Movimentos

Arte de rua, criatividade e expressão na cidade



Arte Urbana, Arte de Rua ou Street Art é um movimento artístico cultural que acontece nas ruas das cidades, criando uma fusão entre arte, discurso, cotidiano social e paisagem urbana.

Sua expressão tem como pilar a liberdade artística pois não precisa de tempo, espaço, reconhecimento ou vernissages para acontecer. As superfícies ou os suportes das obras podem ser muros, viadutos, prédios, hidrantes, lixeiras ou ruínas.

Diferente da arte contemplada em museus e galerias, a Arte de rua enfrentou – e ainda enfrenta – muitas barreiras para conquistar respeito na sociedade. É uma forma de protesto nascida nas periferias, fruto da cultura underground e jovem, que surge com a necessidade de dar voz à parcela reprimida e menos favorecida da cidade por meio de uma linguagem poética, efêmera, subversiva e democrática.

Atualmente, é parte da arte contemporânea e seu objetivo de ressignificar espaços conquistou patamares pouco imaginados 50 anos atrás.



O que faz parte da Arte de rua

É quase instantâneo associar Arte de rua ao Grafite, mas diversas linguagens fazem parte dessa cultura. As principais são:

Grafite: Ilustrações em muros, fachadas de edifícios, túneis, viadutos ou ruas. Além dos tradicionais sprays, os artistas podem usar tintas, rolos, stencils e pincéis. De uns anos para cá, a criação de trabalhos em 3D vem crescendo pelo mundo, considerada uma inovação dentro do grafite.

Grafite 3D do artista Braga Last One na França.

Stencil: A prática é milenar, observada desde as pinturas rupestres. Enquanto técnica, o stencil começou no séc II, na China, e no séc VII passou a ser usado na produção têxtil. É uma máscara de papel, plástico ou metal com desenhos recortados em matriz negativa e pode ser reutilizada várias vezes.

Stencil Napalm Girl, de Banksy. Crédito: banksyart

Lambe-lambe: São cartazes com mensagens rápidas transmitidas por meio de desenhos, textos ou ambos. É produzido manualmente ou impresso em papel comum, aplicado com cola diluída em muros e postes. A aplicação repetida dos cartazes numa superfície grande cria um efeito visual peculiar e, é claro, amplia a mensagem.

Lambe lambe no Centro de Goiânia. Foto: Carla Falcão

Instalação ou intervenção: É uma exposição com tempo limitado, muitas vezes feita como ação de marketing. É o caso da Cow Parade, o maior evento de arte a céu aberto do mundo, que seleciona artistas para darem personalidade a uma escultura de vaca em tamanho real, feita de fibra de vidro. As obras são espalhadas pelas cidades, transformando espaços públicos em exposições e depois são leiloadas e seus recursos doados a instituições beneficentes.

Exposição CowParade na Rua; Leilão Beneficente CowParade. Créditos: CowParade Brasil

Música, teatro, dança, circo, estátuas vivas e poesia também são manifestações da Arte Urbana.


Qual a história da Arte Urbana?

Surgiu no início dos anos 70, nos Estados Unidos, quando os primeiros muros e vagões de trens foram grafitados no bairro do Harlem, em Nova Iorque.

No Brasil, o grafite chegou com o movimento estudantil ao final dos anos 70, usado como forma de protesto ao Regime Militar. Essa característica se replica em outros países latinoamericanos que também adotaram o grafite para protestar durante períodos ditatoriais.

Trem grafitado nos EUA nos anos 70 registrado pelos fotógrafos Martha Cooper e Henry Chalfant

As capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte foram os primeiros centros urbanos onde a arte ganhou espaço, mas, sem dúvidas, São Paulo se destacou e hoje atrai visitantes de todo o mundo para ver como a arte ressignificou uma cidade antes chamada de “cinza”.


São Paulo, referência mundial

Em São Paulo é possível contemplar obras imensas, coloridas e impactantes enquanto se desloca a pé, de bike, moto, carro ou ônibus. Hoje, milhares de artistas e produtores estão comprometidos em manter a cidade de São Paulo como a mais grafitada do mundo, além de capital mundial de Arte Urbana.

A tarefa não é fácil, já que o movimento ainda carrega os preconceitos daqueles que o consideram ilegal, vândalo ou marginal. A própria prefeitura de São Paulo já investiu muito dinheiro público em tinta cinza para apagar as artes. 

O prefeito João Doria apaga, pessoalmente, parte dos grafites em São Paulo, durante a Operação Cidade Linda em 2017. Foto de Suamy Beydoun/AGIF

Mas vamos lembrar que arte urbana é resistência e o que não falta é gente interessada nela. Bairros como Centro, Pinheiros, Cambuci, Bixiga, Vila Mariana, Mooca e Grajaú fazem parte de roteiros específicos para apreciadores.

Vale destacar que a Zona Norte, Zona Leste e Vila Madalena possuem museus a céu aberto criados por artistas, como o MAAU (Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo), a Favela Galeria e o Beco do Batman, respectivamente.


A conquista do Mercado de Arte

A Arte Urbana alcançou museus, galerias e leilões. O artista mais emblemático desta saga, sem dúvidas, é Banksy. Mesmo sem revelar sua identidade, ele ganhou destaque na arte mundial contemporânea com stencils carregados de ativismo e sarcasmo que começaram a ser vistos em Bristol, na Inglaterra e se espalharam pelo mundo. A genialidade de suas obras é tamanha que a pintura “Girl With Balloon” (Garota com Balão) foi leiloada em Londres e arrematada por 1 milhão de libras em 2018. Ao final do arremate, a obra se autodestruiu em frente ao público e três anos depois, voltou a ser leiloada e arrematada por 18,6 milhões.

Obra “Menina do balão”, de Banksy, arrematada por 18 milhões. Foto: Tolga Akmen / AFP

No Brasil, OsGemeos realizaram inúmeras mostras individuais e coletivas em museus e galerias sem perder suas características nascidas no grafite nas ruas. Ganharam reconhecimento internacional e já levaram seus desenhos inconfundíveis a países como Cuba, Chile, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Lituânia e Japão.

Exposição “Lyrical” dos artistas OsGemeos no Mattress Factory, museu de arte contemporânea nos Estados Unidos. Foto: osgemeos.com.br

Eduardo Kobra é outro artista que trouxe sua linguagem para novas esferas, a começar pelo Mural “Etnias”, realizado na Rio 2016, que entrou para o livro dos recordes como maior mural do mundo. Além disso, Kobra foi premiado no Sarasota Chalk Festival, o maior evento mundial de arte 3D e tem obras em exposições e museus de diversos países.

Mural Etnias, de Eduardo Kobra. Crédito: eduardokobra.com

Em 2021, aconteceu no Museu de Arte Sacra a exposição “Esperança”, uma mostra coletiva sob curadoria de Simon Watson, composta por trabalhos de diversos artistas contemporâneos, entre eles a artista de rua Mag Magrela. Com ilustrações voltadas para o universo feminino, Magrela trouxe para dentro do museu uma parcela do seu trabalho como muralista e também do seu estúdio. Para isso, fez uma pintura inacabada em grande escala, composta com outras obras aplicadas com fita adesiva na parede.

Arte de Magrela na Exposição Esperança no Museu de Arte Sacra. Foto: Silvia Balady


A conquista do espaço público, a coragem para protestar, a poesia em meio ao caos, a democratização da arte… Todas essas características dão à Arte Urbana o potencial de transformar a sociedade, já que são expressões necessárias para a construção de uma população mais feliz, consciente e reflexiva.


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Fontes


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Thais de Albuquerque

Thais de Albuquerque é Relações Públicas, artista visual e criadora de conteúdo. Atua há mais de 15 anos em marketing e criação de identidade visual para empresas, projetos e instituições. Em seu Instagram, desenvolve conteúdos autorais ligados a curiosidades sobre o mundo das artes.

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