O termo “naif” (ingênuo ou inocente, em francês) era frequentemente usado para classificar artistas e obras de arte como ingênuos, devido aos processos autodidatas ou espontâneos, que não seguem as regras tradicionais de representação de imagens, além de também não estarem inseridos em ambientes acadêmicos e oficiais da arte.
O termo foi empregado pela primeira vez como uma crítica negativa direcionada à produção do francês Henri Rousseau (1844 – 1910), artista autodidata que iniciou a sua produção aos 40 anos e foi extremamente reprovado devido à sua falta de adequação às tradições artísticas.
Apesar de ter sido rotulado como grotesco, diversos artistas renomados como Robert Delaunay (1885 – 1941), Guillaume Apollinaire (1880 – 1918) e Pablo Picasso (1881 – 1973) valorizaram e elogiaram o trabalho de Rousseau.
As obras do artista não eram aceitas no Salão de Paris, fazendo com que Rousseau expusesse seu trabalho no Salon des Indépendants (Salão dos Independentes). A partir disso, outros artistas autodidatas e amadores começaram a expor suas produções no mesmo espaço.
Segundo o pesquisador Jacivaldo Machado (2017):
“Utilizando como fonte de inspiração o universo do imaginário coletivo, a iconografia popular presente nas festas populares, as paisagens regionais que mostram a flora, a fauna, aspectos arquitetônicos e a gente do lugar, de forma idealizada, os naïfs retratam a vida cotidiana de espaços com forte vínculo com o seu existir, sua arte faz alusão ao passado e presente como forma de expressar a celebração da vida. Respaldados pela liberdade estética e o fazer livre, os artistas naïfs resolvem as dificuldades técnicas sem o auxílio de normas pré-estabelecidas, concebem e produzem a sua arte livre de convenções ditadas pelo campo das artes visuais”.
Através do tempo, os aspectos criticados do estilo Naif tornaram-se razão de apreciação no universo das artes. A legitimação e valorização da Arte Naif pelos circuitos tradicionais fez com que artistas com formações eruditas se apropriassem das técnicas e procedimentos característicos da estética Naif.
No século XX, a Arte Naif é reconhecida como uma modalidade artística específica e se desenvolve no mundo todo, especialmente nos Estados Unidos, no Haiti e na antiga Iugoslávia. No Brasil, artistas como Maria Auxiliadora (1935 – 1974), Heitor dos Prazeres (1898 – 1966), Djanira (1974 – 1990), José Antonio da Silva (1909 – 1996), Maria do Santíssimo (1890 – 1974), entre outros, foram grandes nomes da Arte Naif brasileira.
Em 1969, o crítico de arte francês, Anatole Jakovsky já constata a força do Naif no território nacional: “O Brasil representa, junto com a França e com a Iugoslávia, um dos reservatórios mais ricos e variados da Arte Naif no mundo.”
Conhecidos também como primitivistas, os artistas naïves brasileiros são notáveis pelo autodidatismo e uma originalidade ímpar ao se tratarem da representação de imaginários populares locais.
Através de técnicas únicas, o artista naif brasileiro pinta a cultura que os circunda, sem preocupações formais perante a prática da pintura. O foco temático em floras, faunas e festas populares reforça a importância dos elementos culturais que constituem a relação do artista com o mundo.
No Brasil, o movimento ganha força em meados dos anos 50. Apesar de não ter recebido o reconhecimento merecido na época, já que os salões de arte não valorizavam as obras de pessoas que se situavam fora do circuito tradicional de arte, atualmente temos a Galeria Jacques Ardies (São Paulo-SP) e o evento BÏNaif (Bienal Internacional de Arte Naïf) que se dedicam exclusivamente ao movimento Naif.
Henri Rousseau (1844 – 1910), nascido na França,começa a dedicar-se exclusivamente à arte em 1890. Após ter passado por escritórios de advocacia, a prisão e o exército, o artista autodidata aficionado pela natureza bucólica e a realidade simples se aventura dentro de um universo pictórico de cores contrastantes.
Nikifor (1895 – 1968), nascido na Polônia, foi pintor por quase toda sua vida, apesar de ter sido reconhecido apenas no final dela. Através de bastante esforço para aperfeiçoar suas habilidades, o autor produziu mais de 40.000 pinturas. Os tópicos de sua arte incluem autorretratos, panoramas de Krynica, as arquiteturas das igrejas ortodoxas e católicas.
Djanira da Motta e Silva (1914-1979), nascida em Avaré-SP, foi uma pintora, cartazista, desenhista e gravurista. A sua produção inicial de 1940 tem como característica a sua vida no bairro carioca de Santa Teresa, paisagens, amigos e festas de rua. Nos anos 1950, viaja pelo país com o intuito de retratar a diversidade nacional. Nesse período, ela realiza um grande número de pinturas, de colhedores de café, vaqueiros, mulheres no campo e na praia, índios, tecelões, oleiros e trabalhadores de usinas de cana-de-açúcar. Nos anos 60 e 70, retrata operários da indústria automobilística e mineiros.
Maria Auxiliadora (1935 – 1974), nascida em Campo Belo-MG, era filha de Maria Trindade de Almeida Silva (1909-1991), escultora, pintora, poeta e bordadeira. Muda-se com 3 anos para São Paulo junto aos seus pais. Aos 12 anos, abandona os estudos para trabalhar como empregada doméstica para ajudar a família e depois como bordadeira. Durante sua vida, interessou-se pelas artes, mas foi com 32 anos que se dedica integralmente à sua pintura. Passou pelas feiras de artes da praça da República, no centro de São Paulo, além da cidade de Embu das Artes, lugares em que encontrou espaço para expor sua obra. Uma técnica singular se tornou sua assinatura: misturando tinta a óleo, massa plástica e mechas do seu cabelo, a artista construía relevos na tela.
Waldomiro de Deus (1944-), nascido em Itagibá-BA, não é um personagem comum. Em 1982, a Galeria Jacques Ardies realizou uma exposição individual do artista e a obra principal “A travessia de balsa”, um quadro de alto valor e de mais de 2,5 metros de largura, foi adquirido pelo Museu da FAAP. Waldomiro retrata temáticas variadas em suas obras, como a denúncia de políticos corruptos, os assaltos e estupros, mas também temas mais leves como festas populares e faunas regionais.
Rosina Becker do Valle (1914 – 2000), nascida no Rio de Janeiro-RJ, tinha como tema de suas obras as danças, as festas folclóricas e santos com roupagens coloridas e vividas. Em 1955, abandona a vida de dona de casa para pintar. Matricula-se na escola do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e, em torno de dez anos mais tarde, já ocupava espaços como a Bienal de São Paulo.
Raimundo Bida (1972 – ), nascido em Nazaré das Farinhas-BA, começa a desenvolver seus dotes artísticos na infância. Em 1988, a sua primeira participação na exposição coletiva “Iº Expo Natura na Galeria Abrigo da Arte em Salvador, Bahia” chama atenção por suas paisagens solares e plantações de cacau com cores vivas e contrastantes. Em 1991, recebe o prêmio-aquisição na Primeira Bienal do Recôncavo no Centro Cultural Dannemann em São Félix, Bahia.
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