, mas carrega em sua letra preocupações típicas da juventude da década de 60, um tormento com a violência da ditadura e um desejo de inovar, de romper barreiras.

Eles se caracterizavam pelo excesso, roupas coloridas, cabelos compridos e agregavam várias influências musicais. A intenção era chocar e, por meio de performances caracterizadas pela violência estética, protestar contra a música brasileira bem comportada. Influenciados pela contracultura, se apoderaram da linguagem da paródia e do deboche. Os tropicalistas transformaram a música popular brasileira, sendo grandes expoentes da arte brasileira de vanguarda.

Musicalmente, o tropicalismo unia uma mistura da cultura brega, do rock psicodélico, da música erudita, da cultura popular, entre outros, dando conta de várias manifestações da cultura nacional. O som da guitarra elétrica convivia com violinos e com o berimbau. Era o resgate do Movimento antropofágico de Oswald de Andrade aliado a um retorno às raízes das tradições nacionais.


Curiosidades sobre a Tropicália

1- Maria Bethânia, a excluída

Maria Bethânia e seu irmão, Caetano Veloso.
Acervo | MIS

A irmã de Caetano Veloso eternizou em sua voz diversas músicas do período, como “Janelas Abertas e “Tua Presença Morena”. Porém, Bethânia nunca chegou a ser porta-voz do movimento, mesmo citada pelo irmão como uma das criadoras do Tropicalismo. A cantora preferia não seguir nenhum estilo específico, ficando livre para cantar o que bem entendesse. “Não gosto de nada que me amarre”, chegou a dizer em entrevistas. Ficou de fora do Tropicalismo, mesmo participando dele.


2 – Exílio de Gil e Caetano

No mesmo ano, Gil e Caetano foram presos e mandados para o exílio pelo governo militar e o movimento se enfraqueceu.

Noite de 20 de julho de 1969. A data histórica em que o primeiro homem chegou à lua também marcou a despedida de Gil e Caetano do Brasil por causa do exílio imposto pelos militares em um show marcado pela emoção, tendo como cenário uma enorme bola amarela projetada no fundo do teatro Castro Alves, em Salvador.

Um show de despedida, além de possibilitar a arrecadação de fundos para a viagem dos dois ao exílio, já que ambos estavam, há tempos impedidos de trabalhar, ainda seria uma bonita e justa homenagem aos ícones do tropicalismo. Após serem soltos na Quarta-Feira de Cinzas, os dois seguiram para Salvador onde, por cinco meses, foram submetidos a um regime de prisão domiciliar, vivendo em um círculo super restrito de amigos e familiares. Não podiam conceder entrevistas nem participar de gravações e ainda tinham que se apresentar todos os dias no quartel da Polícia Federal.

Diante deste cenário, conseguir a autorização para este show de despedida não foi nada fácil. As negociações com os militares foram arrastadas e intermediadas pelo comandante da Polícia Federal de Salvador. Quando finalmente chegaram a um acordo a única determinação era de que Gil e Caetano deveriam deixar definitivamente o Brasil logo após a realização do show.

Assim, na noite de 20 de julho de 69, duas mil pessoas protagonizariam o que seria um momento histórico para a cultura brasileira: o show Barra 69, a despedida de Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Antes do embarque para o exílio, eles ainda ouviram uma ríspida instrução das autoridades brasileiras: “Não voltem mais a este país. Se vocês voltarem, saiam do avião diretamente para a Polícia Federal, para nos poupar o trabalho de procurá-los”.


3 – Tico-tico no Fubá e Carmem Miranda

Carmen Miranda

Apesar de ser um símbolo nacional, principalmente fora do Brasil, Carmen Miranda dividiu opiniões. Para uns, ela criava um estereótipo falso e simplório do brasileiro para as audiências estrangeiras. Para outros, foi representante da cultura nacional no exterior. Caetano Veloso, inicialmente, considerava que outros artistas eram mais merecedores do reconhecimento internacional de Miranda. Porém, com a Tropicália, ela passou a ser uma representação do movimento, menos por seu significado cultural ou artístico, e mais pela estética mesmo. A imagem “tropical” de Carmen Miranda veio a calhar com a mistura brasileira que nascia e ela foi evocada, inclusive, na faixa “Tropicália”, de Caetano Veloso.


4-  Segredos revelados no documentário Tropicália

Essa pequena curiosidade foi descrita no documentário “Tropicália”, de Marcelo Machado. Em seu filme, ele entrevista os principais representantes do movimento que, além dos nomes já citados, incluiu ainda Rogério Duarte , designer e ilustrador que fez capas de discos e até o famoso pôster de “Deus e o Diabo na terra do Sol”, de Glauber Rocha . Outro personagem do documentário é Torquato Neto, poeta e letrista, autor de diversas músicas do período. Em uma passagem do longa, ao falar sobre Torquato, Duarte “entrega” que foi Torquato quem apresentou maconha pela primeira vez a ele e Gilberto Gil. Realmente, o período foi cheio de novas experiências.


5 – O Programa “Divino, Maravilhoso” escandalizou os conservadores do Brasil

Acesso à imagem

Um verdadeiro happening, com pitadas de anarquia que deixou perplexos até mesmo os técnicos da TV Tupi. Assim era o Programa “Divino, Maravilhoso”, que Gil e Caetano comandavam semanalmente na emissora, graças a Guilherme Araújo que conseguiu concretizar um antigo projeto dos tropicalistas.

Com direção geral de Fernando Faro, produção de Antônio Abujamra e direção de imagens de Cassiano Gabus Mendes, o primeiro programa foi ao ar em 28 de outubro, às 21 horas e deixou muita gente assustada com a ousadia da dupla e de seus convidados.

No programa de estréia, receberam os Mutantes, com quem dividiram a canção “Baby”. Na seqüência, o trio trocou as guitarras por uma bateria improvisada, feita com latas amassadas para acompanhar Gil em “A Luta contra a Lata ou a Falência do Café”, tendo também a participação de Gal Costa. Esta edição ainda teve direito a performances desconcertantes de Caetano que se atirou no chão e plantou bananeira. Gil também não ficou atrás e riu, dançou e rodopiou pelo palco, completamente à vontade.

Nem é surpresa dizer que a farra televisiva acabou gerando manifestações de repúdio da ala mais conservadora e careta da sociedade. Pais de família escreviam cartas cheias de ira para a direção do programa e políticos de cidadezinhas do interior se revoltaram com o que chamaram de “agressões”.

O “Divino, Maravilhoso”, mesmo título de uma canção até então inédita de Gil e Caetano, que acontecia todas as segundas-feiras, ao vivo, tinha auditório livre para o público e cenário mutante. Eles receberam nos programas seguintes outros convidados, como Tom Zé, Torquato Neto, Nara Leão, Juca Chaves e Paulinho da Viola, entre outros.


6 – O Chacrinha e a Noite da Banana

Imagem: Reproduçãoi/TV Bau

Yes, nós temos bananas. Na voz de Caetano, a marchinha de Braguinha e Alberto Ribeiro deu início ao que seria uma atração especial no programa do irreverente Chacrinha: a Noite da Banana.

Anunciado aos quatro ventos, o evento transformou o palco da TV Globo em uma espécie de quitanda gigante, com bananas por todos os lados, sendo distribuídas no auditório e na porta da emissora para o público que passava pelo local. Na estréia, um Caetano vestido a caráter completava o visual anárquico do programa – um camisolão estampado de bananas.

O sucesso deste primeiro programa foi tão estrondoso que logo a emissora resolveu repetir a dose e caprichou na ambientação – e dá lhe bananas! Desta vez, elas também foram distribuídas por Nana Caymmi. Aracy de Almeida foi convidada pessoalmente por Caetano e também participou. A noite contou ainda com dois concursos que gravitavam sob o mesmo tema – quem comesse mais bananas durante o programa ganharia um prêmio em dinheiro, assim como quem conseguisse passar mais tempo plantando bananeira no palco.

Ao mesmo tempo em que serviu para popularizar os tropicalistas, as aparições constantes no Programa Discoteca do Chacrinha também acabaram gerando críticas. Alguns achavam que este tipo de participação desvirtuava o movimento transformando o tropicalismo em algo industrializado para ser consumido ou ainda como mais um produto lucrativo no mercado.

Para os críticos, os tropicalistas deram uma banana e a irreverência continuou com pique total. Em maio, foi a vez da Noite da Chiquita Bacana, uma festa crida por Capinan que aconteceu em uma gafieira na Praça Onze, no Rio de Janeiro. A cafonice era o mote do evento que permitia a entrada com radinho de pilha e lanche. Na decoração, flores de plástico, abacaxis e, é claro, bananas em profusão.


7 – A Boate Sucata no Rio

A badalada boate Sucata, no Rio de Janeiro, decidiu apostar na ousadia dos tropicalistas e, na noite de sexta-feira, 4 de outubro de 1968, deu início a uma temporada de duas semanas de shows memoráveis.

Eles já vinham em ritmo alucinado das atuações no FIC, mas, naquele momento, deram o tom de superação que marcaria as apresentações nas semanas seguintes: gritos, assobios, ruídos, gemidos, distorções de guitarra e respostas debochadas às provocações da platéia. A chamada do show tentava alertar os mais desavisados: “Um espetáculo violento, diferente de tudo que já foi feito”. Desavisado ou não, o público compareceu em peso nos nove dias da temporada.

Os shows eram contagiantes. Ninguém conseguia ficar indiferente – alguns reagiam escandalizados, atiravam ovos, tomates ou cubos de gelo sobre o palco; outros, excitados ou assustados; Havia, ainda, os que entravam no clima e arriscavam subir ao palco para cantar e dançar. Nomes do cinema novo como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Leon Hirszman estavam entre os mais animados…

Os shows começavam menos agressivos, com dois números dos Mutantes. Cabia a Caetano o ponto alto do espetáculo – e ele fazia de tudo: rebolava, dava cambalhotas, plantava bananeira, arrastava-se pelo chão, cantava deitado…

Sua coreografia era sempre acompanhada por um coro de inconformados que gritavam “Bicha! bicha! bicha! mas o refrão era rapidamente incorporado pelos artistas em debochados improvisos. Provocação pura mesmo era quando entrava em cena o hippie norte-americano Johnny Dandurand, o mesmo que irritara a plateia do Tuca ao aparecer uivando e gritando palavras incompreensíveis no meio de “É proibido proibir”.

A loucura era tanta que a apresentação do dia 10 de outubro daquele ano mereceu a primeira página do Jornal Última Hora, sob o título “Show é noite de loucura com happening de Veloso”. A foto trazia Caetano estirado no chão. Aos gritos de “Pára, pára! Isto é uma apelação! Fora! Fora!”, uma moça tentara interromper o espetáculo, mas, ao contrário, acabou dando mais gás ainda aos músicos e, obviamente, à plateia. Sob o som de uma música trepidante, a casa, lotada, foi literalmente à loucura.


8 – Um natal polêmico

O clima natalino invadia o programa Divino, Maravilhoso, transmitido ao vivo pela TV Tupi, na noite de 23 de dezembro de 68. O editor de imagens do programa, Cassiano Gabus Mendes, fez o que pôde, mas não conseguiu evitar que a cena de Caetano apontando um revólver para a própria cabeça aparecesse em primeiro plano no vídeo.

O líder do grupo baiano diz ter se inspirado em cena de Terra em Transe, de Glauber Rocha, mas aproveitou para fazer uma alusão à morte do também baiano Assis Valente, compositor da marchinha “Boas Festas” e das canções “Lá vem o Brasil descendo a ladeira” e “E o mundo não se acabou”. Ele se matou dez anos antes, aos 47 anos, tomando goles de formicida numa garrafa de guaraná. “Anoiteceu, o sino gemeu, e a gente ficou, feliz a rezar…”

Inspiração e homenagem à parte, o que os tropicalistas queriam mesmo era mostrar o inconformismo com a caretice da tradicional família brasileira. E não havia melhor hora para uma cena chocante como essa. Diante de tantas provocações, já se comentava logo nas primeiras semanas de exibição que os dias do programa estavam contados.

Com a decretação do AI-5 em 13 de dezembro do mesmo, o medo havia crescido entre o elenco e a produção. Jô Soares chegou a avisar Caetano e Gil que seus nomes integravam uma lista de “personas non gratas do governo”. Não deu outra. Ambos foram presos em 27 de dezembro.


9 – A Armadilha na FAU/USP

Quando foram convidados para debater o Tropicalismo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da USP, a FAU, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Torquato Neto nem suspeitaram do que estava por vir. Mas, naquele dia 6 de junho de 68, quando chegaram ao auditório da faculdade sob o som de vaias e estouros de bombinhas pressentiram a armadilha que havia sido preparada para provocá-los e agredi-los.

Gilberto Gil e Caetano Veloso, FAU/USP, junho de 1968

Logo na entrada, os estudantes distribuíam um panfleto com um texto de Augusto Boal intitulado “Chacrinha e Dercy de Sapato Branco”, com pesadas críticas aos tropicalistas. Daí já dava para perceber o clima de animosidade que pairava no ar. E para completar o cenário de guerra que fora armado, os organizadores ainda escalaram dois ferrenhos opositores do movimento tropicalista, o compositor Maranhão e o jornalista Chico de Assis. Para contrapor e equilibrar o debate, Guilherme Araújo percebendo a saia justa em que se encontravam, convidou mais dois tropicalistas de peso para engrossar o time dos convidados, os poetas concretos Augusto de Campos e Décio Pignatari.

Augusto abriu o debate falando que as incursões tropicalistas de Gil e Caetano eram uma verdadeira revolução contra o medo. Pignatari falou na sequência, mas a plateia estava nitidamente agitada. O estopim da revolta entre o público presente aconteceu quando Gil argumentou que não foram eles que fizeram da música deles mercadoria, mas que ela só penetra quando é vendida. A confusão chegou ao ápice quando Caetano citou Chacrinha. Esta foi a senha para que a plateia, enraivecida além de vaiar e estourar bombinhas atirasse bananas sobre eles. Mesmo debaixo da chuva de insultos, Pignatari não se intimidou, levantou e sozinho vaiou aquela plateia enfurecida.


10 – O suicídio de Torquato Neto

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Provocativo, com espírito polêmico e exaltado, Torquato foi um ferrenho militante da contracultura no Brasil. Ao mesmo tempo em que comprava brigas e provocava com sua coluna Geléia Geral no jornal carioca A Última Hora, também mostrava as principais novidades do universo pop internacional e da cena underground brasileira.

Foi ele quem denunciou as máfias dos direitos autorais no País, desafiou o compositor Ataulfo Alves e protagonizou uma cena insólita no calçadão de Copacabana, quando encontrou seu desafeto, o humorista do Pasquim, Jaguar, que provocava os tropicalistas no semanário carioca. Sem dar chance ao humorista, totalmente pego de surpresa, Torquato arrancou seus óculos, jogou-os no chão e pisou em cima para surpresa absoluta do agredido. E completou com uma frase: “Você não precisa de óculos, porque é cego de tudo”.

Porém, esse mesmo contestador e inconformado, vivia em crise consigo próprio, angustiado e aflito. O alto consumo de álcool também contribuiu para acentuar o estado depressivo de Torquato. Assim, no mesmo ano que marcou a volta de Gil e Caetano ao país, o cenário cultural brasileiro foi palco de uma tragédia: o suicídio de Torquato no dia 10 de novembro de 1972.

Ele foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento, após vedar as janelas e entradas de ar com lençol e abrir o gás do aquecedor. Deixou o bilhete desconexo bilhete abaixo:

“Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar”.

Apesar da aparente tranqüilidade na comemoração de seu aniversário, dias antes, entre amigos e a esposa Ana, Torquato vinha sinalizando com suas atitudes que não estava bem. Queimou grande parte de seus escritos de poeta, se desfez de sua vasta coleção de literatura de cordel e destruiu sua máquina de escrever, dizendo que nunca mais voltaria a usá-la.


11 – Tomates

Cerca de um ano depois do terceiro Festival de Música Brasileira, os tropicalistas causariam impacto mais uma vez em um festival. Dessa vez, tratava-se do FIC, Festival Internacional da Canção. Caetano apresentou “É Proibido Proibir ”e foi recebido por vaias da plateia. Acompanhado dos Mutantes, ele subiu ao palco com suas vestimentas nada convencionais e juntos fizeram uma apresentação elétrica. O público não os poupou e jogou tomates, ovos e pedaços de pau no palco. Caetano então, fez um discurso acalorado: “Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. (…) Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker!” declarou Caetano.


12 – Os Mutantes

O grupo formado por Rita Lee , Arnaldo Baptista e Sérgio Dias era um caso a parte. Influenciados por Beatles, Jimmy Hendrix e outros nomes do rock internacional, eles foram os grandes percursores do estilo no país, sem deixar de lado as raízes brasileiras, o que os fez tão essenciais para a Tropicália. Além de participarem de “ Panis et Circenses ” disco que reuniu artistas e músicos do período, eles participaram de grandes momentos do movimento citados acima. Estavam, inclusive, no show na boate carioca Sucata em 1969, onde a censura determinou que a bandeira e o hino brasileiros estavam sendo violados, e prendeu Gilberto Gil e Caetano Veloso, fato que acabaria com a Tropicália .


O Manifesto e a arte

Um dos coneitos mais icônicos do Manifesto foi o “Tupi ou não Tupi: essa é a questão”. É tanto uma celebração do Tupi, que praticou certas formas de canibalismo ritual, e um exemplo metafórico do canibalismo em que “come” Shakespeare.

Helio Oiticica

Continuando a defesa do embricamento entre ética e estética, em 1967 Oiticica apresenta no MAM o labirinto Tropicália, trazendo para dentro do prédio modernista de Affonso Eduardo Reidy a arquitetura das favelas. Esta primeira apresentação de Tropicália fez parte da exposição Nova Objetividade, cujo catálogo contou com um texto de Oiticica no qual defende a participação o espectador e a síntese de problemas artísticos, sociais e políticos.

Em Tropicália, Oiticica constrói um ambiente que reúne natureza (plantas e araras) e cultura (poemas de Roberta Oiticica e, na primeira instalação de 1967, uma mesa com trabalhos de António Manuel utilizando páginas de jornais diários, trabalhadas com lápis de cera). No chão, areia e pedriscos remetem às quebradas da favela. Plantas e araras constroem uma imagem de Brasil óbvia, que tenta confrontar o que Oiticica considerava um inaceitável arianismo na cultura brasileira.

“O próprio termo Tropicália era para definitivamente colocar de maneira óbvia o problema da imagem… Todas estas coisas de imagem óbvia de tropicalidade, que tinham arara, plantas, areia, não eram para ser tomadas com uma escola… Foi exatamente o oposto que foi feito, todo mundo passou a pintar palmeiras e a fazer cenários de palmeiras e botar araras em tudo…”.

‘Seja marginal seja herói’, de Hélio Oiticica Foto: Divulgação
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Os Parangolés

Os Parangolés, também do artista brasileiro Hélio Oiticica, são um conjunto de obras que nasceram,como dito o artista , de “uma necessidade vital de desintelectualização, de desinibição intelectual, da necessidade de uma livre expressão

A visita ao Morro da Mangueira e o contato com a Estação Primeira de Mangueira colocou Oiticica em contato com o êxtase do samba, com seus ritmos dionisíacos e com uma comunidade organizada em torno da criação. “A partir da experiência com a dança, surge o parangolé, nome que Oiticica encontra em uma placa que identificava um abrigo improvisado, construído por um mendigo na rua, na qual se lia ‘Aqui é o Parangolé’.”[9] As capas coloridas continuam a afirmar a importância da cor e do movimento na obra do artista. Ocorre uma incorporação entre a obra e o participador dançarino. Dissolvem-se assim as fronteiras entre a arte e o corpo, entre o artista e o espectador, entre a obra e o espectador. Para Oiticica, tal integração seria capaz de conduzir o espectador a uma nova atitude ética, de participação, coletividade, e mudança


Veja também sobre a Tropicália:



Fontes


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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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